A dívida de R$ 11 bilhões da Light, informada no pedido de recuperação judicial da empresa feito na sexta-feira, é o segundo golpe na reputação de Beto Sicupira, um dos maiores acionistas da Americanas.
Somadas, as dívidas não honradas pelas duas empresas neste ano chegam a R$ 54 bilhões. Os credores vão desde pequenos negócios a acionistas minoritários, investidores debenturistas e passivos trabalhistas. Sicupira, de 74 anos, tem 10% de participação na Light.
O investidor e empresário, que integra o 3G Capital ao lado de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, já perdeu mais de 80% do investimento feito na empresa.
Sicupira comprou 30 milhões de ações da Light em outubro de 2020, pelo valor de R$ 550 milhões. Hoje, o valor é de R$ 110 milhões. A perda é de R$ 440 milhões.
O investimento na empresa que fornece energia para o Estado do Rio de Janeiro foi feito com a intenção de lucrar com uma virada positiva na trajetória das ações da empresa, o que não aconteceu como esperado.
Segundo o índice de bilionários da Bloomberg, Sicupira é dono de uma fortuna estimada em US$ 8,71 bilhões (R$ 42,86 bilhões), o que o coloca entre as pessoas mais ricas do Brasil. Procurado, o 3G Capital não se manifestou.
INTERVENÇÃO
Apesar dos boatos sobre a recuperação judicial da empresa de energia elétrica há algumas semanas, o pedido surpreendeu muita gente. Investidores reagiram de forma negativa e empurraram as ações da companhia a uma perda de mais de 17%. O anunciou despertou uma onda de questionamentos sobre qual será a resposta dos órgãos reguladores para o pleito e os potenciais impactos no mercado de crédito à infraestrutura.
Para um especialista do setor elétrico, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) teria se precipitado na repercussão, sem o pleno conhecimento do conteúdo da ação judicial, que veio à tona após a publicação da nota. No mercado, há dúvidas se a estratégia da empresa não vai contra a lei, que proíbe pedidos de recuperação judicial de concessões de energia, o que reforçaria a necessidade de intervenção.
Para o ex-diretor da Aneel, Edvaldo Santana, não haveria razões para pedir recuperação da holding já que não há dívidas nesta empresa, tendo sido o meio de alcançar a distribuidora, tentando contornar a lei. (Colaboraram Luciana Collet, Wilian Miron, Ludmylla Rocha e Cynthia Decloedt)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.