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Ai Weiwei exibe filme sobre refugiados e faz ato contra censura no Masp

GUILHERME GENESTRETI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - É irônico que uma companhia aérea tenha barrado o artista Ai Weiwei e atrasado a sua vinda ao Brasil, onde ele apresentaria "Human Flow", documentário que dirigiu sobre a crise dos refugiados e que abriu a

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 20.10.2017, 14:25:00 Editado em 20.10.2017, 14:25:05
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GUILHERME GENESTRETI

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - É irônico que uma companhia aérea tenha barrado o artista Ai Weiwei e atrasado a sua vinda ao Brasil, onde ele apresentaria "Human Flow", documentário que dirigiu sobre a crise dos refugiados e que abriu a Mostra de São Paulo, na quarta (18).

"Tenho passaporte há só dois anos e meio. Para um chinês, as fronteiras são sempre presentes", diz ele na tarde de quinta (19), enquanto tira uma foto do repórter com o celular —há uma profusão de retratos nas redes sociais desse que já foi chamado pela revista "ArtReview" de "o artista mais poderoso do mundo".

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Depois de quebrar vasos milenares, mostrar o dedo do meio para prédios oficiais e virar o mais vistoso dos críticos ao governo chinês, ele lança seu primeiro longa.

"Queria saciar a minha curiosidade com esse meio", diz o artista de 60 anos, contemporâneo dos cineastas Chen Kaige e Zhang Yimou. "No meu país, o cinema fica à sombra do controle do governo."

"Human Flow" compila dados estarrecedores sobre a crise dos refugiados enquanto o artista/diretor/dissidente vaga por 23 países e cruza fronteiras farpadas no Leste Europeu, campos empoeirados na África subsaariana e vê o desembarque de barcos atulhados de imigrantes.

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O filme pouco se a aprofunda nos dramas pessoais. Sem individualizar entrevistados, forma uma colcha de retalhos de tragédias muito similares. Weiwei prefere o macro, faz tomadas aéreas de apuro estético que mostram barcos singrando os mares e a geometria perfeita dos acampamentos filmados de cima.

"Não me interessavam as histórias individuais. Eu queria mostrar como aquele sofrimento se relacionava à história da humanidade e sua luta contra a fome e o perigo."

Weiwei dá as caras várias vezes: cozinha um churrasco, serve chá, corta os cabelos de um refugiado... "O tato é bem importante. E eu não queria que o filme parecesse um documentário histórico."

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Numa das cenas, ele troca o passaporte com um sírio, no que soa como atestado da igualdade de todos os homens. A atitude humanista tem resultado amargo. "Você fica com a minha barraca e eu fico com seu ateliê em Berlim?", indaga o refugiado.

"Claro que não somos todos iguais. Sou o artista, filmo e eles infelizmente ficam. E a cena foi uma piada", diz.

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O chinês ainda volta no ano que vem a São Paulo, para apresentar sua nova exposição na Oca. "Olhamos as tradições de vocês e também queremos tratar da situação atual", diz, sem detalhar o que vai expor. "É muito difícil fazer uma mostra num país com cores tão expressivas."

Na noite de quinta, Weiwei ainda foi ao Masp, que abria uma exposição sobre a história da sexualidade, e posou ao lado dos que protestavam contra a censura às artes.

CHAVE CÔMICA

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A ficção "O Outro Lado da Esperança", do finlandês Aki Kaurismäki, aborda o mesmo tema da crise dos refugiados mas sob chave cômica: a primeira cena traz um imigrante sírio desembarcando camuflado em Helsinque com a cara toda suja de carvão.

Não que o humor estrague a seriedade do tema. Nas mãos do cineasta, que por esse filme levou o Urso de Prata de direção em Berlim, a abordagem ganha ternura.

"Como o filme tinha clara mensagem social, eu queria que as pessoas o vissem. E nada é melhor do que a comédia para isso", diz o diretor, por e-mail. "E a parte cômica está majoritariamente limitada aos personagens finlandeses. Impossível retratar a nós mesmos de outra maneira."

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Na trama, o sírio Khaled (Sherwan Haji) acha abrigo num restaurante tocado pelo espertalhão Wikström (Sakari Kuosmanen)e sua trupe "brancaleônica". É entre esses últimos que o refugiado vai encontrar solidariedade, numa espécie de rede de altruísmo proletário.

"Se os capitalistas são solidários entre eles da sua forma torta, por que os seres humanos também não seriam?", indaga Kaurismäki.

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HUMAN FLOW

DIREÇÃO Ai Weiwei

PRODUÇÃO Alemanha, 2017, 12 anos

MOSTRA sex. (20), às 17h50, no Espaço Itaú Frei caneca; sáb. (28), às 17h15, no Espaço Itaú Augusta

O OUTRO LADO DA ESPERANÇA (TOIVON TUOLLA PUOLEN)

DIREÇÃO Aki Kaurismäki

ELENCO Sherwan Haji, Sakari Kuosmanen, Janne Hyytiäinen

PRODUÇÃO Finlândia/Alemanha, 2017, 14 anos

MOSTRA sex. (20), às 22h15, no reserva Cultural; dom. (22), às 21h30, no Espaço Itaú Frei Caneca; dom. (29), às 15h40, no Splendor Paulista; seg. (30), às 13h30 no Espaço Itaú Frei Caneca

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