A criança que vive dentro de cada um de nós

Da Redação ·
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Na semana passada, caro leitor e leitora, me arrisquei a brincar pelo campo da fantasia literária, gosto de dar nomes fictícios a personagens que não são a minha representação, mas parte de mim e do que sou. Me lembrei que de uma fase da minha vida onde escrever histórias fantasiosas me permitiam sentir em plenitude aquilo que não compreendia. Tenho dezenas dessas histórias perdidas em pastas virtuais e físicas, cada uma sobre uma fase e mais diversas emoções. 

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Na semana que antecede o “Dia das Crianças”, pus-me a refletir sobre essa experiência que é crescer. Não sei você, caro leitor e leitora, mas não me recordo do dia que eu cresci, só sei que um dia, numa hora qualquer eu já não era mais o mesmo. O que abandonamos com esse processo? Lembro, que o meu dia era muito mais longo do que é hoje. Chegava em casa da escola, almoçava, dormia, fazia tarefas, brincava, corria para lavar a louça antes que minha mãe visse e, para minha felicidade, ainda eram 15h. Meu maior medo era perder os meus pais e de ficar sozinho, sentimentos que ainda tenho, mas alterados em grau, gênero e número. 

A partir do momento em que virei pai, além do medo de perder os meus pais, sinto também o medo de faltar aos meus filhos. Que mundo injusto seria esse em que eu pedisse para morrer antes dos meus pais, pois hoje imagino a dor que seria. Graças a Deus, não perdi ninguém, apenas um pouco de mim mesmo. O que será que o Gui de 10 anos diria para o Bomba de 35 anos? Será que realizei tudo aquilo que sonhei e planejei? A resposta felizmente é não. 

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A vida é dura, talvez você saiba melhor do que eu, mas há um lado bom nisso. E não estou falando aqui nada inovador, nem mesmo daqueles papos de coachs quânticos, mas simplesmente de que a dor também ensina. Não quero relativizar a dor, pois todos quando sentimos algo desagradável, sempre achamos que aquela é a pior sensação do mundo, mas como disse em um texto anterior: “podia ser pior”. Se Deus atendesse tudo aquilo que pedimos, talvez as coisas seriam bem diferentes, o que não quer dizer que para melhor. 

Converse com a sua criança interior e tente perceber quais situações o mudaram. Sei que somos acostumados a planejar o futuro, mas se não soubermos de onde viemos, podemos perder o vínculo com o que mais importa, que somos nós mesmos. 

Hoje, sendo pai de três lindas crianças, arteiras como todas deveriam ser, tenho a oportunidade de reexperimentar a infância, com a responsabilidade de direcioná-las para o melhor caminho, que não é, necessariamente aquilo que eu planejar, mas as que as tornem felizes. Descobri que presentes de Dia das Crianças são momentos, pois os brinquedos se quebram e se tornam mais um na caixa do canto da sala. Entretanto, brincar, com ou sem brinquedos, imaginar, criar histórias, abraçar e sentir, é para sempre. 

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Nessa semana que passou, um irmão de alma, um amigo de infância completou a mesma idade que eu. Ele é uma ponte com o meu passado, presente no meu futuro. O entrevistei na semana passada, o mantive perto de mim, cada vez mais perto para que eu não esquecesse quem eu era, logo, quem sou. Dois dias depois, meu pai comemorou seus 76 anos, um privilégio que poucos podem ter. Posso não ter realizado todos os sonhos do pequeno Gui, mas estou satisfeito do que tenho feito da vida dele, pois tenho mais momentos do que presentes. Isso é o que importa. 

Feliz Dia das Crianças, para que as que são, para as que foram e para aquelas que conseguiram permanecer.