Ibovespa cai 0,71% no dia, aos 129,7 mil pontos, e acumula perda de 1,6% em outubro

Autor: Luís Eduardo Leal (via Agência Estado),
quinta-feira, 31/10/2024

O Ibovespa colheu nesta quinta-feira, 31, a terceira perda consecutiva, abaixo dos 130 mil pontos, tendo permanecido no negativo em nove das últimas 11 sessões, desde o último dia 17. A cautela para o anúncio de cortes de gastos prometidos pela equipe econômica e a proximidade da eleição presidencial norte-americana, no dia 5, na mesma semana em que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e o Comitê de Política Monetária (Copom) voltam a deliberar sobre juros, tem mantido os investidores na defensiva - comportamento que se reflete também no câmbio e na curva de juros doméstica, que seguem em alta.

Dessa forma, com dólar mais uma vez perto de R$ 5,80 na máxima do dia e a R$ 5,7811 (+0,31%) no fechamento, o Ibovespa cedeu 0,71%, aos 129.713,33 pontos, bem mais próximo à mínima (129.641,78) do que da máxima (130.797,86) da sessão, em que saiu de abertura aos 130.638,94 pontos.

O giro financeiro subiu nesta quinta-feira, a R$ 20,9 bilhões. Na semana, o Ibovespa passou nesta quinta-feira ao negativo (-0,14%), encerrando o mês de outubro acumulando perda de 1,60% no intervalo, após retração de 3,08% ao longo de setembro. No ano, cede agora 3,33%.

Assim, o Ibovespa se mantém em devolução parcial da alta de 6,54% em agosto, quando renovou máxima histórica no dia 28, no fechamento e no intradia, então na casa de 137 mil pontos. O desempenho negativo do bimestre setembro-outubro se contrapõe à série de avanços entre junho e agosto. Na máxima vista em 28 de agosto, o Ibovespa acumulava ganho de apenas 2,35% no ano, tendo em vista o patamar elevado de comparação, após ter fechado 2023 aos 134 mil pontos, com renovação de máxima histórica na penúltima sessão daquele ano.

Em dólar, o Ibovespa chegou ao fim de outubro a 22.437,48 pontos, mês em que a moeda americana acumulou alta de 6,13%. Em 30 de setembro, o dólar à vista havia fechado em alta de 0,21%, a R$ 5,4474, mas teve retração de 3,33% ao longo do mês. Combinando a variação nominal da moeda e da Bolsa em setembro, o Ibovespa em dólar chegou ao fim daquele mês a 24.198,04 pontos, um pouco acima do nível em que estava no fim de agosto, movido para cima pelo ajuste cambial no intervalo.

No fechamento de agosto, com o dólar de volta à casa de R$ 5,63, o Ibovespa, na moeda americana, marcava 24.135,58, refletindo a queda de 0,36% acumulada pela referência monetária no mês e avanço de mais de 6% para o índice da Bolsa brasileira. No encerramento de julho, o índice da B3, em dólar, estava em 22.572,06, um pouco acima do nível do mês anterior, e ainda muito descontado.

"Na sessão de hoje, o Ibovespa foi perdendo força ao longo do dia, com o dólar dando continuidade ao movimento de alta, em patamar já bastante elevado, o que coloca pressão adicional nas expectativas de inflação", diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando também que o setor financeiro se mostrou mais "pesado" na sessão, após a divulgação do balanço do Bradesco referente ao terceiro trimestre.

"Os resultados que as empresas têm entregue são majoritariamente positivos, em linha ou em alguns casos um pouco acima do esperado. Mas, de maneira geral, o mercado tem mostrado pouco apetite para tomar ativo que não esteja surpreendendo bastante", diz o operador. Ele menciona, em especial, os casos de Bradesco - com resultado que "não veio tão ruim" - e WEG - com "resultados satisfatórios", mostrando "crescimento praticamente em todas as linhas" -, empresas que divulgaram balanços trimestrais nos últimos dias.

Além da expectativa para a próxima semana e da temporada de resultados corporativos no Brasil, os investidores seguem monitorando os dados econômicos dos Estados Unidos, às vésperas de nova reunião do Federal Reserve, nos dias 6 e 7.

"Com os atuais dados sobre despesas de consumo pessoal (PCE) amplamente alinhados com as expectativas, e o importantíssimo índice trimestral de custo de emprego (ECI) continuando a cair para níveis pré-pandemia, o argumento para um corte de 25 pontos-base na taxa de juros do Fed em novembro foi ainda mais fortalecido", aponta em nota Greg Wilensky, chefe de renda fixa dos EUA e gerente de portfólio na Janus Henderson. "Embora os dados de inflação do último mês tenham sido um pouco maiores do que o Federal Reserve gostaria, essa diferença não é grande o suficiente para que o Fed precise recalibrar significativamente as expectativas."

Na B3, as principais ações do Ibovespa operaram em baixa durante a maior parte da sessão, com destaque para perdas em Bradesco ON (-3,41%) e PN (-4,39%), após os resultados trimestrais. O discurso do Bradesco não mudou, mas o humor do mercado sim, o que explica a reação negativa ao balanço do banco no terceiro trimestre deste ano, reporta o jornalista Matheus Piovesana, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Os números confirmaram a recuperação da rentabilidade, mas de modo gradual. Em um cenário de juros mais altos e incertezas quanto aos rumos da economia, a mensagem foi menos aceita que nos balanços anteriores.

O Bradesco teve lucro líquido recorrente de R$ 5,225 bilhões, alta de 13,1% em um ano e de 10,8% em um trimestre. O resultado veio em linha com as expectativas do mercado, mas com composição diferente, em especial na combinação entre receitas com crédito e despesas com inadimplência.

A sessão também foi negativa para Santander, em baixa de 2,68%, na mínima do dia no fechamento, e para Itaú (-0,65%, também no piso no encerramento) e BB (-0,15%). Vale também encerrou o dia em baixa, de 0,66%, mas Petrobras reagiu perto do fim, com a ON em alta de 0,46% e a PN, de 0,17%, no encerramento. Na ponta perdedora do Ibovespa nesta quinta-feira, Hypera (-8,30%), CVC (-5,09%), Pão de Açúcar (-3,85%), MRV (-3,49%) e Cogna (-3,42%), além das duas ações de Bradesco. No lado oposto, BRF (+2,86%), CSN Mineração (+2,31%), Marfrig (+1,82%) e Azzas (+1,33%).

"Apesar de toda a expectativa para o rali de Natal na Bolsa, não consigo enxergar dessa forma, dado que temos praticamente contratados mais dois aumentos da Selic até o final do ano", diz Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, referindo-se às reuniões do Copom programadas para a semana que vem e dezembro. Ele menciona também a falta de "discernimento" entre "gasto e investimento" que tem sido reiterada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos momentos em que a equipe econômica mostra a necessidade de reavaliar despesas para que se cumpra a meta fiscal.

Olhando para fora, "a agenda da semana termina, amanhã, com o importante relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, de outubro. E há expectativa crescente de que Donald Trump venha a vencer a eleição da próxima terça, o que traz um elemento a mais de volatilidade para os preços dos ativos", diz Ramon Coser, especialista em renda variável da Valor Investimentos.