Nas últimas semanas, já que sou professor, participei de conselhos de classe, que tem por objetivo avaliar o rendimento dos nossos alunos no primeiro trimestre. Evidentemente, a avaliação não recai apenas sobre os alunos, mas também sobre os professores, uma vez que o processo ensino-aprendizado se divide entre os interlocutores e seus reais esforços para que a magia aconteça. Ainda que esses momentos tenham mudado muito – e para melhor – ainda me desperta certos incômodos, o que não significa necessariamente uma sensação ruim, como apresentarei a seguir.
Quando eu era um jovem magrelo na cidade de Londrina, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental, o conselho de classe acontecia de uma forma inimaginável nos dias de hoje. A sala tripartida recebia na ponta da pirâmide os professores e equipe diretiva, no vértice mais perto da porta estavam os pais, evitando assim possíveis fugas e, por fim, os alunos, acuados no ângulo vigiado pelos dois primeiros. A professora chamava o nome dos alunos, fazendo com ele e os pais levantassem, passando a descrever os mais ricos detalhes das ações dos alunos, bem como suas notas.
Eu era o garotinho que ia bem na escola, tirava notas razoáveis, mas era incapaz de ficar quieto e até mesmo sentado, parecendo que “tinha um rádio na guela”, como disse uma vez a professora Juliana de Matemática da quinta série. Lembro das repressões em público, dos castigos e até dos tapas que alguns colegas recebiam. Esse texto não é uma denúncia, nem mesmo uma reflexão sobre como as coisas melhoraram, pois isso também não ocorreu.
Sim, é claro que nossos jovens precisam ser mais responsáveis, isso é essencial e necessário, mas meus amigos, até para isso temos que ter um limite. Na ânsia de criarmos adultos mais responsáveis, estamos cobrando de crianças uma atitude que nem mesmo nós temos tomado. A gente aprendeu muito com os erros que tivemos ao longo da vida e, agora como adultos, projetamos sobre nossos jovens a perfectibilidade que nem mesmo nós desenvolvemos, apenas entendemos que seja necessário.
Isso não significa apoiar o erro, mas o tornar algo normal no processo. Antes que os mais inflamados vociferem, entendemos que o erro “normal” aqui está dentro da legalidade e do que é moral, o pequeno erro cotidiano que cometemos, mas abominamos naqueles que esperamos que sejam melhores do que nós.
Um aluno de quinze anos não consegue enxergar o mundo da mesma forma que nós o vemos, assim como acontecia quando nós tínhamos essa idade. De tanto amar e querer o bem de nossos pequenos, tendemos a retirar deles a possibilidade de se reconhecerem como indivíduos, que precisam se sentir seguros o suficiente para errar e saber que encontrarão refúgio e apoio em sua família e escola quando a hora chegar.
Jesus nunca amou o pecado, nem por isso condenava o pecador, e você aí cheio de erros e talvez até alguns pecados, culpando seu filho de quinze anos porque ele esqueceu o material, não fez uma atividade ou porque fala demais. Ele precisa mudar, mas precisa ser criança enquanto biologicamente ainda o é, pois o mundo está cheio de adultos biológicos com atitudes infantis, que não tiveram a oportunidade de crescer na hora certa, sendo personagens de uma história que outro contou. Permita a seu filho ser o protagonista de sua própria vida, mas esteja lá assistindo, aplaudindo e até mesmo vaiando, mas sem nunca o tirar do palco e do foco de luz. Seja a luz que ele precisa para encontrar o caminho, mas o deixe percorrer.