Um novo foco de tensão mantém o setor bancário global nos holofotes. Desta vez, o temor vem da Alemanha, com o Deutsche Bank reacendendo as preocupações de investidores na esteira da venda do Credit Suisse ao UBS e do colapso de três bancos nos Estados Unidos. Agora, a piora começou com investidores do mercado financeiro elevando em muito o custo dos instrumentos financeiros que protegem contra calotes do maior banco alemão, o que fez suas ações desabarem em Frankfurt. A tensão contaminou os papéis de outros bancos europeus e em Wall Street, como JPMorgan Chase e Citigroup.
As ações do Deutsche chegaram a cair 14% ontem com temores sobre a saúde financeira da instituição. O CDS (credit default swap, uma espécie de seguro contra calotes) do banco subiu de 142 pontos na última quarta-feira para mais de 200 pontos ontem, o maior nível em quatro anos, realimentando os temores globais sobre a saúde do sistema financeiro mundial. Os papéis se recuperaram um pouco no decorrer do dia e fecharam em queda de 8,5% na Bolsa de Frankfurt.
Com a piora da percepção sobre o banco, o chanceler alemão Olaf Scholz disse à imprensa europeia que o banco, após uma reestruturação e modernização de seus negócios, passou a ser "muito lucrativo e não há razão para preocupação". De fato, o Deutsche tem dado lucros nos últimos dez trimestres, segundo a CNBC.
Os papéis do Deutsche Bank foram impactados por um anúncio do banco de que planeja resgatar US$ 1,5 bilhão em dívida subordinada no próximo dia 24 de maio, bem antes do vencimento, que é só em 2028. Em geral, o resgate antecipado de títulos de dívida é feito como uma indicação de boa saúde financeira. Mas, no caso do Deutsche, o efeito acabou sendo o contrário.
O banco afirmou que tem "todas as aprovações regulatórias necessárias" para esta decisão, mas causou um profundo impacto no setor bancário, que entrou no vermelho depois da divulgação da notícia. O Deutsche Bank especificou que vai reembolsar as obrigações a 100% do seu valor nominal "com juros corridos até a data de amortização".
Banco perdeu só este mês quase 8 bi de euros em valor de mercado
Só este mês, o Deutsche Bank perdeu perto de 8 bilhões de euros em valor de mercado, com sua ação acumulando queda de 30% na Bolsa de Frankfurt. Ontem, o banco alemão era avaliado em 19 bilhões de euros. Em Wall Street, ações de grandes bancos sofrem com a nova onda de preocupação com o setor.
Para o diretor da TS Lombard para Europa, Davide Oneglia, a contínua turbulência bancária nos EUA estimula uma busca de investidores por elos fracos na Europa. O fato de o Deutsche Bank ser o próximo da linha de fogo "não surpreende" uma vez que o banco foi associado ao Credit Suisse no passado diversas vezes devido a falhas de estratégia e envolvimento em escândalos financeiros, na sua visão. "Depois de uma longa e dolorosa reestruturação, agora o Deutsche Bank não é o mesmo de 2016 e, ironicamente, até registrou lucros recordes em 2022, mas é conhecido por ter uma exposição relativamente grande, de 16,8 bilhões de euros, ao setor imobiliário comercial dos EUA", diz Oneglia, da TS Lombard.
No ano passado, o Deutsche reportou lucro antes de impostos 65% maior ante 2021, para 5,6 bilhões de euros, o maior em 15 anos. "Nos últimos três anos e meio, transformamos com sucesso o Deutsche Bank", disse o CEO do banco, Christian Sewing, ao anunciar os resultados, há cerca de um mês.
Na visão de especialistas, ainda é cedo para saber se o novo foco de tensão com os bancos tem por trás mais problemas à frente ou é apenas mais um capítulo de nervosismo dos investidores. Para Oneglia, da TS Lombard, parece ter mais relação com "falta de confiança" do que com os fundamentos do setor na Europa.
A preocupação de investidores com o setor bancário persiste a despeito do coro uníssono de órgãos reguladores para assegurar a segurança do sistema financeiro internacional.