O mercado de juros se ajustou em forte queda, repercutindo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e a dinâmica baixista das curvas no exterior. No documento, os diretores reforçaram a mensagem do comunicado, de que o ritmo de cortes da Selic em 0,50 ponto porcentual é apropriado para as próximas reuniões, mas ainda assim o mercado manteve as apostas na aceleração para 0,75 ponto no Copom de setembro e vê agora possibilidade de taxa terminal abaixo de 9%. Apesar disso, a curva perdeu inclinação com os vértices intermediários e, principalmente, longos mostrando queda mais acentuada.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,460%, de 12,476% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu a 10,44%, de 10,53%. No miolo da curva até o DI janeiro de 2027, as taxas voltaram a operar na casa de apenas um dígito. A deste contrato projetava 9,98%, de 10,11% na terça. O DI para janeiro de 2029 cedeu a 10,44%, de 10,57%.
De forma geral, o mercado viu a ata com um tom mais hawkish do que o comunicado, o que, no entanto, não foi suficiente para fazer refluírem as apostas de que o ritmo pode ser acelerado nos próximos encontros. No meio da tarde, a curva precificava entre 30% e 35% de chances de redução de 0,75%, contra entre 70% e 65% de probabilidade de que se repita 0,50, quadro semelhante ao de segunda-feira (32% a 68%). Para o fim do ano, a projeção é de 11,50% e para o fim de 2024 já há apostas na taxa abaixo de 9% (entre 9% e 8,75%).
Para aqueles que sentiram falta de uma explicação mais técnica para a opção pelo corte de 0,5 ponto em detrimento do 0,25, o Copom argumentou na ata melhora do quadro inflacionário aliada à queda das expectativas em prazos mais longos. "Esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário", disse o BC no comunicado e na ata.
Ante a desconfiança de que depois da entrada dos dois novos diretores (Gabriel Galípolo e Ailton Aquino) com votos mais "dovish" o colegiado poderia ficar ainda menos ortodoxo no futuro, dada a expiração de mandato de dois membros chamados de "mais técnicos" (Fernanda Guardado e Mauricio Moura) no fim do ano, a ata disse que o colegiado teve entendimento "unânime" de que deve-se garantir a credibilidade e a reputação do BC em qualquer formação da diretoria. "Foi unânime o entendimento de que, independentemente da composição da diretoria colegiada ao longo do tempo, deve-se garantir a credibilidade e a reputação da instituição", diz a ata.
"Depois da virada de mão do Copom, o mercado está testando os limites do BC", afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, para explicar o comportamento dos DIs.
Para Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, o fechamento da curva foi na contramão do que mostrou a ata, e o cenário para os próximos cortes está agora ainda mais dependente dos dados. "É esperado que a inflação vai voltar a subir e ainda há o risco para combustíveis", afirmou, referindo-se à defasagem entre preços internos e externos.
Borsoi, da Nova Futura, destaca ainda que a reação da curva à ata foi potencializada pelo ambiente de queda global de juros, após a frustração com a balança comercial de julho na China, que pesou bastante no setor de commodities, embora o petróleo tenha virado para cima no meio da sessão. Além da China, receios com o setor bancário nos Estados Unidos agravaram a aversão ao risco, provocando uma corrida para a segurança dos Treasuries.
A taxa da T-Note de dez anos, referência global, chegou a cair abaixo de 4% pela manhã, mas no fim da tarde estava em 4,02%, de 4,08% no fim da tarde da segunda-feira.