Receita da indústria para inovação cai a menor patamar registrado pelo IBGE

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 09/12/2016

FILIPE OLIVEIRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A indústria brasileira registrou o menor volume de investimentos em inovação em relação a suas vendas desde que o indicador começou a ser mapeado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2000.

Em 2014 -último ano de referência para o estudo, divulgado nesta sexta-feira (9)-, as indústrias dedicaram 2,12% de suas receitas líquidas (descontando impostos sobre as vendas) à inovação.

O número indica uma queda de 10,17% em relação a 2011 (dado anterior), quando o percentual era de 2,36%.

Outra queda, ainda mais acentuada (55%), foi no segmento de energia e gás, em que a relação entre receita e investimentos caiu de 1,28% em 2011 para 0,57% em 2014.

Alessandro Pinheiro, gerente do IBGE responsável pela pesquisa, diz que os resultados apontam para um menor esforço de inovação na indústria nacional e uma perda de qualidade no processo, como consequência.

"Esse é um indicador muito sensível à conjuntura econômica, que já trazia dificuldades desde a crise de 2008. Sua queda mostra uma deterioração de qualidade na inovação."

Para a maioria das empresas da indústria que desenvolveram novos produtos ou processos entre 2012 e 2014, o obstáculo mais importante para a inovação é o custo que ela traz -86% delas atribuem relevância alta ou média a essa questão.

Foram citados ainda como desafios, por 82,1% das empresas, os riscos da inovação e escassez de fontes de financiamento (68,8%).

SETORES

A queda na indústria e no segmento de eletricidade e gás não foi acompanhada pelo restante da economia, que se manteve praticamente estável -foi de 2,54% em 2011 para 2,56% em 2014.

O esforço de inovação foi puxado pelo setor de serviços, no qual as empresas dedicaram 7,81% de suas receitas para o desenvolvimento de produtos, contra 4,96% em 2011.

Dentro do setor, destaca-se o segmento de telecomunicações, que acelerou seus investimentos para a implementação das tecnologias de telefonia 3G e 4G, diz Pinheiro.

Ele aponta que, entre 2012 e 2014, 40% das empresas que realizaram inovação contaram com algum apoio do setor público para o processo, enquanto entre 2009 e 2011 haviam sido 34,2%.

Com a piora do quadro econômico e fiscal brasileiro, a tendência é que esse percentual caia, impactando negativamente o cenário da inovação no país.

EMPRESAS INOVADORAS

Se, por um lado, o esforço de inovação em relação às vendas diminuiu, a pesquisa mostrou leve recuperação no percentual das companhias que estão buscando criar novos produtos e processos.

Em 2014, 36% das empresas brasileiras com 10 ou mais funcionários trabalharam em algum projeto de inovação, enquanto em 2011 foram 35,7% e em 2008, 38,61%.

Levando em conta dados da Eurostat (organização estatística da Comissão Europeia) referentes ao período entre 2010 e 2012, a participação de negócios inovadores no Brasil, em relação ao total de negócios, fica abaixo da encontrada em países como Alemanha (66,9%), Irlanda (58,7%) e Itália (56,1).

Ela se aproxima da encontrada na Croácia (37,9%) e fica um pouco acima dos índices de Eslováquia (34%) e Espanha (33,6%).

MODALIDADE

A maior parte da inovação no mercado brasileiro está baseada em melhoria de processos e assimilação de tecnologias já disponíveis no mercado.

Quando solicitadas a indicar seu principal produto e/ou processo desenvolvido e sua importância, apenas 595 empresas afirmaram que ele era novo no mercado mundial.

Por outro lado, pouco menos de 5.100 indicaram desenvolver produto novo no Brasil, e outras 10,2 mil se dedicavam a itens já disponíveis no país.

A pesquisa avaliou um universo de 132,5 mil empresas com 10 pessoas ou mais.