A jovem, de apenas 24 anos, que sobreviveu ao ataque que deixou dois universitários mortos em Londrina, no Norte do Paraná, prestou depoimento para a Polícia Civil (PCPR) e relatou o desespero que viveu no momento do crime. Com detalhes chocantes, a vítima contou que implorou para não ser morta pelo homem.
O suspeito invadiu a casa em que a jovem dormia com a amiga Júlia Beatriz Garbossi Silva, 23 anos, e com o namorado Daniel Takashi, 22 anos. Os dois morreram no local, ambos esfaqueados. A vítima informou às autoridades que acordou com o homem tentando enforcá-la e, em um primeiro momento, achou que estava tendo uma paralisia do sono. O crime ocorreu na manhã do último domingo (3), no Jardim Jamaica, Zona Oeste da cidade.
"Veio pra cima de mim no sofá, tentando me enforcar, eu só dizia pelo amor de Deus, eu tenho família. Consegui parar a mão dele com o pé. Pedi pelo amor de Deus para não me matar. Ele guardou a faca no bolso. Falou que queria conversar comigo", disse. O depoimento da jovem foi obtido com exclusividade pela RPC, e o nome e imagem dela foram mantidos em sigilo para segurança e para não atrapalhar as investigações.
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A sobrevivente contou ainda que além de tentar enforcá-la, o suspeito, que está preso preventivamente no Complexo Médico Penal (CMP) em Pinhais, também a esfaqueava. Gotas de sangue fizeram a jovem entender que não estava sonhando. "Comecei a sentir as gotas quentes de sangue, isso me trouxe de volta para a realidade."
A vítima disse que o namorado, Daniel, e a amiga, Júlia, morreram tentando defendê-la. Ela lembra que chegou a puxar o cabelo do homem para tentar evitar o ataque contra a amiga. Durante o ataque, segundo a vítima, o homem falou que os jovens estavam no lugar errado e na hora errada. "Ele falou 'você está em estado de choque, né? Eu não tinha nada contra os seus amigos, eles só estavam no lugar errado e na hora errada. Se eles não tivessem aqui eu viria só conversar com você'", relatou.
Processo de convencimento
Após matar os dois jovens, o suspeito amarrou a vítima que sobreviveu, sentou do lado dela e disse que só queria conversar com ela. Segundo depoimento da garota, ele afirmou que não queria ter matado Daniel e Júlia. Investigações da polícia apontam que o homem era um "stalker", termo em inglês que significa perseguidor.
Depois da ação, a vítima insistiu para o agressor a levá-la para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Sabará. "Eu falei que ia morrer. Ele disse que ia fazer um curativo em mim para continuar conversando. Amarrou a minha mão com uma corda [...] Ele falava 'se você tentar fugir, eu vou te matar'." Para convencer o homem a levá-la ao médico, a jovem disse que mentiria e afirmaria que a casa dela havia sido invadida. O suspeito pediu garantias e afirmou que se ela estivesse enganando ele, mataria outras pessoas da família da jovem, além dos gatos de estimação dela.
Ele enfim à levou até à UPA e, durante o atendimento, ele afirmou que os dois foram vítimas de uma tentativa de roubo. Em uma sala separada, entretanto, a jovem contou a verdade para a equipe médica. Na hora, os socorristas acionaram a polícia. Com o suspeito, os agentes encontraram uma faca na cintura dele e foi preso em flagrante.
Segundo a PCPR, ele passará por uma avaliação psicológica. Em nota, a defesa do suspeito, Diheyson Furlan, disse que o jovem teve "uma crise de esquizofrenia". A defesa deve pedir um incidente de insanidade mental para determinar se é semi-imputável, ou inimputável.
'Stalker'
Conforme a jovem e investigações da polícia, o suspeito perseguiu a vítima nas redes sociais. Dias antes do crime, ele criou perfis fakes para tentar se aproximar. Sem sucesso, decidiu ir até a jovem pessoalmente.
A vítima contou ao delegado João Reis que os dois trabalharam juntos e, nos últimos meses, o rapaz demonstrou interesse amoroso nela. A jovem confirmou, no entanto, que deixou claro ao homem que queria somente amizade e nunca se envolveu com ele dessa maneira. "Parecia que ele entendia, mas depois ficava muito em cima. Comecei a ficar assustada [...] que eu não tava interessada e achava melhor ele se afastar. Aí ele começou a se tornar bem invasivo."
O inquérito deve ser concluído na próxima semana.
*Com informações g1 Paraná.