Em Apucarana, cidade que é referência nacional em confecções, costurar vai muito além de fabricar roupas. Para a família da apucaranense Vitória Rufatto, de 24 anos, é um ofício que ultrapassa gerações. A jovem, que aprendeu a costurar com apenas 11 anos inspirada pela mãe e pela tia, que são da área, acabou de se formar em design de moda pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Apucarana e sonha desenvolver sua marca própria de roupas.
Ela conta que o interesse pela costura começou ainda na infância, quando produziu as suas primeiras peças. “Eu achava incrível as máquinas principalmente a overloque. E como eu tinha curiosidade, comecei a aprender a costurar. Sendo assim, a primeira parte de uma peça que eu aprendi a fazer foi o colarinho de camisa social. E, com o passar do tempo, aprendi a manusear as demais máquinas”, comenta.
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Ao ingressar no ensino médio, Vitória descobriu um curso integrado de técnico em modelagem na UTFPR. E como ela já tinha interesse pela área, se inscreveu, fez a prova e conseguiu a vaga. “Após me formar veio a questão da faculdade, como eu já estudava na UTFPR e lá mesmo tinha o curso de designer de moda resolvi fazer o Enem e me inscrever para o curso, pois a cidade é um polo da confecção”, diz Vitória.
A mãe de Vitória, Cleunice Rufatto, 63 anos, trabalha no ramo há 13 anos, e foi incentivada pela cunhada. Ela conta que aos 48 anos perdeu o emprego e precisou se redescobrir no mercado de trabalho. Decidiu então ingressar em um curso de corte e costura e aprendeu a nova profissão. “Com a ajuda de minha cunhada, que também é costureira, concluí o curso. Foi bem difícil essa fase. Me considerava velha para trabalhar e nova para aposentar”, comenta.
Cleonice conta que o período não foi fácil, mas aprendeu o ofício e através dele conquistou muitas coisas. “Compramos o carro da família, ajudo nas despesas da casa e ajudo minha mãe que tem 92 anos”, conta.
Ela trabalha na empresa da sua sobrinha Rosângela Homenhuki Roça, 51 anos, que vem de uma família de costureiras e trabalha há 30 anos no ramo. Ela é filha e neta de costureira. A empresária já atuou em outras fábricas da cidade e comandou linhas de produção, até decidir abrir a própria empresa. “Vejo a costura como uma das profissões necessárias para o ser humano, se faz necessária desde o nascimento da pessoa até seu último suspiro. Respiramos costura”, afirma a empresária.
A mãe dela, Dirce Homenhuki, 69 anos, cunhada de Cleonice, é costureira há mais de 40 anos. Viúva aos 24 anos com três filhos pequenos, ela precisou trabalhar muito para sustentar sua família sozinha. “Como minha mãe era costureira eu já tinha uma noção. Foi então que uma prima me ensinou a fazer modelagem e tirar medidas”, relata.
Dirce trabalhou anos em casa confeccionando pedidos particulares antes de ingressar na indústria. Trabalhou um ano em uma fábrica de moletons e cinco em outra fábrica de uniformes com carteira registrada até decidir montar sua própria empresa. “Foram tempos difíceis, mas eu venci. Devo tudo que tenho a essa profissão. Criei meus filhos, comprei casa e carro”, ressalta.
Atualmente mãe e filha são sócias e volta e meia as máquinas da empresa precisam de reparos. O mecânico responsável pelo conserto é o filho de Dirce, Márcio, que também trabalha na área.
CASAIS TRABALHAM JUNTOS
A costureira Angela Grazieli Pedro, 36 anos, é formada em pedagogia, mas foi na profissão de costureira que ela seguiu carreira. “Minha mãe era costureira e trabalhava em casa. Na época e não tinha experiência em muitas coisas, então entre trabalhar no mercado ou comércio, optei pela confecção”, relata.
Hoje, com mais de 20 anos de tempo de serviço na área, ela tem um companheiro de trabalho mais que especial. Angela trabalha junto com o marido Wesley em uma empresa que fabrica bonés. Juntos eles conquistaram casa, carro e formação superior.
Em outra empresa do ramo de bonés trabalha Ronaldo do Prado, 44 anos. Ele atua como auxiliar de sublimação, emprego que conquistou por indicação da esposa Adriana do Prado, 37 anos, que está há sete anos na mesma empresa. Ele afirma que aprendeu muito graças ao incentivo da companheira e que pretende crescer nesta profissão. “Conquistamos uma moto e agora temos planos de conquistar nossa casa”, conta Adriana. Junto com eles também trabalha o irmão de Adriana.
MUNICÍPIO E INDÚSTRIA INVESTEM EM CURSOS PARA QUALIFICAÇÃO
Atendendo a uma crescente demanda por mão de obra na indústria da confecção, vários cursos profissionalizantes foram instalados na cidade. No ano, o Programa de Qualificação Profissional Portas Abertas, da Prefeitura de Apucarana, abriu vagas para o curso gratuito de costura industrial, com aulas ministradas na Escola Móvel do Senai. Também no ano passado, Apucarana inaugurou o curso técnico em vestuário direcionado a candidatos que já tenham concluído o ensino médio e com mais de 18 anos.
A presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Apucarana e Vale do Ivaí (Sivale), Elizabete Ardigo ressalta que os responsáveis pela costura têm papel essencial para o funcionamento da indústria têxtil e da moda. “O trabalho da costureira é artesanal, quase artístico. Demanda muita paciência e dedicação transformar uma peça de tecido em uma peça de confecção e brindes, como bonés, bolsas, aventais e diversos outros produtos que Apucarana produz, entre eles máscaras cirúrgicas”, ressalta.
Elizabete ressalta que costurar é muito mais do que cortar e montar a peças, envolve cuidado e muito carinho. “As costureiras possuem uma função essencial para que as indústrias têxtil e da moda funcionem, elas são uma das peças fundamentais na engrenagem do nosso setor. A tecnologia trouxe para o setor equipamentos inovadores, mas nada substitui a mão de obra da costureira, por isso valorizamos essa profissão que está cada vez mais escassa e investimos na qualidade do seu trabalho, para que ela se sinta bem e confortável para produzir. Nosso setor é um forte produtor de confecções porque temos esses profissionais que impulsionam a cadeia têxtil do vestuário”, pontua.
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