Quando foi que paramos de olhar nos olhos?

Da Redação ·
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fonte: Foto ilustrativa/Pixabay

Criolo, um famoso músico brasileiro, disse em uma de suas músicas: “as pessoas não são más, elas só estão perdidas”. A música chamada “Ainda há tempo” traz uma análise do cotidiano brasileiro, com pessoas tristes e cada vez mais isoladas. Eu e você, caro leitor e leitora, somos parte desse cotidiano, seja como observador ou o “doente”.

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Tive a oportunidade entrevistar o psicólogo e psicanalista Dr. Ivan Capelatto, falando sobre a saúde emocional de nossas crianças e adolescentes. Mas fica a pergunta, o que somos, se não crianças que não cresceram direito?

Umas das frases que mais ouvimos na infância e, quase sem querer, repetimos aos nossos pequenos é “engole o choro” ou “isso não é nada, vai passar”. A dor do outro é sempre menor do que a nossa. Certa vez, alguém me disse uma analogia que era mais ou menos assim: a minha unha encravada é mais dolorida que o câncer do amigo, pois ela é minha. A falta de empatia é fruto da nossa incapacidade em saber lidar com as próprias dores.

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Fomos criados para sermos os mais fortes possíveis e, para mim, isso é terrível. Meninos não devem chorar, diziam os mais velhos, entretanto, nunca foi falado sobre a incapacidade de não sentir a dor. Seja física ou emocional, nenhum mindset é capaz de fazê-la desaparecer. Talvez tirar o foco, mas não resolver o problema.

“Tirar o foco” talvez seja a coisa mais fácil e observada nos dias de hoje. Tiramos o foco para não sofrer, mas acabamos perdendo o foco do que também nos faz feliz. Amortecidos por uma sociedade de consumo e prazeres rápidos, por likes e vídeos que em nada nos agrega, a não ser a ausência da própria consciência, criamos um mundo paralelo de felicidade perecível.

Na fala do Dr. Ivan Capelatto, ficou registrada em mim a necessidade de uma autoridade baseada no abraço e no ato, distante do grito e da ordem falada. Refleti e percebi que não se trata apenas de filhos, mas de nossa sociedade. Que cada dia se abraça menos, se toca menos e se importa menos. Quando foi que paramos de olhar nos olhos? Isso faz falta. Mas as pessoas não são más, elas só estão perdidas. Ainda há tempo.