Em breve, teremos as eleições municipais, e tanto os atuais ocupantes de cargos quanto os aspirantes já se mobilizam para a campanha. Nesse período, somos frequentemente bombardeados por discursos grandiosos, promessas deslumbrantes e, invariavelmente, a menção recorrente ao termo "políticas públicas". Para muitos políticos, essa expressão tornou-se quase um mantra. Pronunciá-la parece conferir-lhes instantânea expertise no assunto. Contudo, será que nossos vereadores e prefeitos compreendem verdadeiramente o que ela representa e a colocam em prática? A resposta é: "provavelmente não".
Muitos desses representantes, nos ambientes municipais, parecem não ter familiaridade com os fundamentos das políticas públicas, nem com sua evolução e abordagens futuras. Mencionar os nomes dos especialistas para eles soaria como referências alienígenas. O aparente desdém desses agentes pelo tema é notável. Isso se manifesta na notória falta de interação com grupos de interesse e na postura presunçosa de acreditar ter todas as soluções, ignorando o princípio da racionalidade limitada. E quanto às dinâmicas de poder? Muitos preferem ignorá-las, enxergando-se como líderes incontestáveis.
Vamos propor um exercício mental. Imagine se aprofundando no fascinante modelo "lata de lixo". Esta abordagem sugere que as decisões, em determinados contextos, são feitas de maneira quase aleatória, onde, curiosamente, soluções andam à procura de problemas adequados para se alinhar. Se isso soa estranho para você, aguarde até conhecer o modelo da coalizão de defesa ou com a instigante teoria do "equilíbrio interrompido". E, acredite, esses conceitos são tão profundos quanto seus nomes sugerem.
Políticas públicas não se resumem a ações pontuais impulsionadas por interesses momentâneos, conforme alguns agentes políticos tendem a interpretar. Elas visam solucionar desafios de longo prazo e envolvem a participação de diversos atores, tanto formais quanto informais, em etapas que se estendem da tomada de decisão até a avaliação. Representam ações deliberadas, demarcando a diferença entre o que o governo declara fazer e o que efetivamente executa.
Diante deste panorama, emerge uma questão crucial: Qual é o verdadeiro papel de governos, prefeituras e câmaras de vereadores? Teoricamente, essas entidades desempenham uma função vital na elaboração, decisão e implementação de políticas públicas. Contudo, na prática, será que não estão mais empenhados em exibir uma desinformação ostentosa do que em atuar em benefício da comunidade?
Os modelos orientados pelo "novo gerencialismo público" e pelo ajuste fiscal certamente têm relevância na discussão. Porém, qual o propósito de nos aprofundarmos neles quando muitos de nossos representantes eleitos sequer compreendem o essencial?
Chegamos ao cerne do problema: muitos de nossos agentes políticos parecem estar em uma constante competição de encenação. Eles ostentam um suposto entendimento e aplicação de políticas públicas, mas, na prática, frequentemente priorizam seus interesses individuais e de restritos grupos de influência.
Assim, quando escutar a próxima promessa eleitoral e o termo "políticas públicas" for lançado casualmente, como se jogasse confete ao vento, questione-se: Eles realmente compreendem o que estão propondo? Ou é apenas mais um ato em sua contínua performance? Durante períodos eleitorais, cabe a nós distinguir os atores da arena política daqueles verdadeiramente comprometidos com o bem-estar coletivo. E essa missão é mais desafiadora do que pode parecer.