Um agente da Polícia Militar (PM) foi flagrado, em vídeo gravado por testemunhas, tentando aplicar um "mata-leão" em um homem durante ação de assistência social na manhã do sábado, dia 7, na Praça do Patriarca, na região central de São Paulo. O uso do golpe em abordagens policiais está proibido desde 2020. As imagens, às quais o Estadão teve acesso, mostram ainda que uma mulher teria desmaiado e uma outra teria apresentado ferimentos na perna em meio à abordagem.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP) afirmou que o homem, de 37 anos, foi preso por "desacato e resistência após uma abordagem policial". Segundo a pasta, os agentes relataram que, durante uma ação de rotina, ele teria atravessado a rua em direção aos agentes, proferido ofensas e ainda os ameaçado. A versão é contestada por testemunhas.
Como vem mostrando o Estadão, uma série de ocorrências tem colocado em xeque a atuação da PM paulista, como as mortes de uma criança de 4 anos em uma ação em Santos, no litoral paulista, de um estudante de Medicina na Vila Mariana, zona sul paulistana, e de um suspeito de roubo em um mercado na zona sul. Mais recentemente, um agente foi flagrado jogando um homem do alto de uma ponte, em novo caso na zona sul - o PM foi preso após imagens do caso virem à tona.
Desta vez, conforme o Movimento Nacional de Luta em Defesa da População em Situação de Rua (MNLDPSR), o homem que foi alvo dos policiais, identificado como Rafael Floriano Nunes, teria sido abordado quando aguardava atendimento de uma equipe do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), "de maneira adequada e sem cometer nenhum delito".
Os vídeos gravados por testemunhas mostram que a abordagem gerou indignação entre as pessoas que estavam presentes na Praça do Patriarca. Pelas imagens, ao menos dois agentes tentam conter Rafael, que está no chão e ao lado de uma viatura, com um "mata-leão". "Ele não estava fazendo nada, a gente acabou de atender ele", diz uma mulher ao gravar a ocorrência. "Estão enforcando ele."
Em outras imagens, supostamente da mesma ação, uma mulher aparece desmaiada ao lado da filha e uma outra, que se diz grávida, afirma ter sido agredida na canela quando tentava ajudar na situação. "Chegaram batendo na gente, nós estávamos só apartando para não ter morte ali", diz ela.
Entidades que trabalham junto à população em situação de rua protestaram depois da repercussão das imagens. Em nota de repúdio, o MNLDPSR apontou que, segundo testemunhas, a agressão a Rafael foi desnecessária. A entidade afirmou que ele foi "agredido violentamente, na praça e dentro da viatura da Polícia Militar", antes de ser levado preso.
"Os vídeos gravados no momento são claros e demonstram o quanto os policiais militares foram exageradamente agressivos, atingindo inclusive uma mulher grávida, uma mãe e seu filho menor de idade, e até mesmo a equipe do SEAS, que estava no local realizando o seu trabalho e foi atingida diretamente com jatos de gás de pimenta", diz a nota de repúdio.
A Secretaria da Segurança da Pública afirmou que, ao ser abordado, Rafael "resistiu e precisou ser contido com algemas, momento em que mordeu um dos policiais, causando ferimentos leves". O agente foi encaminhado ao Hospital Emílio Ribas para avaliação médica, e o suspeito foi levado ao 8º Distrito Policial (Brás), onde foi autuado, acrescentou a pasta.
A secretaria afirmou ainda que a Polícia Militar analisa as imagens do ocorrido e, caso sejam comprovados excessos, "as devidas providências serão adotadas para responsabilização dos envolvidos". Como mostrou o Estadão, a escalada da violência policial, com a repercussão de ao menos sete casos no último mês, resultou no afastamento de 46 agentes no período recente.
Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) afirmou lamentar o ocorrido e ressaltou que o trabalho do SEAS tem, como objetivo, a "busca ativa de pessoas em situação de rua e vulnerabilidade, garantindo escuta, ofertando acolhimento e encaminhamento para os serviços da rede socioassistencial da Prefeitura de São Paulo".