Persiste incerteza sobre desaceleração da economia e sobre sua composição, diz BC na ata

Autor: Cícero Cotrim e Célia Froufe (via Agência Estado),
terça-feira, 17/12/2024

O Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que há elementos que sugerem uma desaceleração da atividade futura no Brasil, como o maior aperto das condições financeiras. A análise consta do parágrafo 7 da ata da reunião da semana passada que foi divulgada na manhã desta terça-feira, 17, pelo Banco Central.

O Comitê ressaltou no documento que a economia tem surpreendido e apresentado notável resiliência.

"O Comitê acompanhará tal processo, entendendo que a redução do hiato previsto em suas projeções é inerente ao funcionamento ordenado dos mecanismos de transmissão e ao atingimento da meta de inflação", mencionaram seus integrantes.

Além da incerteza sobre o processo da desaceleração, a ata conhecida nesta manhã revelou que persiste o debate se a desaceleração prevista se daria por uma restrição dos fatores de produção ou por uma queda de demanda, com impactos muito distintos sobre o processo inflacionário.

Crédito e cautela

O Copom enfatizou ainda ao analisar a resiliência da atividade doméstica que os mercados de crédito e, principalmente, de capitais têm surpreendido ao longo do ano. Na ata, o colegiado ressaltou que o crescimento de volume tem ficado acima do que era esperado, apesar de taxas de juros elevadas.

"Ressalta-se que, apesar da resiliência da atividade, um ambiente de alta de juros, com nível de inadimplência e comprometimento de renda elevados, requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito", trouxe o documento, na mesma linha já bastante enfatizada pelo diretor de Fiscalização do BC, Ailton Aquino, no mês passado.

Durante entrevista coletiva para comentar o Relatório de Estabilidade Financeira (REF), ele disse que o aumento do apetite por risco das instituições financeiras é claro, mesmo diante do aumento da taxa Selic. Isso, em conjunto com o endividamento das famílias e o comprometimento de renda, pode levar a uma elevação da inadimplência, afirmou.

"Temos algumas forças relevantes: subida da taxa, endividamento das famílias, comprometimento de renda e maior apetite a risco. O que isso pode gerar, no futuro, é uma eventual elevação da inadimplência', comentou Aquino na ocasião, mencionando a resiliência do mercado de trabalho, com incrementos de renda, como possível explicação para o aumento do apetite por risco.