Desafios do debate econômico no Brasil

Da Redação ·
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fonte: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A crítica contundente do Ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, ao método de controle inflacionário do Banco Central, utilizando a taxa Selic, que ele descreveu como “a forma burra de fazer” e afirmando que o Banco Central precisa estudar mais para conhecer os fundamentos da economia, destaca a necessidade de uma abordagem mais fundamentada e construtiva nos debates econômicos entre órgãos governamentais.

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Tais declarações são expressivas e carregadas de implicações, não apenas pela natureza das críticas, mas também pelo perfil e histórico do crítico. Luiz Marinho, embora com uma trajetória respeitável no movimento sindical e na política, apresenta um currículo desprovido de formação especializada em economia. Isso não invalida sua capacidade de análise ou crítica, mas demanda um maior cuidado ao abordar temas de complexidade econômica. Ademais, suas experiências prévias como Ministro do Trabalho e Emprego e da Previdência Social, embora relevantes, não substituem a expertise econômica necessária para embasar críticas tão específicas às políticas monetárias.

A estratégia de controle inflacionário via taxa de juros, embora sujeita a debates e críticas, é fundamentada em teorias econômicas amplamente estudadas e aplicadas globalmente. Afirmar que os dirigentes do Banco Central, liderados por Roberto Campos Neto, não compreendem os “fundamentos da economia” parece não apenas uma simplificação, mas uma injustiça com profissionais que estão na linha de frente do combate à inflação, um mal que desgasta o poder de compra e afeta principalmente as camadas mais vulneráveis da população. Sem dúvida, a dosagem da política monetária é um debate válido, mas deve ser conduzido com argumentos técnicos e construtivos, não com adjetivações desqualificadoras.

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A crítica de Marinho à política monetária do Banco Central também se choca com sua própria trajetória, especialmente considerando as incongruências em sua gestão na Previdência Social, onde os reajustes das aposentadorias e pensões ficaram abaixo dos aumentos do salário-mínimo, contradizendo sua retórica sindicalista e compromisso social. Essa discrepância entre discurso e ação mina a força de suas críticas atuais e sugere uma necessidade de introspecção e alinhamento entre prática e pregação.

Ademais, o compromisso feito por Marinho ao reassumir o Ministério do Trabalho e Emprego em 2023, de proteger os direitos trabalhistas e manter uma política de valorização do salário-mínimo, parece ainda não ter sido plenamente honrado, dada a persistente defasagem do salário-mínimo frente à inflação. Essa constatação reforça a ideia de que a atenção do Ministro talvez devesse estar mais voltada para a efetivação de suas próprias promessas e responsabilidades, em vez de dispersar foco em críticas a outras esferas de gestão.

No contexto das críticas de Marinho, é pertinente evocar a máxima do filósofo grego Aristóteles: “O todo é maior que a soma de suas partes”. Essa reflexão filosófica sublinha a importância de cada componente de um sistema em desempenhar sua função específica de maneira eficiente e harmônica. Aplicada ao debate em questão, sugere que a contribuição mais valiosa que cada líder e órgão governamental pode oferecer à sociedade é a execução diligente e competente de suas próprias tarefas. Quando cada parte foca em melhorar e otimizar sua própria atuação, o conjunto da sociedade se beneficia, pavimentando o caminho para um diálogo mais produtivo e menos polarizado sobre as políticas econômicas e sociais do país.

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