A inflação nos Estados Unidos desacelerou além do previsto em junho e deve encorajar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a encerrar o mais rápido ciclo de aperto monetário do país após o aumento de juros previsto para este mês. Depois da pausa no mês passado, Wall Street espera uma nova alta de 0,25 ponto porcentual na reunião que acontece em duas semanas, mas vê esse como o último ato da autoridade na batalha contra a alta do custo de vida na maior economia do mundo - após os estragos deixados pela covid-19.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA apresentou uma alta de 0,2% em junho na comparação com maio, conforme dados com ajustes sazonais publicados ontem pelo Departamento do Trabalho americano. O aumento veio abaixo da mediana de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que apontava para alta de 0,3%.
No ano, o CPI americano subiu 3% em junho, com acentuada desaceleração frente a maio, quando ficou em 4%. Com isso, a inflação nos EUA desceu ao patamar mais baixo desde março de 2021.
Foco de preocupação do mercado, o núcleo do CPI, que exclui da conta itens voláteis como os preços de alimentos e de energia, também foi fonte de boas notícias. O indicador avançou 0,2% em junho contra maio e, assim como o índice cheio, ficou abaixo do consenso do mercado, de ganho de 0,3%. Na comparação anual, o núcleo do CPI também perdeu força, para 4,8% contra 5,3%.
A surpresa positiva do CPI americano em junho teve como pano de fundo a desaceleração em itens essenciais para o Fed, como serviços básicos e moradia, além de uma forte contribuição de passagens aéreas. Apesar da melhora, a inflação nos EUA segue acima da meta do Fed, de 2% ao ano, o que mantém as expectativas de Wall Street quanto a uma nova alta de 0,25 ponto porcentual na reunião daqui a duas semanas. Em junho, o Fed manteve inalterados os juros entre 5% e 5,25% ao ano.
Mais aumentos
O Fed e seus dirigentes já tinham sinalizado - e reiterado - a possibilidade de realizar mais dois aumentos neste ano. No entanto, a moderação do CPI e um mercado de trabalho que começa a dar sinais de esfriamento confirmam os efeitos do aperto monetário no país e reforçam as expectativas de que esse ciclo pode ser encerrado antes.
As chances de o Fed manter as taxas em setembro, após o aumento em julho, foram a 78,8% depois dos novos dados da inflação, mostrou o levantamento do CME Group. Ontem, estavam em 72,4%. Apontando o holofote para o fim do ano, a manutenção dos juros nos EUA também ganhou força, para 55,5% contra 51,5%, na mesma base de comparação.
"A fraqueza no núcleo da inflação e a moderação no setor de serviços, excluindo habitação, reduziram nossas chances subjetivas de um aumento adicional de juros após julho. Portanto, esse ciclo de aperto do Fed provavelmente está chegando ao fim", diz o economista-chefe da Oxford Economics para os EUA, Ryan Sweet. A consultoria britânica espera que o Fed suba os juros em julho, para 5,25% a 5,5% ao ano, e vê essa como a faixa terminal das taxas em 2023.
Recuo
Até os mais céticos já questionam um segundo aumento em setembro, como indicou o Fed antes dos dados recentes. É o caso do Citi, que projeta dois aumentos nas taxas, em julho e setembro, mas já considera a possibilidade de a segunda elevação vir apenas em novembro.
"Embora apenas um mês de desaceleração do CPI indique que uma alta em julho ainda é muito provável, um CPI mais suave eleva a barreira para uma alta em setembro, que poderia ser adiada para novembro", diz o Citi, em comentário a clientes.
Na visão da Pimco, maior gestora de renda fixa do mundo, com US$ 1,8 trilhão em ativos sob gestão, o CPI hoje aumentou a confiança em que a decisão deste mês será o último ato do ciclo de alta das taxas no país. "A impressão de inflação de hoje reafirmou nossa visão de que a economia dos EUA caminha para uma segunda metade do ano muito diferente", avalia a economista da casa, Tiffany Wilding.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.