Ibovespa cai e perde o nível histórico dos 137 mil pontos, apesar de NY e commodities

Autor: Maria Regina Silva (via Agência Estado),
quinta-feira, 29/08/2024

Após a nova marca histórica de fechamento na quarta-feira, o Ibovespa cai nesta quinta-feira, 29. O recuo ocorre apesar das altas moderadas nos índices de ações em Nova York e de mais de 2,00% nas cotações do petróleo no exterior. O minério de ferro em Dalian, na China, também avançou (0,53%) no fechamento desta quinta-feira.

"O que salva um pouco são as ações de mineradoras, que avançam", pontua Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos. Na ausência de novidades, alguns investidores aproveitam para embolsar lucros, avalia.

Conforme lembra Kevin Oliveira, sócio e advisor da Blue3, a lateralização do Índice Bovespa nesta manhã ocorre após recentes altas e o fechamento histórico na véspera e reflete um compasso de espera dos investidores por novidades, como o PCE mensal amanhã nos EUA, e como serão as próximas declarações de Gabriel Galípolo, cuja indicação foi confirmada ontem para assumir a presidência do Banco Central.

"Aqui também temos de ver como sairão os próximos dados, diante da força da economia e como ficarão as expectativas de inflação", diz Oliveira, ressaltando o avanço da desancoragem das expectativas que tem elevado a pressão para aumento da taxa Selic no Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro.

Ontem, o Índice Bovespa fechou com alta de 0,42%, aos 137.343,96 pontos, na esteira da confirmação da indicação de Galípolo para o BC, a despeito do recuo das bolsas americanas, que aguardavam o balanço da Nvidia.

"A percepção geral foi positiva pelo fato de ter se confirmado algo que já vinha sendo consolidado (Galipolo assumindo a presidência), também por enxergarem que tanto a autonomia do BC como o compromisso com as metas de inflação e ancoragem vão ser seguidas", avalia Marcelo Vieira, head da mesa de renda variável da Ville Capital. Além disso, fica a espera pela indicação de novos nomes da diretoria do Banco Central e pela sabatina de Galípolo.

Nesta manhã, os índices de ações dos EUA avançam, em meio à segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que mostrou crescimento anualizado de 3% no segundo trimestre. O resultado superou a leitura anterior e a expectativa de analistas, de alta de 2,8% em ritmo anualizado em ambos os casos. Já o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu ao ritmo anualizado de 2,5% no segundo trimestre, perdendo força depois de avançar 3,4% no primeiro trimestre.

"Os números vieram bons, e afastam o mede de uma recessão nos Estados Unidos. Isso alivia os mercados", afirma Faust.

A expectativa maior, contudo, é pela divulgação do PCE mensal relativo a julho, amanhã, que poderá dar mais pistas em relação à política monetária americana, cujas apostas majoritárias são de queda começando em setembro. Aliás, hoje dados europeus reforçaram apostas de mais cortes dos juros pelo Banco Central Europeu (BCE). Na noite de sábado, sairão dados chineses.

Apesar do arrefecimento do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) a 0,29% em agosto, após alta de 0,61% em julho, Oliveira, da Blue3, pondera que o indicador não traz alivio, dados os avanços das expectativas inflacionárias, e que não seria suficiente para impedir uma alta da Selic em setembro.

Por isso, Vieira, da Ville Capital, ressalta a posição do Galipolo nos últimos meses convenceu o mercado de que o diretor "está pelo BC e não pelo governo. Resta saber se isto vai perdurar ou não", diz. Outro ponto, segundo o head da mesa de renda variável da Ville Capital, o mercado gosta da qualidade técnica de Galípolo, o que mantém a transição de um BC qualitativo e técnico, e não sujeito a pressões políticas.

Às 11h20, o Ibovespa cedia 0,59%, aos 136.527,09 pontos, ante queda de 0,64%, na mínima aos 136.462,18 pontos. O dólar à vista tinha alta de 1,67%, a R$ 5,6480, na máxima.

Na B3, os índices setoriais de empresas mais sensíveis aos juros erma destaque de queda. No Ibovespa, Azul e CVC cediam entre 24,14% e 4,88%, liderando as baixas da carteira. Já Gerdau estava na ponta oposta, com alta de 2,55.

No caso da Azul, segundo a Bloomberg, a empresa considera diversas opções para lidar com sua dívida iminente, incluindo uma oferta de ações e a solicitação de proteção contra credores nos EUA, conhecida como Chapter 11.