Procuradoria criou 'transe coletivo' e 'mito' sobre Cabral, segundo defesa

Autor: Da Redação,
terça-feira, 22/08/2017

ITALO NOGUEIRA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A defesa de Sérgio Cabral (PMDB) afirmou em suas alegações finais que o Ministério Público Federal criou um "mito" em torno do ex-governador, acusado de cobrar 5% de propina sobre os grandes contratos em sua gestão.

Nas alegações finais apresentada à Justiça Federal no processo sobre pagamento de propina da Andrade Gutierrez, os advogados pedem a absolvição do peemedebista, alegando que as acusações não foram comprovadas.

"Todo o discurso sanguissedento estrategicamente criado pela acusação, para obnubilar os 22 anos de excelentes serviços prestados pelo acusado ao Estado do Rio de Janeiro -com dois recordes de votação eleitoral- tem como justificativa apenas planilhas impressas fornecidas por pessoas que formalizaram com o parquet [Procuradoria] contratos de delação, cujas cláusulas são tantas quanto as suas próprias culpas", afirma a defesa.

A peça repete as versões já apresentadas por Cabral em audiências na Justiça. Ele nega ter cobrado 5% de propina e afirma que apenas se apropriou de sobras de caixa dois de campanhas eleitorais.

Os advogados Rodrigo Roca e Luciano Saldanha afirmam que a Operação Calicute, que prendeu o ex-governador em novembro, "deu início ao que viria a ser a maior caçada judicial da história forense em terras fluminenses".

"Foi assim que o Ministério Público Federal conseguiu criar um ambiente de transe coletivo e um mito em torno do acusado, na esperança de que a repetição de bordões acusatórios, à exaustão, pudesse transformá-los em verdade", afirmou.

Neste processo, Cabral é acusado de cobrar uma mesada de R$ 350 mil da Andrade Gutierrez pelas obras que seriam realizadas em sua gestão. A denúncia apresentada afirma que R$ 7,7 milhões foram efetivamente pagos. A empreiteira teria se recusado a dar mais em razão de prejuízos obtidos com as obras.

JOIAS

No documento apresentado à Justiça, o ex-governador nega também que tenha adquirido joias para lavar dinheiro.

"Quem compra joias, de qualquer valor, e as usa, em nenhuma civilização estará tentando ocultar ou escamotear o seu poder aquisitivo. Quando muito estaria ostentando, até porque as joias refletem o seu valor de custo", escreveram os advogados.

Ela também busca se afastar de seus ex-assessores Carlos Emanuel Miranda e Luiz Carlos Bezerra, apontados pela Procuradoria como os responsáveis por recolher a propina em dinheiro vivo.

"O defendendo, reprise-se, não detinha o controle pleno sobre aqueles que o cercavam e não pode responder, nem em tese, por condutas de terceiros com as quais não aquiesceu expressamente, sejam de natureza criminal ou não", diz a defesa.

Cabral já foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 14 anos e meio de prisão por propina paga pela Andrade Gutierrez em razão das obras do Comperj. Ele responde, no total, a 14 ações penais, além de ter outras investigações em curso.