Preparador de cadáveres. Nem de longe seria uma das profissões mais cobiçadas, mas não é o que acontece em Apucarana (norte do Paraná). O número de candidatos inscritos no concurso público da Prefeitura para esse cargo surpreendeu. São 1.152 interessados para duas vagas. É o segundo posto mais concorrido, ficando atrás somente de auxiliar administrativo, que teve 1.960 inscritos. A explicação é simples, segundo o diretor da Autarquia de Serviços Funerários de Apucarana (norte do Paraná), Marcos Bueno: o salário atrativo. “É uma das melhores remunerações entre os cargos do concurso”, afirma.
O valor do salário é de R$ 2.526,81, com exigência de ter somente o ensino fundamental. Entretanto, quem trabalha na área garante que a profissão exige muito mais. Entre os itens essenciais, os preparadores de cadáveres da Aserfa, Carlos Ferreira de Andrade, de 56 anos, e Anco Márcio Terra, 44, elencam profissionalismo, empatia, ética, controle emocional, “estômago forte” e, claro, não ter medo de mortos.
Márcio, como é mais conhecido, tem 13 anos de profissão e garante que o profissionalismo é indispensável como em qualquer área. “Algumas vezes também exige discrição. É preciso entender que aquele corpo pertenceu a uma pessoa, que tem uma história e é importante para seus familiares. Além disso, o respeito é imprescindível”, diz.
Carlinhos, como é chamado popularmente, garante que a empatia também é essencial. “Com o tempo é comum conseguir controlar mais o emocional, mas não podemos correr o risco de perder a empatia, porque é um momento muito difícil para os familiares, principalmente quando a morte envolve crianças e adolescentes ou quando é violenta”, observa ele, que e trabalha há 12 anos como preparador de cadáver.
Carlos Ferreira de Andrade e Anco Márcio Terra, 44, são
preparadores de cadáveresFoto: Delair Garcia
Sem mistério
No exercício da profissão, que naturalmente desperta uma certa curiosidade, eles garantem que não têm mistério nenhum, nem histórias de assombração para contar da rotina de um trabalho que suaviza a dor de quem fica.
Neste sentido, uma das tarefas mais corriqueiras é a maquiagem. Em casos de mortes violentas ou mesmo de pessoas que ficaram internadas algum tempo e ficam com marcas de alguns procedimentos, a maquiagem ameniza essa marcas tornando a aparência mais serena. “Aprendemos identificar o tom da pele e usar a base mais apropriada. A maquiagem é só para dar um tom mais natural”, diz Márcio.
Anco Márcio Terra separa esquife na Aserfa, em Apucarana
Foto: Delair Garcia
Familiares agradecem
Em casos de mortes violentas, segundo os preparadores, após o processo de preparação, alguns familiares chegam a agradecer. “Nós fazemos o melhor, para que seja possível para a família velar o seu ente querido com a urna aberta”, diz Márcio.
Sobre ter “estômago forte”, Mário e Andrade explicam que em muitos casos é preciso lidar com corpos em decomposição. “Têm pessoas que já chegaram aqui, mas não conseguiram trabalhar nenhum dia. Isso aqui não é uma questão de dinheiro, de salário”, afirma Andrade.
Pessoas conhecidas
Outro risco rotina é se deparar com pessoas conhecidas, inclusive colegas de trabalho e familiares. Os dois, por exemplo, já encontraram vizinhos e amigos na mesa de procedimentos. Hoje, a Aserfa tem 10 preparadores ocupando o cargo, sendo três mulheres.