Desde pequenos aprendemos que precisamos do sucesso para encontrar a felicidade (“O sucesso é a chave da felicidade”), mas pensando com calma, caro leitor e leitora, neste caso a ordem dos fatores faz toda a diferença, mudando o seu resultado. Tentarei te mostrar que na prática “a felicidade é a chave do sucesso”, pois de tanto procurar o sucesso para então sermos felizes, ficamos tristes demais para reconhecer quando ele chegar.
É possível rir de uma queda? Eu particularmente adoro as “trapalhadas e cassetadas”, mas somos menos habituados a rir de nós mesmos, pois a autocobrança e o medo do olhar do outro, tendem a nos encabular (ou irritar). A maioria de nós quando crianças fomos ensinados a engolir o choro ou apenas a transformar a queda em uma cena cinematográfica digna de Oscar ou de um dengo da mãe. Não aprendemos a lidar com a falha, com o erro e a incapacidade, não havia essa opção.
A nossa educação não foi melhor ou pior, mas aquela que correspondia ao período e ao grau de entendimento sobre certas coisas. Me incomoda a ideia de condenar os pais de outra geração por aquilo que consideramos falhas, afinal, ninguém erra (assim se espera) conscientemente, ainda mais sobre a relação e educação dos filhos. O fato é que não é possível criar nossos filhos como fomos criados, seja sobre quedas, sobre sentimentos ou sucesso. A nossa geração, ainda que insatisfeita com muitos detalhes, teve mais sucesso financeiro do que nossos antepassados, mesmo que isso seja difícil de reconhecer na prática. Afinal, cada vez que avançamos em direção ao “sucesso”, ele se move um pouquinho mais longe de nós. É uma corrida sem linha de chegada.
Nossos filhos terão ainda melhores condições de acesso, seja a educação, cultura ou oportunidades de empregos (guardadas as devidas proporções de desigualdades desse país, mas ainda assim, hoje é mais possível do que há algumas décadas), mas todo esse cenário esconde uma competição cada vez maior, uma guerra de todos contra todos, onde quem ganha nem sempre é o mais preparado ou adequado. Essa busca pelo sucesso, que nos foi passado como a missão de vida, é agora uma lição dada aos nossos filhos, mesmo que queiramos privá-los de certas situações.
Não podemos criar nossos filhos como nossos pais nos criaram, porque o mundo para qual os nossos pais nos criaram já não existe mais. Seja pelas tecnologias e o mundo extremamente conectado, essa realidade sequer foi imaginada por nossos pais. Nossos filhos precisam ainda conquistar o mundo, ganhar dinheiro e ter sucesso, mas se ao menos uma coisa aprendemos até aqui é que se não houver a felicidade no processo, o sucesso nunca chegará.
O sucesso não é o diploma ou o emprego, é o caminho. Não é a praia, é a viagem. Não é a casa, é com quem se divide. Não é o carro, é o destino. O sucesso não traz a felicidade, ele é a felicidade, mas não das coisas grandes e mensuráveis em uma tabela de valores. Certas coisas os nossos antepassados sabiam e nos ensinaram, mas estávamos ocupados demais buscando o sucesso para ouvi-los.