Redes sociais

A influência dos 'Influenciadores' de coisa alguma

Afinal, quem aqui nunca perdeu minutos preciosos do seu dia lendo uma discussão nos comentários de Redes Sociais que sequer fazíamos parte?

Da Redação ·
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fonte: Reprodução

Mais uma semana de polêmicas chega e nada de novo no horizonte. Em algum momento deixamos a internet ser mais do que um meio de comunicação e fonte de informação, de repente, ela se tornou o “lugar-nenhum” onde tudo e todos são ouvidos, mesmo aqueles que nunca saberíamos da existência. Afinal, quem aqui nunca perdeu minutos preciosos do seu dia lendo uma discussão nos comentários de Redes Sociais que sequer fazíamos parte? Elevamos o conceito de fofoca a outro nível, mas para piorar temos especialistas emocionais e nada sutis em sua falta de conhecimento.

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Não se preocupem, não vim para censurar ninguém, ainda que ache que em determinado momento os limites devam ser impostos (vide o Paradigma da Tolerância de Karl Popper). O direito a liberdade de expressão foi confundido com a liberdade de ser criminoso, afinal, também existem discursos que podem ser relacionados a crimes. A desinformação se tornou ferramenta de orientação social, bem como o sensacionalismo se tornou o motor de “influenciadores” de coisa nenhuma. Quanto mais grotesco, mais engajamento.

A última cruzada digital se deu em torno de uma cantora (MC) de funk, que ao ser interpelada por um fã sobre a fala de sua professora, disse com desdém sobre a situação dos professores no país. Não, não quero ficar aqui julgando o teor de seu comentário, pois o que foi visto como chacota (e não vou dizer que não foi), mostra também um pouco da visão de uma maioria do nosso país, que pode até não dizer em voz alta, mas pensa assim como ela. Ela disse ganha em um show mais de R$70.000,00, enquanto um professor que trabalha o mês inteiro não ganha R$5.000,00, dando a entender quem deveria ser ouvido naquele momento. Ou seja, quem é “valorizado” é mais importante. O caso repercutiu negativamente, mesmo entre aqueles que gostam da marra de malvadões na internet.

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O funk em sua essência é resistência, é expressão de comunidades que são assoladas pela pobreza e marginalizadas pela violência. Nós que estamos distantes dessa realidade, consumimos esse conteúdo apenas em situações ímpares, eu mesmo já dancei muito o “Bonde do Tigrão” em casamentos e aniversários – e tendo crescido na periferia de Londrina, nada fora de minha realidade. Os jovens podem gostar do “ritmo quente” do funk, ainda que muitas letras sejam extremamente sexualizadas (os proibidões), o que pode antecipar questionamento e até mesmo condutas vindouras. Em miúdos, sexualizamos crianças e jovens, que passam a consumir esse conteúdo, os reproduzindo não só em seus lares, mas na escola e, pior, na internet em troca de “likes”. Esse não é um texto para falar mal do funk, afinal, muitas músicas sertanejas e de outros estilos possuem seus “duplos sentidos” e sexualização, o que demostraria apenas uma questão de classe e “cor” (socialmente o funk está associado a comunidade negras, o que pode não ser uma plena realidade, mas enquanto imaginário social, deve ser levado em consideração) em meus comentários.

Acontece que a normalização desses conteúdos e sua massiva reprodução transforma toda e qualquer crítica a um entrave classicista e social. Quando eu era um jovem mancebo (com a redundância que se aplica), ouvia meus amigos e seus rap, que a princípio abominava por achar suas letras pesadas e demasiadamente apologéticas. Noutra fase de minha existência, já com a maturidade necessária, pude perceber que a poesia marginal do rap, como a dos Racionais MCs, não fazia apologia às drogas, pelo contrário, falava de modo cru sobre os seus efeitos devastadores. O que acontecia é que assim como eu, outros jovens interpretavam ao pé da letra as frases agressivas de Mano Brown e, para eles, havia ali motivo para se rebelar. Entendo hoje que a rebelião era necessária, mas errávamos o alvo.

O problema que aqui busco analisar não se trata exclusivamente do caso da “influencer” e MC Pipokinha, pois teríamos que adentrar em questões sexistas e de um dito empoderamento feminino que reproduz uma objetificação do corpo e sua extremada sexualização feita por nós homens.

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