Os juros futuros fecharam a terça-feira com viés de baixa, após serem pressionados para cima ao longo da manhã pelo ambiente externo e pelo risco do cenário fiscal. O alívio coincidiu com a melhora do câmbio, com o dólar se firmando abaixo de R$ 5,50, também na segunda etapa, que não teve maiores novidades no noticiário que justificassem o abandono da cautela.
Os rendimentos dos Treasuries seguiram em alta até o fim do dia, em meio a dados de atividade surpreendentes, mas que não chegaram a abalar a confiança do mercado no corte de juros em 0,5 ponto porcentual pelo Fed amanhã. As apostas para o Copom também desta quarta-feira seguem consolidadas numa alta de 0,25 ponto.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 10,945%, de 10,961% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,78%, de 11,83% ontem. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 11,81% (11,85% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2029 ficou estável em 11,96%.
Nas mesas de renda fixa, o exterior foi visto hoje como o grande driver para os negócios. As taxas começaram o dia rondando a estabilidade, mas passaram a avançar em meados da manhã, acompanhando a reação da curva dos Treasuries a dados acima do esperado do varejo e produção industrial nos EUA, em dia também de leilão de títulos de 20 anos com demanda abaixo da média. No fim, da tarde, o yield da T-Note de dez anos estava em 3,645%.
À tarde, ainda que a curva americana tenha seguido sob pressão, o avanço das taxas locais perdeu fôlego, aparentemente em linha com a descida do dólar até a casa dos R$ 5,48. O nível atual da moeda americana é bem mais baixo do que no último Copom (R$ 5,65) e inferior também aos R$ 5,55 do cenário de referência citado no comunicado de julho, para o qual a projeção de inflação no horizonte relevante (primeiro trimestre de 2026) era de 3,4%, com trajetória para juros extraída da pesquisa Focus à época. O dólar à vista encerrou em R$ 5,4882.
Se a melhora do câmbio não é capaz de dissipar as apostas em aperto da Selic, ao menos endossa a ideia de que a dose de 0,25 ponto estaria de bom tamanho para começar o ciclo. Não são poucos os economistas que acreditam que pelos fundamentos e, principalmente em razão do corte de juros nos EUA, o Copom deveria manter a Selic a 10,50%. Mas, após a comunicação difusa desde a última reunião, vai aumentar a taxa para fortalecer a credibilidade da instituição antes de Gabriel Galípolo, cuja indicação ainda tem de passar pelo Senado, assumir o comando.
Neste grupo está a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese. "Eles vão subir muito por conta da promessa que estão fazendo de subir. Mas necessidade não teria. Temos uma taxa de juros absolutamente restritiva, juros real elevadíssimos, num momento em que o mercado de trabalho começa a dar alguns sinais de que pode entrar em uma inflexão", afirma, lembrando ainda que a inflação corrente não "está ruim". Por isso, o Copom deve optar por um aumento mínimo, de 0,25 ponto, que já será ainda mais difícil de justificar se o Fed aplicar uma dose maior, de 0,5 ponto, na redução do juro amanhã. "Nesse caso, eu não queria estar na pele do Copom", diz Veronese.
Um fator que deve ser citado no balanço de riscos do Copom é o cenário fiscal, que vem piorando desde que a seca que assolou o País provocou uma série de incêndios, demandando ação mais efetiva do governo federal, o que colocou à mesa a possibilidade de socorro via uso de crédito extraordinário.
"O planejamento e a execução fiscal do governo têm efeitos diretos e indiretos sobre a decisão da taxa de juros no Brasil. No curto prazo, o principal impacto se dá na taxa de câmbio, por meio do prêmio de risco embutido nos juros pagos pelos títulos brasileiros", destacam Renato Chaim e Tarik Barat, da PRX Capital, que preveem alta de 0,25 ponto na Selic amanhã, de forma a levar a uma transição suave, e, assim, dar mais tempo de adaptação aos agentes econômicos.