Nos últimos anos, a economia brasileira enfrentou desafios significativos, refletidos tanto nas variáveis macroeconômicas quanto no cotidiano dos trabalhadores. A análise do cenário atual, juntamente com as projeções para os próximos anos, revela um panorama que exige cautela e a necessidade de adaptação por parte de todos os agentes econômicos, especialmente dos trabalhadores assalariados.
Destaco os trabalhadores assalariados, pois enfrentam um dos desafios mais críticos da conjuntura atual: a defasagem salarial diante da inflação. Historicamente, a inflação tem sido um problema persistente na economia brasileira, e a tendência recente segue essa linha. Espera-se uma inflação de 4,59% para 2023, com uma redução para 3,92% em 2024 e 3,50% em 2025, de acordo com as expectativas de mercado do Relatório de Mercado do Bacen. Apesar desses números indicarem um controle da inflação, eles ainda representam um cenário em que o poder de compra do trabalhador é continuamente prejudicado.
Muitas categorias de trabalhadores receberam reajustes salariais inferiores à inflação nos últimos anos, resultando em uma perda real de renda. A perda de poder aquisitivo das famílias tem como consequência direta a redução da demanda. O consumo, que é um dos principais impulsionadores da economia, enfrenta dificuldades quando os trabalhadores não conseguem acompanhar o aumento dos preços. Isso resulta em um ciclo vicioso e perverso: a diminuição do consumo leva à redução da produção, o que, por sua vez, desacelera a economia. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) espelham essa situação, com um crescimento previsto de 2,89% em 2023, desacelerando para 1,50% em 2024 e recuperando-se levemente para 1,93% em 2025.
O câmbio é outro fator relevante para a economia. Para 2023, projeta-se que o dólar esteja a R$ 5,00, com a expectativa de um aumento gradual para R$ 5,08 em 2024 e R$ 5,11 em 2025. Essas variações influenciam diretamente a competitividade das exportações brasileiras e os custos das importações. Com isto, a balança comercial do Brasil, embora robusta com um superávit projetado de US$ 76 bilhões em 2023, está prevista para diminuir para US$ 62,7 bilhões em 2024 e US$ 60 bilhões em 2025.
Por outro lado, a taxa Selic, que está em 11,75% ao ano em 2023, deve diminuir para 9,25% em 2024 e para 8,75% em 2025. Essa redução nos juros pode fomentar investimentos e o consumo, embora sua eficácia dependa de outros fatores econômicos e políticos. A dívida líquida do setor público, um indicador crucial da saúde fiscal do país, está projetada para crescer de 60,70% do PIB em 2023 para 65,90% em 2025. Esse aumento indica desafios no financiamento estatal e na sustentabilidade fiscal a longo prazo. O resultado primário, negativo durante todo o período analisado (-1,10% do PIB em 2023, com uma leve melhora para -0,60% em 2025), reflete a dificuldade de equilibrar as contas públicas. O governo continua com sua tendência de elevados gastos.
Neste contexto econômico desafiador, é crucial que as políticas econômicas se concentrem em fortalecer o poder de compra dos trabalhadores, incentivar investimentos produtivos e assegurar a estabilidade fiscal. Uma abordagem abrangente, que aborde tanto as necessidades imediatas quanto as estratégias de longo prazo, é fundamental para um crescimento econômico sustentável e inclusivo. Manter o poder aquisitivo dos salários não é apenas vital para o bem-estar dos trabalhadores, mas também é um pilar fundamental para o funcionamento eficaz da economia.