Afinal de contas, Messi é ou não é autista? Entenda!

Autor: Da Redação,
segunda-feira, 19/12/2022
A fake news surgiu no Brasil em 2013

Messi nunca se declarou autista. Também jamais houve um familiar ou uma fonte minimamente próxima a ele que confirmasse esse diagnóstico. Mas, de onde saiu essa “informação”, que pode ser encontrada em milhares de sites, e como ganhou repercussão mundo afora?

A fake news surgiu no Brasil. Essa lenda urbana nasceu em 27 de agosto de 2013, quando o escritor e jornalista Roberto Amado (sobrinho de Jorge Amado) publicou em seu site, à época, o “Poucas Palavras“, um longo texto dizendo que o craque Lionel Messi “foi diagnosticado aos 8 anos de idade, ainda na Argentina, com a síndrome de Asperger”.

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Amado enumerou diversas características que “provariam” que Messi é autista, como a timidez com a imprensa e a peculiaridade de sempre dar dribles e chutar a gol da mesma maneira, o que seriam indícios de padrões repetidos, típicos de um “portador da síndrome” (sim, ele ainda usou o termo “portador”!).

No mesmo texto — intitulado “Como o autismo de Messi ajudou-o a ser gênio” —, Roberto Amado destaca o famoso filme “Rain Man”, de 1988, com Tom Cruise e Dustin Hoffman, o que deixa o artigo mais atraente, e acaba por misturar pontos totalmente diferentes do espectro do autismo, comparando síndrome de savant com asperger. Uma confusão só!

Após esse diagnóstico à distância do brasileiro, a história (como toda boa fake news), depois de publicada na internet, se alastrou e ganhou o planeta.

Romário no Twitter

Poucos dias depois, em 8 de setembro de 2013, o ex-jogador Romário entrou na polêmica. Ele publicou na rede social Twitter: “Vocês sabiam que o Messi tem Síndrome de Asperger? É uma forma leve de autismo, que deu a ele o dom do foco e concentração acima de tudo e de todos. Newton e Einstein também tinham níveis de autismo. Espero que, como eles, Messi se supere a cada dia e continue nos apresentando esse belo futebol”.

Em seguida, postou o link do artigo de Roberto Amado. Isso foi parar na mídia internacional e chegou a Jorge Messi, pai do craque, que disse que processaria o brasileiro. Romário, novamente via Twitter, respondeu: “Sites da Espanha divulgaram que eu havia dito que Messi tem um transtorno mental e estão fazendo sensacionalismo em cima do assunto. Divulguei uma informação que veículos no Brasil têm abordado.

Vcs sabiam q o Messi tem Síndrome de Asperger? É uma forma leve de autismo, q deu a ele o dom do foco e concentração acima de tudo e d todos

— Romário (@RomarioOnze) September 8, 2013

Ah, o pai do Messi disse que vai me processar por isso. Pode processar, a vontade.

— Romário (@RomarioOnze) September 9, 2013

Até uma TV abordou o assunto. Então fica aqui a informação: de acordo com o pai do Messi, ele não tem autismo. Não sou médico para confrontar a informação. Ah, ele disse que vai me processar por isso. Pode processar à vontade”, escreveu Romário.

No dia 26 de setembro de 2013, a reportagem do UOL Esporte falou com Diego Schwarzstein, médico que tratou o principal e conhecido problema de saúde de Messi: uma deficiência hormonal que comprometeu seu crescimento. O médico, que ainda mora em Rosário (Argentina), cidade natal de Messi, não deu margem a dúvidas: “Leo nunca foi diagnosticado como Asperger ou qualquer outra forma de autismo. Isso é realmente uma bobagem”, afirmou categoricamente.

Outro aspecto muito importante que corrobora a falsidade da afirmação é o “autismo” de Messi ter sido ignorado pelas principais e mais respeitadas biografias (em texto e em vídeo) já lançadas sobre sua vida e carreira em 2009, 2010, 2011, 2012 e 2015. Um exemplo vem do jornalista e escritor espanhol Guillem Balague, especialista em futebol e em biografias de craques, que naquele mesmo ano de 2013 publicou o livro “Messi“, uma biografia autorizada do argentino. “Essa história é um lixo!”, exclamou ele ao ser perguntado sobre o assunto.

Dois anos depois, em 2015, no jornal Extra, o sobrinho de Jorge Amado reafirmou a história e ainda desafiou: “Conversei com pessoas envolvidas com o assunto e ninguém sequer contestou o contrário. Se eu cometi uma imprudência é problema meu. Não preciso provar nada para ninguém. Se ele quiser me processar, que vá provar na Justiça. Há dois anos que falo isso porque eu conheço o olhar e pessoas envolvidas nessa questão. Não é demérito nenhum ter autismo. É só uma curiosidade mesmo (sic)”, argumentou.

Uma mentira contada mil vezes…

Em 2017​​, no programa de TV “Encontro” (Rede Globo), Fátima Bernardes teve que corrigir um convidado que fez novamente tal afirmação sobre o autismo de Messi. O convidado Gustavo Cerbasi disse: “Um bom exemplo, Messi, astro do futebol, tem no autismo uma explicação para as qualidades que ele tem. Maior precisão, maior foco”. Mas, a apresentadora corrigiu-o de imediato, dizendo que isso é uma lenda urbana que não tem confirmação. E, minutos depois, ainda reforçou: “Olha, a gente tá aqui recebendo [a informação de] que o médico do Messi, por conta disso [a suspeita de que o atleta tem autismo] deu uma declaração dizendo que ele não tem autismo”.

Recentemente, a história voltou à tona, em julho de 2020, quando o ex-jogador francês Christophe Dugarry, ao comentar sobre a polêmica envolvendo o compatriota Griezmann, acabou atingindo também o craque argentino. “De que ele [Griezmann] tem medo? De um garoto de um metro e meio de altura que é meio autista? O que precisa fazer é se impor de vez em quando. Faz um ano que se diz que ele tem problemas com Messi. O que tem que fazer é dar um soco na cara”, disse Dugarry, de maneira rude, em entrevista à RMC Sport. Três dias depois ele se desculpou.

Famosos autistas, autistas famosos

Quer citar pessoas famosas que estão no espectro do autismo? Cite quem declara isso abertamente, como a escritora e especialista em ciência animal Temple Grandin, o ator Anthony Hopkins, a ecoativista Greta Thunberg, ou o mais recente famoso a mencionar publicamente seu diagnóstico de autismo, o bilionário Elon Musk, e tantos outros.

As informações são do site Canal do Autismo.