O título pode parecer confuso, mas é a pura filosofia do poeta brasileiro Tiririca, que quando de sua campanha para deputado federal dizia: “vote em mim, pior do que tá não fica!”. E ficou. Mas esse texto de hoje não é sobre política, mas a filosofia pós-moderna do nosso palhaço mais famoso do Brasil. “Já tentei fugir de mim, mas aonde eu ia eu tava”, disse ele em seu show e diversas vezes na TV, mas para além da piadoca, o que quer dizer essa sentença?
Se Jean-Paul Sartre disse que o homem estava condenado a ser livre, essa liberdade tende a ser também um peso, para além do privilégio. Caro leitor e leitora, a pior parte de crescer é não poder culpar mais os seus pais pelos erros que nunca foram deles. Se a sua roupa ficar estranha e não lhe cair bem, sua pobre mãezinha não tem mais nada haver com isso, bem como a escolha de locais, amigos, amores e empregos, com o seu pai. Só você (e mais ninguém) é responsável pela sua vida. Você pode até tentar culpar a Deus ou o destino por aquilo que está além do seu controle, mas no fim, a escolha de aceitar esses desígnios superiores também é sua. Aceita ou luta contra ele, de toda forma, a escolha é sua.
E é aqui que as coisas complicam, se as escolhas são apenas suas, o principal e pior julgador de suas ações é também você mesmo. E posso dizer uma coisa, ninguém será tão cruel com você como você mesmo. Isso ocorre porque apesar do esforço que fazemos para “enganar” a todos, é impossível se esconder dentro de si mesmo. Afinal, aonde quer que você vá, lá você estará, como uma voz na própria cabeça, narrando fatos e fazendo os comentários do diretor enquanto a cena ainda é “gravada”.
Se você terá que conviver com essa voz julgadora o tempo todo, haja pelo menos com foco em algo prazeroso, afinal, será sempre plateia do próprio espetáculo. Grandes planos de felicidades futuras tendem a tirar a felicidade de hoje se não bem planejadas, isso ocorre porque temos deixado demais de viver o hoje para esperar o amanhã e, sabe de uma coisa, talvez ele nem chegue.
Se existe dois de você, um que faz e outro que assiste, tente pelo menos os manter em harmonia, pois já que é para ouvir uma voz narrando todos os seus passos, julgando cada pequena ação invisível aos olhos dos outros, que pelo menos ela seja positiva e de satisfação. Se posso deixar um conselho, caro leitor e leitora, se agrade tanto que seja prazeroso estar na própria companhia, só quem sentiu o medo do silêncio sabe como isso é importante. E depois, só depois de estar bem resolvida e feliz consigo mesmo, busque a aprovação dos outros. E, se por acaso, essa aprovação não vier, entenda que ela nem faz diferença, pois talvez essas pessoas estejam brigadas consigo mesmas, incapacitadas de te dar atenção. Às vezes, nem é sobre você, pense nisso.