Pelo segundo dia consecutivo, o presidente Jair Bolsonaro foi alvo de protestos nas principais cidades do País nesta quarta-feira, 18. Moradores de ao menos 21 capitais fizeram panelaços contra o presidente. Marcados inicialmente para as 20h30, os atos ocorreram ao longo do dia, nos horários em que Bolsonaro participava de duas entrevistas coletivas para falar sobre medidas para combater o coronavírus.
Desde o início da tarde, o presidente tentou neutralizar o efeito do protesto contra seu governo. Nas redes sociais e em uma das entrevistas, Bolsonaro divulgou a existência de um outro panelaço, que aconteceria às 21h e seria a favor do seu governo. Apesar dos esforços, houve registros de mobilização pró-governo em seis capitais até a conclusão desta edição.
Ao participar de duas entrevistas ontem, Bolsonaro tentou demonstrar que está no comando do enfrentamento do novo coronavírus. Após passar dias afirmando que a pandemia estava "superdimensionada", adotou outra estratégia. De máscara, ao lado de oito ministros, ele afagou o Legislativo e o Judiciário, disse que agora vê um momento de "grande gravidade", mas não admitiu ter errado quando, no domingo, foi ao encontro de apoiadores que se aglomeraram diante do Palácio do Planalto. Sua participação nos atos rendeu críticas de políticos e médicos.
Apesar da estratégia, auxiliares do Planalto disseram que o saldo do dia foi negativo. Os panelaços foram vistos internamente como consequência de um "erro político" de Bolsonaro na condução da crise. A avaliação foi a de que o presidente demorou a reconhecer o problema, o que passou a impressão de que ele foi contra o sentimento da maioria da população.
Embora tenha moderado o discurso, o presidente afirmou ontem que não descartava pegar "um metrô lotado em São Paulo" ou uma "barca no Rio de Janeiro", na travessia até Niterói, para mostrar que está "ao lado do povo." O Ministério da Saúde recomenda, no entanto, que as pessoas evitem aglomerações para evitar o contágio. "Não é demagogia ou populismo, (mas, sim) demonstração de que estou ao lado do povo na alegria e na tristeza".
Luta
A mudança de tom de Bolsonaro também atende a interesses políticos. Enquanto ele continuava insistindo que a pandemia tinha como o pano de fundo uma "luta pelo poder" e somava reações negativas nas redes sociais, Alcolumbre e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, se organizaram para apresentar medidas. Bolsonaro foi, então, obrigado a mostrar iniciativa. Na entrevista, ele fez questão de citar os chefes dos Poderes como parceiros no enfrentamento à pandemia.
"Mais uma vez, eu agradeço aos Poderes da República pela compreensão e pelo apoio que têm nos dado para buscar não soluções, que no momento ainda não existem, mas para atenuar esse grave problema que se aproxima", afirmou.
Maia não compareceu, porém, a uma reunião convocada por Bolsonaro, mais tarde, para anunciar medidas de combate ao coronavírus. "O presidente nos convida para conversar, queremos organizar a pauta e com isso poder avançar no diálogo objetivo que construa soluções para os brasileiros. Não é apenas uma pauta para fotografia", disse Maia. O único presente ao encontro foi Toffoli, já que Alcolumbre está com coronavírus (mais informações na pág. A6). "Nesse momento delicado, de fragilidade humana (...) estamos todos em ação e trabalhando com firmeza para que o País possa cruzar esse momento", afirmou Toffoli.
Bolsonaro classificou o panelaço contra o governo como um movimento "espontâneo" e uma "expressão da democracia". Lembrou, no entanto, que também haveria manifestação a favor do governo. "Qualquer movimento por parte da população, eu encaro como expressão da democracia", afirmou o presidente, quando questionado sobre os protestos. "Nós, políticos, devemos entender como uma pura manifestação da democracia", completou ele, ao pedir isenção da imprensa na cobertura dos dois panelaços.
Sem responder se se arrependeu de ir ao encontro dos manifestantes mesmo sem o resultado do segundo teste, Bolsonaro disse que não descumpre orientações sanitárias, apesar de ter quebrando a quarentena recomendada por médicos. "A partir do momento que não estou infectado, ao ter contato com quem quer que seja não estou colocando em risco a vida ou a saúde daquela pessoa. Não descumpro qualquer orientação sanitária por parte do ministro da Saúde", disse.