O acidente aéreo nos Alpes Franceses causado por um copiloto suicida que resultou na morte de 150 pessoas completa 10 anos nesta segunda-feira (24). A tragédia ocorreu em 2015 e envolveu um Airbus A320 da Germanwings, uma subsidiária da companhia aérea alemã Lufthansa, que fazia um voo entre Barcelona e Düsseldorf.
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A aeronave se chocou de frente com uma cadeia de montanhas matando as 150 pessoas a bordo, sendo 144 passageiros e seis tripulantes.
Após investigação conduzida pelo Birô Francês de Aviação (BEA) concluiu-se que todos os equipamentos da aeronave funcionaram normalmente. A conclusão foi que Andreas Lubitz, copiloto do voo, esperou o comandante sair da cabine para ir no banheiro. Então, trancou a porta da cabine de pilotagem por dentro e pilotou a aeronave até o choque contra as montanhas.
Lubitz, de 27 anos, era considerado um aluno acima da média pelos instrutores durante seu treinamento. Era sabido, entretanto, que ele havia interrompido sua formação por quase um ano, entre 2008 e 2009, para tratar um episódio de depressão.
Ele foi contratado pela Germanwings assim que se formou, e seus colegas jamais relataram qualquer episódio grave no trato pessoal. A investigação do episódio descobriu, porém, que ele voltou a buscar tratamento médico em dezembro de 2014.
Ao buscar atendimento particular, Lubitz estava protegido pela relação de confidencialidade entre médico e paciente, e o piloto não reportou seus problemas de saúde à companhia aérea, como deveria ter feito.
Ele enfrentava questões mais graves, no entanto. Foi encaminhado para um psicólogo e um psiquiatra no início de 2015. Ele também reclamava de problemas de visão, que poderiam ter colocado um fim à sua carreira de piloto, mas existe a possibilidade de que este tenha sido sintoma de um episódio psicótico.
Semanas antes de voar para Barcelona, o psiquiatra com o qual consultava produziu um diagnóstico de possível depressão psicótica. Sem o conhecimento da Germanwings, ele iniciou tratamento com antidepressivos, os quais podem acentuar os sintomas nas primeiras semanas, antes de produzir o efeito desejado.
Além disso, o piloto relatou que tinha insônia severa e quase não dormia. Ele seria impedido de atuar caso a companhia aérea tivesse conhecimento de qualquer um dos seus problemas de saúde.
Uma década depois, os investigadores acreditam que o copiloto, sofrendo de doença mental, estava "obcecado" com um "medo infundado" de sua carreira entrar em colapso. Tendo pesquisado outras maneiras de morrer, ele escolheu acabar com sua vida - e com as pessoas a bordo - com o "instrumento" que ele havia "dominado" porque o considerava "seguro".
O ACIDENTE
No dia 24 de março, Lubitz decolou de Düsseldorf com destino a Barcelona ao lado do comandante Patrick Sondenheimer, de 34 anos. O primeiro voo do dia entre Alemanha e Barcelona foi realizado sem problemas. Investigações apontam que, em um momento no qual Sondenheimer saiu da cabine, porém, Lubitz alterou o comando de altitude da aeronave para 30 metros e depois para 14,6 mil metros, o máximo possível naquele Airbus. Mas o avião estava em piloto automático, e a aeronave se manteve na mesma direção, de acordo com a investigação.
O voo de volta do aeroporto de Barcelona El Pratt tinha a mesma tripulação. Contudo, ficou decidido que, naquela perna, Lubitz, apesar de copiloto, seria responsável por pilotar o avião, enquanto Sondenheimer se encarregaria da navegação e da comunicação. Esse expediente é usual na aviação, já que ambos os pilotos têm permissão e certificação para voar.
A decolagem ocorreu sem problemas, e o A320 entrou em altitude de cruzeiro, a 11,5 mil metros, entrando no espaço aéreo francês.
O relatório final realizado com base nas conversas gravadas pela caixa-preta, aponta que Lubitz passou a ficar mais lacônico na comunicação com seu colega, até que ele lembrou seu colega de que ele não tinha ido ao banheiro durante a parada na Espanha.
Após a saída de Sondenheimer da cabine, Lubitz trancou a porta e remanejou a altitude do voo para apenas 30 metros, uma altitude incompatível com aquela fase do voo. Nos minutos seguintes, ele também retirou o controle de velocidade do modo automático e acelerou gradativamente a aeronave.
O movimento não foi sentido imediatamente pelos passageiros, mas a torre de controle de Marselha percebeu —e indagou mais de dez vezes sobre a saída do plano de voo, sem receber qualquer resposta. Outras aeronaves nas redondezas também tentaram contato por rádio, e até mesmo a Força Aérea Francesa chegou a ordenar a decolagem de um caça para interceptar o Airbus.
Lubitz não disse uma palavra, mas pelo rádio era possível ouvir sua respiração, aparentemente tranquila.
Sondenheimer voltou do banheiro e tentou entrar na cabine, mas a encontrou trancada. Ele bateu na porta diversas vezes, gritou e até pediu ajuda dos comissários, sem sucesso. Ao perceber pela escotilha a perda de altitude, a investigação presume que ele começou a ficar preocupado –a descida se dava rapidamente para os padrões da aviação comercial.
A preocupação do comandante precipitou o desespero entre comissários e passageiros. Sondenheimer também tentou abrir a porta por meio de um código, mas, por estar fechada por dentro, sua tentativa foi inútil. Em uma última ação desesperada, ele até tentou usar um objeto para golpear a porta, que não cedeu. Em uma questão de minutos, o Germanwings saiu de sua altitude de cruzeiro para explodir contra as montanhas.
FAMÍLIA DE COPILOTO NEGA
A família de Lubitz contesta as conclusões da investigação oficial do BEA e alega, com base em um relatório produzido a pedido do pai de Andreas, que a respiração do copiloto indicaria perda de consciência, e que a perda de altitude se deu por um problema que já havia sido relatado antes em aeronaves A320. Uma outra falha também teria trancado a cabine por dentro.
Com informações do G1 e Daily Mail Online.