Para Taleb (um filósofo e economista), de quem eu sou um grande admirador, um bom livro clássico é aquele que transcende seu contexto histórico e traz ideias e lições que podem ser aplicadas de forma significativa no presente. Segundo ele, devemos valorizar livros que resistem ao teste do tempo e continuam a oferecer perspectivas úteis e insights profundos. "Memórias póstumas de Brás Cubas”, escrito por Machado de Assis, é um desses livros que se enquadram perfeitamente nessa descrição. Célebre aqui e no mundo todo - tanto o autor, quanto a obra.
Uma das principais contribuições desse livro para nossa reflexão é a maneira como Machado de Assis apresenta uma visão crítica e irônica da sociedade e da condição humana. Ao ler a obra, acompanhando um defunto narrador - Brás Cubas - contando sua vida, podemos refletir sobre as imperfeições e hipocrisias que existem em nosso próprio contexto social.
Um dos aspectos importantes a serem considerados é a reflexão sobre a nossa própria mortalidade. Ao acompanharmos as memórias de Brás Cubas após sua morte, somos levados a pensar sobre a brevidade da vida e a importância de aproveitarmos o tempo que temos. Isso nos convida a refletir sobre nossas escolhas, prioridades e a valorizar os momentos e relacionamentos significativos.
Cubas fazia parte da elite carioca do século XVIII. Um herdeiro, que viveu a vida de forma desregrada, na infância, não tinha limites, de suas artes não escapavam os animais e nem os escravos. Seu pai, ao invés de corrigi-lo, achava graça. Ao ficar adulto, vai para Europa estudar, mas pouco aprende, já que ele preferia festas e dava pouca importância a responsabilidade, principalmente, pelo dinheiro despendido pela sua família e de como ele poderia ter uma profissão após os estudos. Mais velho, ele não teve relacionamentos serio, a não ser o seu envolvimento com uma mulher casada. O tempo vai passando, sem família, sem objetivos, sem produção material ou intelectual, apenas gastando tempo e dinheiro, Cubas vai envelhecendo.
Em uma parte da vida, ele reencontra seu amigo de colégio, Quincas Borbas, um pseudo intelectual, que também vive uma vida tal como Cubas, tenta convence-lo de sua tese filosófica: o humanitas. Em sua tese, entre outras coisas, Borba diz que a fome é um estado que prolonga nossa consciência, e é a melhor maneira de nos sentirmos mais humanos, já que a fome sempre volta, mesmo após ser saciada.
É nesse momento, que a célebre obra, encontra-se com Steve Jobs. A mais célebre frase de Jobs, "continue com fome, continue tolo", mostra a importância de sempre nos sentirmos nesse estado, para nos desenvolvermos e evoluirmos. Não foi o que fizeram, Cubas e Borba, que morreram sem transmitir nada a ninguém.
Através das memórias de Brás Cubas, somos confrontados com questionamentos profundos sobre a natureza da existência, as escolhas que fazemos ao longo da vida e o significado de nossa passagem neste mundo efêmero. Será que, ao nos confrontarmos com a inevitabilidade da morte, podemos encontrar um novo olhar sobre nossa própria jornada? Mesmo após o término da leitura do livro, suas reflexões continuam a ecoar em nossas mentes, nos desafiando a explorar as complexidades da vida e a valorizar cada momento que nos é concedido.
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