Em depoimento prestado no sábado à Polícia Civil de Apucarana, Silvânia Regina Del Conte, falsa enfermeira de Apucarana, afirmou que trabalhou no interior do 'Lagoão' por aproximadamente 15 dias. Ela também confessou que desviou dois frascos da AstraZeneca, o que totaliza 10 doses. Parte das vacinas desviadas foram aplicadas em cinco pessoas da mesma família residentes em Mandaguari.
Silvânia ainda disse que o primeiro frasco da vacina AstraZeneca foi desviado no dia 8. Ela detalhou, em seu depoimento, que após aplicar as doses, devolveu a ampola vazia no sistema de vacinação em Apucarana.
No último dia 11, segundo o depoimento, ela desviou outra ampola da mesma vacina, que foi encontrada na geladeira de sua casa durante cumprimento de mandado de busca e apreensão. A falsa enfermeira disse que a vacina estava sendo guardada para garantir a total imunização da família.
Silvânia Regina Del Conte ainda afirmou que durante todo o tempo que atuou na vacinação no 'Lagoão' não aplicou soro nas pessoas, que realmente aplicou o imunizante.
"Não prejudiquei nenhum idoso, nenhuma gestante, meu único erro foi desviar essas vacinas", disse a falsa enfermeira
Confira parte do depoimento:
Em relação ao outro frasco de vacina - este da Coronavac e encontrado vazio -, ela afirmou que pegou do estabelecimento onde trabalhava como cuidadora de idosos. Ela admitiu ainda que não é técnica de enfermagem, mas estava registrada assim por decisão da instituição que trabalhava. Ela trabalhou nessa instituição para idosos de novembro do ano passado, até final de março deste ano.
A vacinação na instituição aconteceu em janeiro, na primeira etapa da campanha de imunização da covid-19. Em depoimento, ela ainda denunciou que duas pessoas próximas dos responsáveis furaram a fila e foram vacinadas.
Silvânia é natural de Apucarana, tem um casal de filhos de 28 e 22 anos. Ela já foi investigada pela Polícia civil em um processo de estelionato, porém, foi absolvida.
O diretor presidente da Autarquia Municipal de Saúde de Apucarana, Roberto Kaneta, disse na manhã desta segunda-feira (17), que mesmo com a atuação da falsa enfermeira no sistema de vacinação no 'Lagoão', todos receberam doses do imunizante e que o servidor que autorizou a presença dela já foi afastado.
A prisão
A Polícia Civil de Apucarana, no norte do Estado do Paraná, apreendeu na tarde de sábado (15) ampolas de vacinas contra covid-19 na casa de uma falsa enfermeira suspeita de ter desviado o material de rede pública de saúde para vender as doses a pessoas que não fazem parte do público alvo da campanha. Na casa da mulher, que se apresenta como técnica em enfermagem, foram apreendidos também carteirinhas de vacinação, celulares e seringas.
A mulher foi presa e encaminhada a 17 Subdivisão Policial de Apucarana. O mandado de busca e apreensão na casa da detida atende a pedido do Ministério Público do Paraná, por meio da 2ª Promotoria de Justiça, que abriu investigação após receber denúncia do vereador Lucas Leugi. A mulher trabalhou como voluntária na campanha de vacinação contra covid-19 até ser afastada após ser alvo das denúncias. O vereador apresentou indícios que apontam que a falsa enfermeira teria atuado como voluntária para desviar vacinas contra a Covid-19 para revendê-las. Há informações, ainda não confirmadas pela Polícia Civil, de áudios e troca de mensagens em aplicativos onde a detida oferecia a vacina.
Durante o cumprimento da determinação judicial, as doses de vacina foram apreendidas (um frasco da Astrazeneca, com cinco doses; um de CoronaVac com um número ainda não determinado de doses e um vazio) e a falsa enfermeira foi presa em flagrante pelo crime de peculato, podendo responder também pelos crimes de falsidade ideológica e infração de medida sanitária.
Segundo o delegado Marcus Felipe da Rocha Rodrigues, a falsa enfermeira atuou como voluntária na campanha de vacinação desde 16 abril lotada na parte interna do Ginásio de Esportes Lagoão. Em depoimento, ela admitiu o desvio das vacinas, mas negou ter vendido o imunizante que teriam sido desviados para imunizar uma família próxima a detida. "Ela também afirmou, e isso é importante salientar para população até porque tem ocorrido diversos boatos a respeito, que jamais aplicou soro nas pessoas que estavam sendo vacinadas. Ela frisa isso em depoimento e não há elemento nenhum que sugira que essa prática ocorreu", afirma o delegado.
O secretário de Estado da Saúde Beto Preto, emitiu uma nota no início da tarde desta segunda-feira (17), e disse que o caso da falsa enfermeira de Apucarana é muito grave e cobrou as devidas investigações.
Beto Preto afirma que o caso será acompanhado pela Controladoria Geral do Estado. "O caso, se confirmado, é extremamente grave e que cabe aos órgãos competentes a devida investigação. Especialmente num momento em que a vacina é a esperança das pessoas para que o Paraná possa efetivamente sair do cenário crítico da pandemia. Além disso, a Controladoria Geral do Estado vem trabalhando para acompanhar denúncias de possíveis irregularidades na vacinação, principalmente de ocorrências de fura-fila", disse.