Para além de livros, documentos e qualquer outro registro material, os 80 anos de Apucarana estão muito bem guardados nas mentes de três pioneiros que viveram a vida toda na cidade. Satio Kayukawa, Edite Balan e Eli Holak são três apucaranenses com tamanha intimidade com Apucarana, que chegam a compartilhar praticamente a mesma idade do município.
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Satio e Edite já completaram 80 anos, pois nasceram em 1943, no mesmo ano que Apucarana foi criada pelo decreto estadual nº 199, assinado em 30 de dezembro de 1943 pelo então interventor Manoel Ribas. Já Eli, tem 79 anos – ela nasceu em maio de 1944, mesmo ano da instalação da cidade.
Hoje, eles ajudam a contar a história de uma Apucarana que foi, de uma localidade de dezenas de casas de madeira no meio da terra vermelha, para uma das maiores cidades do Paraná.
Mas apesar da identificação natural com Apucarana, a origem do trio é estrangeira. Edite e Eli compartilham ancestrais ucranianos, enquanto os pais de Satio eram japoneses. As duas etnias, inclusive, são as que concentraram maior número de imigrantes na formação do município.
A primeira dos três a nascer foi Edite, que veio ao mundo no dia 21 de junho de 1943. Apesar de o nascimento de fato ter acontecido em um hospital de Londrina, logo em seguida ela voltou para Apucarana, mais especificamente para a antiga Rua Prudentópolis, onde hoje é a Rua Renê Camargo de Azambuja.
Pouco mais de seis meses depois, na fazenda da família, em uma região onde hoje é o Jardim Europa, nas proximidades do Lago Jaboti, nasceu Satio Kayukawa, no dia 20 de dezembro de 1943, exatos dez dias antes do decreto que criou a cidade. Eli veio no ano seguinte, em 7 de maio de 1944.
A proximidade de idade fez com que os três compartilhassem semelhanças de vida e vivências na cidade. Seja por estudarem no mesmo colégio, no Nilo Cairo, quanto pelas lembranças, como ocorre no caso do chamado “buracão”, que havia na cidade e é lembrado pelo três.
“Naquele tempo a gente ia a pé para escola. Dia de chuva a gente tinha que colocar um plástico na alpargata. E eu lembro do buracão da Vila Brasil, que era um buracão enorme. Ficava na baixada do sentido da prefeitura para o cemitério”, relembrou Satio.
Já no ensino médio, Edite e Satio chegaram a ser colegas de turma durante o curso de ciências econômicas, na época ofertado na instituição onde hoje está instalado o Colégio Izidoro Luiz Cerávolo. Edite não chegou a terminar o curso e foi se formar em outros cursos anos depois. Satio terminou a ciências econômicas e foi estudar contabilidade, curso ao qual Eli Holak também completou no ensino superior.
Profissionalmente, o trio teve caminhos distintos. Satio dedicou praticamente toda a vida na política apucaranense, sendo vereador por 7 mandatos – até hoje o legislador mais longevo da política local. Eli chegou a ser professora, foi secretária da Fazenda de Apucarana e a primeira mulher a se candidatar em uma eleição para a prefeitura da cidade em 1997. Mas ela passou a maior parte da vida no escritório de contabilidade da família. Com 53 anos de atividade, o Escritório Setor continua sendo gerido por Eli.
Por fim, Edite foi a mais diversificada de todas do ponto de vista profissional. “Eu sempre procurava ganhar dinheiro. Fui professora, já tive padaria, floricultura, escola de datilografia, de informática”, conta.
Lembranças e amor pela cidade
Em meio aos estudos e trabalho, pelo fato de viverem toda a história de Apucarana, os três acompanharam de perto o desenvolvimento da cidade e tem suas memórias favoritas da cidade.
“Muitas coisas marcaram. Eu lembro que o seu Nestor Balan, que era o pai da Edite, tinha um armazém na esquina perto de casa. A gente viu crescer tudo, viu construir a praça da catedral, a Manoel Ribas. Quando chegava no domingo a gente ia na missa e depois a gente ia circular na praça. Eu cheguei a conhecer a igrejinha velha, não a primeira que caiu, mas a segunda, que também era de madeira e a gente frequentava, eu fiz a minha primeira comunhão lá”, afirmou Eli Holak, referindo-se à atual Catedral Nossa Senhora de Lourdes.
Entre as vivências e histórias que todos eles possuem em Apucarana, se sobressai o orgulho e o carinho que carregam pela cidade, que nasceu e cresceu junto com os três. “Eu tenho muita gratidão ao povo de Apucarana. Eu vi o município nascer e cresci junto com a cidade”, afirmou Satio.
O mesmo sentimento é compartilhado por Edite e Eli, que ressaltaram a vontade comum, quando morrerem, ser enterradas na cidade que nasceram e viveram toda a vida.
“Eu gosto muito de Apucarana. Não gostaria de morar em outro lugar e mesmo se eu fosse, eu queria morrer na minha cidade”, disse Eli.
Já Edite tem tanta a certeza que passará o resto da vida na cidade, que já comprou até um terreno no cemitério. “Eu amo Apucarana de coração. Não trocaria de cidade de jeito nenhum. Eu já até comprei um terreno lá no cemitério. Então, eu tenho certeza que eu vou ser enterrada aqui”, finalizou a apucaranense, que escreveu um livro de memórias sobre sua vida e a relação com a cidade. Na capa do livro, não à-toa, ela escolheu uma foto dela junto ao painel do Parque Lago Jaboti com os dizeres: Eu Amo Apucarana.