DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - O presidente catalão, Carles Puigdemont, descartou nesta quinta (26) a possibilidade de antecipar as eleições regionais, deixando aberto o caminho para que o governo espanhol o retire do cargo e destitua toda seu gabinete.
O anúncio foi feito em um discurso bastante esperado, após os rumores de que Puigdemont cederia à pressão de Madri e convocaria eleições regionais em dezembro.
O presidente afirmou que cogitara a possibilidade mas desistira por não haver garantias, por parte do governo espanhol, de que deixaria de intervir na Catalunha.
Com a recusa de Puigdemont, parece inevitável que o Senado aprove nesta sexta (27) um pacote de intervenções pontuais na autonomia catalã, tirando o presidente catação do cargo e forçando eleições em seis meses.
O Parlamento regional catalão se reunirá em paralelo para debater sua reação.
Uma das saídas que restam a Puigdemont, se de fato não antecipar as eleições, é declarar a independência da Catalunha de maneira unilateral. Com isso, porém, ele pode ser acusado de rebelião pelo Ministério Público, crime que leva a até 30 anos de prisão.
"A sociedade catalã nos trouxe até aqui. Tentei ter serenidade e esgotar todas as opções que tinha em mãos", afirmou Puigdemont. "Ninguém pode dizer que não fiz sacrifícios pelo diálogo."
MOEDAS DE PRATA
Havia a possibilidade de que a aplicação do Artigo 155, que limita a autonomia, fosse interrompida se Puigdemont antecipasse as eleições.
A decisão de fechar essa porta pode ser resultado da pressão dos grupos separatistas que o mantêm no cargo: integrante do Partido Democrata Europeu Catalão, Puigdemont governa com o apoio da CUP (Candidatura de União Popular), de extrema esquerda, e da Esquerda Unida, que rechaçam a antecipação da votação de 2019.
"O movimento independentista tinha até agora um problema, o Estado espanhol. Com eleições, teremos outro problema, que será o governo catalão", disse o deputado Carles Riera, da CUP.
Gabriel Rufián, deputado da Esquerda Unida, sigla do vice-presidente Oriol Junqueras, comparou a possibilidade de antecipar eleições com a traição de Judas Iscariotes, que segundo a Bíblia entregou Jesus por 30 moedas de prata. Rufián mencionou "155 moedas de prata", em referência ao Artigo 155.
Caso antecipasse as eleições, Puigdemont não enfrentaria apenas a ira de seus aliados. Ele teria de se explicar também às multidões que mobilizou durante os últimos meses a fim de separar a Catalunha da Espanha.
Um plebiscito em 1º de outubro, considerado ilegal por Madri, teve 43% de participação do eleitorado, dos quais 90% votaram no "sim". Centenas de milhares foram às ruas de Barcelona desde então defender a secessão.
Nesta quinta, com o rumor de eleição antecipada, estudantes fizeram protestos pela demissão de Puigdemont, a quem chamam de "traidor".
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