O pensamento de que a Catedral de Apucarana, no norte do Paraná, foi construída exatamente sobre um vulcão, que hoje estaria adormecido, mas poderia acordar e entrar em erupção a qualquer momento, faz parte da história do município. Pesquisadores apontam que a lenda é passada de geração em geração, desde a fundação da cidade. Veja entrevista em vídeo abaixo.
Motivo de medo para alguns e de curiosidade para outros, a história também é tema de estudos e pesquisas. Um desses estudos está relacionado com o Atlas Municipal Escolar Histórico, Geográfico e Ambiental de Apucarana, realizado pela professora e doutora em Geografia Maria do Carmo Carvalho de Faria, que produziu o trabalho como tese de doutorado.
As pesquisas envolvendo o Atlas contribuíram para que, entre diversos outros aspectos, fosse possível concluir que não existe hoje, nenhum vulcão na cidade de Apucarana e muito menos sob a Catedral. No entanto, há 145 milhões de anos, eles já estiveram presentes em Apucarana e outras cidade vizinhas. Segundo a professora Maria, esse passado vulcânico pode ter servido de influência para que as pessoas começassem a falar que existe um vulcão na cidade hoje em dia.
“O relevo da nossa região foi formado na Era Mesozoica, no período Cretáceo, quando houve muitas erupções vulcânicas na nossa região. Isso significa que, não só em Apucarana haviam vulcões, mas pegando também desde o sul de São Paulo, até a região de Maringá, era uma região vulcânica. Ou seja, há 145 milhões anos, onde nós estamos hoje em dia, era dominado por vulcões”, disse a professora.
As erupções vulcânicas ocorridas na Era Mesozoica deixaram evidências que podem ser vistas até hoje. Segundo a professora, a terra roxa e as rochas de basalto, que é a solidificação da lava vulcânica, são demonstrações da existência de vulcões na região.
No entanto, apesar de outros municípios próximos também terem possuído vulcões, a lenda da existência de um vulcão nos dias de hoje se iniciou e permaneceu ao logo do tempo, com mais força em Apucarana. Segundo a professora, isso pode estar relacionado com a altitude da cidade.
“Em relação aos outros municípios da nossa região Apucarana está mais alta, sendo até chamada de “Cidade Alta”. Pode ser por conta disso. Desde que eu era pequena eu já ouvia histórias de que a Catedral de Apucarana está sobre um vulcão. Mas isso já foi há muito tempo, há milhões de anos”, afirmou.
Além da ideia do suposto vulcão sob a Catedral, uma abertura no solo, onde brota água do lençol freático, formando uma espécie de lago, localizado nas proximidades da Fazenda Colina, foi apelidada por moradores da cidade como “Boca do Vulcão” por conta da sua aparência.
Porém, ainda conforme a professora Dra. Maria, a possibilidade de que o lago esteja relacionado com algum vulcão pode até ter embasamento, mas isso não quer dizer que exista um vulcão no local atualmente. “Pode ter acontecido um vulcão lá (Fazenda Colina) e ficou a cratera, mas isso há muito tempos atrás. Com as intempéries climáticas, como chuvas, ventos e o terremoto que acontecem por conta dos abalos dos vulcões que tinham na região, esse solo foi sendo abalado. Pode ser que ali ficou um lago, que depois foi preenchido de água”, disse.
Toda essa relação da cidade com um suposto vulcão adormecido, juntamente com as curiosidades que a história provoca, faz parte constante do dia a dia da professora. “Quando me perguntam: mas você é professora do que? Eu falo que sou professora de geografia. Em seguida me perguntam se moro em Apucarana, e quando eu respondo logo me perguntam: mas é verdade que tem um vulcão lá em Apucarana? Então já é uma das primeiras perguntas que todo mundo me faz”, conta ela.
A professora é categórica ao trazer tranquilidade quanto ao assunto. “Podem dormir tranquilas, podem irem à Catedral tranquilamente, porque os vulcões de antigamente já não existem mais. Houve, sim, um período em que nós passamos por erupções vulcânicas, há 145 milhões de ano. Atualmente já não temos mais possibilidades de ter essas erupções vulcânicas. Mas é muito gostoso esse mito de Apucarana. E acredito que isso vai continuar por muito tempo, porque vai passar de geração a geração. E as pessoas gostam de falar isso, faz parte do cenário afetivo do município”, finalizou.
Por Gabriel Carneiro