Brigas de galos resistem ao tempo em Apucarana

Autor: Da Redação,
quarta-feira, 27/06/2018
Galos ficam presos em gaiolas nos fundos de rinha - Foto: Divulgação/Polícia Militar Ambiental - Imagem ilustrativa/arquivo

As brigas de galos ainda são praticadas em várias cidades do Brasil, apesar de proibidas por lei. As rinhas atraem muitos apostadores e movimentam quantias significativas de dinheiro. Em Apucarana (norte do Paraná) muito simpatizantes da atividade criam galos de briga e possuem algumas rinhas.

Toro tem só 13 meses, mas já é preparado para se tornar, quem sabe, um campeão. Tem exercícios quase que diários, toma banho de sol regularmente e recebe um cuidado todo especial na alimentação. Daqui a mais cinco meses toda sua preparação será colocado à prova. Toro é um galo de briga, ou de rinha, como é chamada a modalidade em que galos novos e fortes são colocados para combater. 

A ave é um dos cerca de 30 galos de rinha que Carlos (nome fictício) mantém no quintal da própria casa, na periferia de Apucarana. “É uma paixão que vem desde criança. Comecei a pegar gosto pelas brigas de galos ao acompanhar meu avô até as rinhas”, relata.

“A natureza desses galos é de briga. Não tem jeito, você pode colocá-los em qualquer situação que eles irão brigar. É por isso que tem que colocá-los para treinar”, justifica. O treinamento é feito com proteção à cabeça e nas esporas do galo, para evitar ferimentos. 

Os galos são mantidos num local que impossibilite que um veja o outro, se estiverem próximos. Quando isso acontece é confronto certo. “É um instinto. Eles têm que ficar de uma maneira que um não se aproxime do outro”, acrescenta Carlos.

Agressividade desde pequeno
A agressividade vem desde pequeno. Os pintos só podem ficar juntos até os sete meses. “Se passar disso, eles se matam de brigar”, diz o criador. E essa agressividade natural atrai apostadores, curiosos, apaixonados e criadores. 

Com regras e juízes e uma nomenclatura especial para definir equipamentos de treino e golpes usados nas rinhas. Um combate é feito em tempos de 20 minutos, com intervalos de dez minutos para que os animais se refresquem. Depois são mais 20 minutos. Mais quinze de descanso e mais quinze de combate. Há nocautes ( o tuck), fugas e raras mortes. “Quando um juiz percebe que o galo está sem condições de reagir abre uma espécie de contagem”, explica Carlos.

Assim como Carlos, outros criadores de galo mantém instalações em seus imóveis para abrigar os "lutadores". "Vou à briga de galo há mais de 20 anos e não vejo problema algum nisso, pois sou apaixonado pela briga de galo; é muita adrenalina", afirma o profissional liberal Nelson, que também é galista e reside em bairro na zona sul de Apucarana

'Paixão proibida'
Mas essa é uma paixão considerada ilegal, no entanto. No Brasil, as brigas de galo estão proibidas desde 1934, com a edição do Decreto Federal 24.645, que proibia “realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou de espécies diferentes, touradas e simulacro de touradas, ainda mesmo em lugar privado”.

O presidente Jânio Quadros entrou para o anedotário popular nos anos 60 por tentar levar a lei ao extremo, como se um presidente não tivesse coisas mais importantes para lidar.

Há também o Decreto Lei 3.688/41 - Lei das Contravenções Penais (artigo 64), que diz que “tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo”. A Constituição Federal, no artigo 225 diz que é incumbência do poder público a responsabilidade de “proteger a fauna e a flora vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade”.

Descriminalização
Em 1998, a Lei de Crimes Ambientais fez com que a atividade deixasse de ser apenas contravenção penal para crime. Desde então, os “galistas”, denominação dada para os praticantes desta atividade, tentam alterar a legislação, descriminalizando as rinhas de galo e os rodeios. É uma luta com poucas possibilidades de vitória, mas que abre margem para decisões contraditórias.