O telefone tocou três vezes antes de parar. Não havia sido atendido, mas também não havia sido ignorado. Apenas… silenciado. A vibração do aparelho parecia ecoar em uma sala vazia cheia de móveis e fotos antigas.
Naquela casa, já fazia tempo que o silêncio era rei. Ele se escondia entre os móveis, repousava sobre os pratos na mesa, crescia no vão entre duas pessoas que um dia foram íntimas. A pequena mesa da cozinha que antes fora o lugar do banquete em que se servia pão com salsicha, há muito tempo estava limpa demais para ser usada.
No começo, era apenas um espaço pequeno, um intervalo entre uma conversa e outra. Mas aos poucos foi se alargando, como uma rachadura em uma parede antiga, até virar um abismo.
Ela olhava o telefone na mesa. O nome dele ainda brilhava na tela escura, como um eco que insistia em ficar. A ligação perdida. Um gesto simples, quase casual, mas que pesava em seu peito como uma âncora. Ele ligou. Depois de tanto tempo, ele ligou. Mas por quê? Não sabia dizer o que doía mais: a lembrança do que foi ou a incerteza do que ainda poderia ser. Pensou em devolver a ligação, mas hesitou. O que diria? Como preencher o silêncio acumulado por tanto tempo? Talvez fosse como o som das explosões no espaço, apenas visões da destruição em silêncio total. Ela era o vácuo.
Do outro lado da cidade, ele olhava para o telefone em sua mão, sentindo o mesmo peso. Respirou fundo, tentando encontrar uma justificativa para o próprio ato. Há dias, meses, carregava aquela vontade inquieta, o desejo de dizer algo – qualquer coisa – que desfizesse a distância que haviam construído sem querer.
Mas como se pede desculpa pelo silêncio?
Ele se lembrava da última conversa. Não foi uma briga, não houve gritos nem portas batidas. Apenas um momento de cansaço, um "depois falamos", que nunca aconteceu. Se fosse uma briga seria mais fácil de explicar e entender as pequenas palavras que, não ditas, se transformaram em muros.
E de tanto silenciarem, tudo o que um dia foi música, virou zumbido.
Agora, segurando o telefone, ele sentia que ainda havia algo ali. Uma ponte quebrada, talvez, mas que poderia ser reconstruída. Se ao menos ela ligasse de volta.
Ela, do outro lado, fechou os olhos e deixou o telefone sobre a mesa. A dúvida pulsava. O que ele queria dizer? E será que ela queria ouvir?
Na mesma cidade, centenas de pessoas adormeceram sob o peso de um silêncio ensurdecedor, aquele que se instala entre o que foi dito e o que deveria ter sido. Um vazio preenchido pelo “e se” – e se tivesse tentado? E se tivesse dito? E se ainda houvesse tempo?
Mas o tempo não espera, e as palavras não ditas se transformam em saudades do que nunca aconteceu.
Ninguém ligou. Ninguém liga. E, no fim, o silêncio sempre encontra um jeito de ficar.
...
O silêncio, novamente, venceu.