Advogados e políticos fazem ato de desagravo a defensores de Lula

Autor: Da Redação,
domingo, 21/05/2017

WÁLTER NUNES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um evento convocado a pretexto de ser um ato de desagravo aos advogados do presidente Lula nos processos em que ele responde na Lava Jato virou palco de duras críticas às investigações conduzidas.

O ponto principal foram os últimos episódios da delação dos donos da JBS, que incluíram a gravação de conversas com o presidente Michel Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado Rocha Loures (PMDB-PR).

O advogado Antônio Mariz, advogado de Temer, foi o centro das conversas. "Nunca vi nada parecido em 40 anos de advocacia", disse Mariz. "O açodamento do relator [do processo no STF, Edson Fachin] para apurar acusações baseadas em gravação por hora contestada e com prova capenga é inexplicável" diz Mariz.

E acrescentou falando sobre as consequências políticas do episódio. "Não se teve nenhum cuidado nem atenção com estabilidade do país, que está se recuperando na área econômica e social", disse.

O evento foi convocado pelo advogado Alberto Toron após o depoimento do presidente Lula ao juiz Sérgio Moro. Toron considerou que os advogados de Lula foram desrespeitados durante a audiência.

Cristiano Zanin Martins e José Roberto Batochio têm protagonizado duros embates com o juiz federal Sergio Moro nas audiências. O encontro foi no restaurante Figueira Rubayat, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista.

"Convoquei o evento antes do episódio com o presidente da República" disse Toron.

Alberto Toron é citado na delação de Joesley Batista, dono da JBS, como sendo o destinatário de R$ 2 milhões que o senador tucano pediu ao empresário. Aécio e sua irmã, segundo Joesley, pediram o dinheiro para que Aécio pagasse os honorários de seu defensor na Lava Jato. Aécio responde a cinco inquéritos na operação.

A investigação da Polícia Federal apontou, porém, que o dinheiro dado pelo empresário a Aécio não foi parar nas mãos de Toron, mas sim na empresa Tapera Participações, de Gustavo Perrella, filho do senador Zezé Perrella (PMDB-MG). "Eu não recebi esse dinheiro", disse Toron.

Ele criticou a investigação. "É o caso clássico do agente provocador. A PGR teve o topete de mandar um agente provocador para conversar com o presidente da República." Agente provocador, segundo Toron, é alguém mandado para induzir uma situação afim de incriminar outra pessoa.

Entre os convidados estavam o jurista Celso Antonio Bandeira, o presidente do PT, Ruy Falcão, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Mais de 200 pessoas confirmaram presença, segundo os organizadores.

Fábio Tofic Simantob, presidente do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), disse fez questão de comparecer ao jantar porque é "um momento da advocacia se unir". "É preciso discutir as ofensas ao direito de defesa e à própria advocacias" disse. "A advocacia está virando um obstáculo, um mero penduricalho dentro dos processos."

Tofic defende o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e era advogado de João Santana e Monica Moura, mas saiu da defesa após os clientes decidirem fazer delação premiada.