Os brasileiros ficaram mais endividados na passagem de abril para maio, mas o nível de inadimplência manteve-se estável, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A proporção de famílias com contas a vencer passou de 78,5% em abril para 78,8% maio, o terceiro mês seguido de crescimento, apontou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
O resultado é mais elevado também que o de um ano antes, quando 78,3% das famílias estavam endividadas.
Segundo a CNC, o movimento reflete uma maior demanda das famílias por crédito, aproveitando a redução nos juros.
"Esse padrão é corroborado pelo aumento da oferta de crédito. O saldo das operações de crédito para pessoas físicas aumentou 0,8% em abril de 2024, de acordo com o Banco Central, enquanto o crescimento acumulado em 12 meses acelerou de 8,6% em março para 8,9% em abril", ressaltou a entidade, no relatório do indicador.
A pesquisa da CNC considera como dívidas as contas a vencer nas modalidades cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
A fatia de consumidores com contas em atraso permaneceu em 28,6% em maio, mesmo resultado visto em abril. Em maio de 2023, a proporção de famílias inadimplentes era mais elevada, 29,1% tinham contas em atraso.
"Isso indica que as famílias estão lidando melhor com o crédito no orçamento familiar, mostrando uma maior consciência no momento de se endividar, aliviando os indicadores de inadimplência", avaliou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em nota oficial.
A proporção de consumidores que afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas vencidas, ou seja, que permaneceriam inadimplentes, diminuiu de 12,1% em abril para 12,0% em maio. Essa parcela era mais baixa em maio de 2023, 11,8%.
"Apesar dessa melhora para arcar com os custos das dívidas, 20,8% dos consumidores chegaram em maio com mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas, um aumento de 1 ponto percentual na comparação com o mesmo mês do ano passado", apontou o estudo da CNC. "Para conseguir ter melhor controle financeiro, as famílias contam com prazos longos para pagamento das suas contas. Tanto que o percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano permaneceu em 32,4%."
Renda mais baixa
Na passagem de abril para maio, as famílias de renda mais baixa ficaram mais endividadas. No grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos, a proporção de endividados aumentou de 80,4% em abril para 80,9% em maio. Na classe média baixa, com renda de três a cinco salários mínimos, a proporção de endividados subiu de 79,7% em abril para 79,9% em maio. No grupo de cinco a dez salários mínimos, houve alta de 75,5% para 77,1%. No grupo com renda acima de 10 salários mínimos mensais, essa fatia desceu de 71,7% para 71,4%.
Quanto à inadimplência, no grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos, a proporção de famílias com dívidas em atraso passou de 35,8% em abril para 35,9% em maio. Na classe média baixa, com renda de três a cinco salários mínimos, a proporção de inadimplentes diminuiu de 26,4% em abril para 26,1% em maio. No grupo de cinco a dez salários mínimos, houve elevação de 22,2% em abril para 22,4% em maio. No grupo que recebe acima de 10 salários mínimos mensais, a fatia de inadimplentes diminuiu de 14,6% para 14,4%.
Endividamento
O cartão de crédito permanece como o principal tipo de dívida, mencionado por 86,9% dos endividados, 0,3 ponto porcentual a mais que em maio do ano anterior. Já o uso do cheque especial desceu a 3,9% em maio, o menor nível da série histórica iniciada em 2010.
"Enquanto o financiamento imobiliário apresentou o maior crescimento anual (+1,6 p.p.), resultado do mercado de crédito com juros mais acessíveis. Esse foi o maior percentual de utilização (8,7%) desde fevereiro de 2022", frisou a CNC.
A CNC estima novos aumentos na proporção de famílias endividadas nos próximos meses, alcançando 80,4% em dezembro de 2024.
Quanto à inadimplência, as previsões da entidade indicam uma manutenção do atual patamar nos meses de junho e julho, avançando nos meses seguintes, até encerrar o ano de 2024 em 29,4%.
"A faixa de baixa renda, por menos opções de recursos, apresenta maior necessidade de recorrer ao crédito, assim como a maior dificuldade de amortizar essas dívidas. Deve-se estar atento pelo fato de esse grupo ter aumentado seu endividamento em maio, mesmo tendo piora nos seus indicadores de inadimplência.", ressaltou a CNC, no estudo.