Com envelhecimento de mães, filhos retribuem cuidados e dedicação

Autor: Da Redação,
domingo, 12/05/2019
A professora universitária e escritora Cinthya Amaral, de 45 anos, ao lado da mãe, Miriam Amaral, 69 anos - Arquivo pessoal

Zelo, carinho e dedicação costumam estar associados à imagem materna. Elas criam, educam e estão ao lado dos filhos quando eles adoecem. Chega um momento, entretanto, que os papéis se invertem. As mães envelhecem e passam a precisar cada vez mais do cuidado dos rebentos.

Neste Dia das Mães, a Agência Brasilouviu histórias de filhos que “assumiram o lugar das mães” e que, atualmente, vivem esse momento de atenção. É o caso do produtor musical Rodrigo de Freitas que há cinco anos mudou de cidade e deixou a atividade profissional para se dedicar exclusivamente a cuidar da mãe, Anunciata de Freitas, de 83 anos.

O avanço da idade trouxe o Alzheimer e, quando ela ficou viúva, Rodrigo sentiu que era o momento de retribuir o carinho que recebeu ao longo de toda a vida.

“A qualidade de vida que eu trouxe para ela, com a presença familiar, não tem preço. Se você puder cuidar dos seus pais, cuide, eles fizeram isso por você”, ensina Rodrigo.

Ele conta que sempre teve uma relação muito próxima com a mãe e, quando ela precisou, não hesitou em começar a viver uma nova realidade. Ele fez dois cursos de cuidador de idosos e estuda para entender melhor a doença da mãe.

Mesmo com a ajuda de cuidadoras, é Rodrigo quem assume as preocupações típicas de uma mãe com os filhos como alimentação, cuidados de higiene e horários de medicação.

Rodrigo diz que o respeito pela mãe continua o mesmo, apesar da “troca de papéis”.

Ele afirma que ainda a trata por “senhora”, mas conta bem-humorado que às vezes precisa dar umas “broncas”. “Ela não queria comer. Aí eu falei: se não comer, não vai ter sobremesa”, relembra o produtor musical.

“Minha relação com ela continua da mesma forma, tenho o mesmo respeito, só que, agora, quem gerencia a casa sou eu”, completa.

Envelhecimento

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o envelhecimento da população vem em uma curva crescente. Em 2010, o percentual de pessoas idosas era de 7,32%. Nas projeções do instituto, este índice deve chegar a 9,52% este ano e, em 2060, a 25,5%.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), cresceu o número de pessoas que cuidavam de parentes em 2018.

No ano passado, 54 milhões de pessoas de 14 anos ou mais cuidaram de parentes, moradores ou não do domicílio, o que corresponde a uma taxa de 31,8%. As mulheres são as quem mais se ocupam desses cuidados. De 2017 para 2018, a taxa das mulheres permaneceu em 37% e a dos homens passou de 25,6% para 26,1%.

Inversão de papéis

Um quadro de demência também mudou a rotina de mãe e filha da professora universitária e escritora Cinthya Amaral, de 45 anos. A mãe, Miriam Amaral, de 69 anos, começou ter falhas de memória, sair de casa e não saber voltar, além de deixar de lado os cuidados pessoais. Aos poucos, as necessidades foram aumentando até que Miriam ficasse totalmente dependente de ajuda.

Cinthya já não morava com a mãe e conheceu um novo tipo de inquietação. “Aquela preocupação que mãe tem com filho de sair de casa, de perigo, tudo isso começou a inverter. Eu passei a ter esse medo, essa angústia”, conta.

“Também passei por aquela situação de quando filho está doente e a mãe larga serviço correndo para cuidar. Tive que fazer isso um dia quando estava dando aula num sábado à tarde e ninguém sabia onde ela estava. Dispensei os alunos todos para acudir.”

Com a rotina de trabalho apertada, a alternativa de Cinthya foi colocar a mãe em uma clínica onde Miriam tem atenção de profissionais em tempo integral. A preocupação com a mãe, no entanto, continua constante, afirma.