O repórter policial Donatto Cândido, de Faxinal (PR), descreveu os momentos de desespero durante a cobertura jornalística do acidente que matou sua filha caçula, Kamilly Vitória Cândido, de 21 anos. Em entrevista ao TNonline concedida nesta terça-feira (26), o comunicador revelou porque decidiu abrir uma transmissão ao vivo do acidente para compartilhar sua tragédia pessoal com o público. Assista a entrevista em vídeo no fim do texto.
Cândido conta que na sexta-feira (22), recebeu a ligação de uma fonte informando sobre um grave acidente ocorrido na PR-272, saída para Mauá da Serra. O comunicador lembra que seu informante chorava muito, mas como a ligação estava com sinal ruim, não foi possível compreender os detalhes. De imediato, Donatto imaginou que pudesse ser algo envolvendo seu filho ou seu sobrinho que fazem aquele trajeto diariamente. "Ele me disse que era um acidente perto da Coamo e estava chorando muito. Depois não ouvi mais nada", relata.
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Chegando no local do acidente, uma pessoa deu os pêsames ao repórter. Somente naquele momento ele lembrou que sua filha caçula havia sido contratada em um emprego temporário naquela empresa. "Quando cheguei mais próximo, vi a moto e logo pensei na Kamilly. Mas não sabia que estava em óbito. Quando olho mais para frente, vi a manta térmica e já fiquei em choque", relata.
Ao se dar conta da morte da filha, Donatto insistiu para ver o corpo e confirmar o falecimento de Kamilly. "Ele tirou a manta e eu vi o rostinho dela. Dei um beijo e disse 'vá com Deus, minha filha'", recorda emocionado.
Comunicador regional, Donatto explica que decidiu fazer uma transmissão ao vivo do acidente para compartilhar a imensa dor com seu público. “Eu decidi abrir a live para mostrar para pessoas. O que eu mostro delas, vou mostrar de mim, pois a reportagem é a minha vida”, justifica.
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Ele soube que recebeu algumas críticas pela transmissão, mas não se arrepende. “De coração, quero que essas pessoas sejam perdoadas por Deus. Eu fiz por um ato de profissionalismo, de querer repartir a minha dor com todo mundo. Queria que todos vissem o momento que eu estava passando. As minhas redes sociais eu não recebo um centavo. Tenho site aberto, trago informações em geral do Vale do Ivaí, por enquanto não recebo um centavo de rede social. Não fiz para ganhar dinheiro. Aquilo foi um ato de choque, no meu interior acho que não fiz errado. Mostrei para as pessoas o que eu estava passando naquele momento”, afirma.
Filha caçula, Kamilly havia trancado a faculdade de biomedicina após ficar desempregada. Em sua última conversa sobre trabalho com o pai, ela disse que iria fazer o possível para ser efetivada no emprego. “Apesar de ser um serviço temporário, ela ia fazer de tudo para que a empresa visse o esforço dela para continuar trabalhando, para poder destrancar a matrícula e continuar estudando. Sou suspeito de falar. Por onde ela passava, ela mudava o ambiente. Além de linda. Ela era a princesa dos irmãos”, afirma.
O ACIDENTE
De acordo com informações de Donatto, Kamilly teria acabado de sair do trabalho na cooperativa quando colidiu frontalmente a motocicleta Honda Biz que pilotava contra o Palio com placas de Arapongas. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada, mas o impacto da colisão foi violento e a jovem não resistiu aos ferimentos.
Cândido conta que acompanhou o teste do bafômetro realizado no motorista do Palio que deu negativo para consumo de álcool. "Ele me pediu perdão, mas eu não tenho que perdoar ele. É um acidente, o que eu vou fazer. Ele disse que quando viu estava de frente com ela e que de longe ele não viu luz. Por isso eu acho que ela estava no acostamento e quando saiu para pista deu de cara com ele", comenta.
Conforme informações do delegado Ricardo Mendes, o condutor de 39 anos e a esposa, que são de Arapongas, foram a Faxinal visitar um parente que está internado no Hospital Juarez Barreto. No retorno para casa, o motorista relatou que trafegava abaixo do limite de velocidade quando o acidente ocorreu.
Assista o vídeo: