Os juros futuros terminaram a sessão entre a estabilidade e leve alta, após operar em queda ao longo da tarde, com a aceleração do recuo dos rendimentos dos Treasuries e do petróleo. O retorno da T-Note de dez anos tombou para perto de 4,20% nas mínimas, apoiado em discurso considerado "dovish" do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. O mercado chegou a ensaiar uma realização de lucros pela manhã, com avanço das taxas, e o movimento não prosperou, mas no fim da tarde pesou o aumento do desconforto fiscal.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,300%, estável ante o ajuste de 10,308% ontem. A do DI para janeiro de 2026 caiu de 9,95% para 9,93%. O DI para janeiro de 2027 encerrou em 10,06%, de 10,05%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa a 10,52, de 10,49%. No balanço da semana, as taxas longas cederam em torno de 25 pontos-base em relação à última sexta-feira e as curtas, cerca de 15 pontos.
Com os principais eventos do dia programados para a tarde, o mercado dedicou a manhã a um ajuste à queda de ontem, descolando-se do comportamento de baixa da curva americana. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falaria às 12h30 e o do Fed, Jerome Powell, às 13h. Enquanto as declarações de Campos Neto foram absorvidas sem maiores reações nos ativos, a fala de Powell deu gás ao alívio nos Treasuries.
Na Spelman College, em Atlanta, Powell fez as ponderações de costume, ao afirmar que é cedo para discutir corte de juros e que a política monetária deve seguir em território restritivo por algum tempo para que a inflação retorne à meta de 2%. Mas o que chamou a atenção do mercado foi o fato de que ele desta vez não citou a possibilidade de voltar a apertar juros.
"Powell já não fala mais em novas altas e o mercado já começa a ficar comprado em queda", afirmou o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, Daniel Leal. Pela ferramenta do CME Group, uma redução acumulada de 1,25 ponto porcentual na taxa básica até o fim de 2024 agora é a hipótese mais provável.
Leal destacou o impacto das declarações no juro da T-Note de dez anos que caiu a 4,21% nas mínimas. "A T-Note está caindo mais de 10 pontos em relação a ontem e isso se reflete no DI", complementou. A fala do dirigente também inverteu a alta do índice DXY e levou, no Brasil, o dólar a até R$ 4,86 no piso da sessão. Várias taxas do DI passaram então a testar a marca de um dígito, na linha do que já havia sido visto ontem com o contrato para janeiro de 2026.
Nesse contexto, o mercado tinha tudo para dar sequência ao rali de novembro, até porque o petróleo voltou a fechar hoje em queda, de mais de 2%.
Porém, o alívio das taxas passou de "firme" para "moderado" no fim da tarde, em meio ao noticiário fiscal negativo. O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Danilo Forte (União-CE), negou que em conversa telefônica com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter dito que era improcedente a informação de que rejeitaria a emenda Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso. Ele confirmou ao Estadão/Broadcast que vai rejeitar a emenda que limita o tamanho do bloqueio de despesas do Orçamento.
A rejeição cria uma saia-justa para Haddad, que conseguiu o aval do presidente Lula para manter a meta fiscal de zerar o déficit em 2024 com base no entendimento de que o contingenciamento, se necessário, não passaria de R$ 23 bilhões a R$ 26 bilhões.
Com relação à participação de Campos Neto no almoço da Febraban, havia alguma expectativa sobre o que viria após as falas ontem dovish do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo. Campos Neto defendeu que o ritmo de cortes de 0,50 ponto porcentual segue apropriado e que com as variáveis como estão hoje, ele não faz um guidance de qual será a Selic terminal. "Com as variáveis que temos na mão, ainda precisamos de juro em campo restritivo", disse.
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