Conheça o povo que guarda corpos de parentes mortos em casa

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 21/04/2017
Corpo preservado pelosToraja - tradição - Foto - Heman Morrisson - Salent News

Falar sobre a morte não é assunto agradável, mas em uma região da Indonésia, os falecidos participam do cotidiano da população. Em ambiente intimista, os corpos mumificados são deixados em um cômodo da casa destinado especificamente para essa finalidade.

Para mais de 1 milhão de pessoas que vivem nessa parte do mundo - a região de montanhosa de Tana Toraja, na ilha de Sulawesi, no sul da Indonésia - a tradição data de muitos séculos. Na ilha, os mortos estão muito presentes na vida dos vivos. Tanto é que são realizadas celebrações de um festival anual que homenageia os mortos, com centena de cadáveres centenários exumados, vestidos com roupas e expostos, para o que os indonésios chamam de festival do Ma'nene.

Foto por Reprodução

Os corpos preservados dos antepassados dos Toraja são cuidadosamente retirados de seus túmulos como parte do antigo festival Ma'nene. Para festival anual, que se traduz no que os indoésios chamam de "Cerimônia da Limpeza", os mortos são arrumados, lavados, vestidos com roupas novas e até óculos de sol para desfilar pelo vilarejo.

Cuidados 
Depois que alguém morre, passam-se meses, anos, até que o funeral ocorra. Nesse intervalo de tempo, as famílias guardam os corpos em casa e cuidam deles como se estivessem apenas doentes. Isso inclui levar comida, bebidas e cigarros duas vezes por dia para eles. Os corpos são limpos e suas roupas trocadas regularmente.  

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Sempre acompanhados
Os mortos nunca são deixados sozinhos e as luzes permanecem acesas quando anoitece. As famílias temem que, se não cuidarem dos corpos de forma correta, os espíritos podem voltar para assombrá-las. Folhas e ervas especiais são esfregadas no corpo dos mortos para preservá-los. Mas, hoje em dia, muitos usam formol. O líquido deixa um odor forte no cômodo da casa.

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Fortíssima ligação
Tais indonésios afirmam que sentem uma fortíssima ligação emocional com os entes queridos já falecidos. Os parentes normalmente vem visitar os familiares mortos nas casas deles. Eles acreditam que os falecidos podem ouvi-los e ficam ao redor deles, ajudando-os a superar o luto.

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Funeral requintado
Durante suas vidas, os Torajans trabalham duro para acumular riqueza. Mas, em vez de viver uma vida luxuosa, eles economizam para uma partida gloriosa, com cerimônia fúnebre suntuosa.  Conforme a crença dos Torajans, os funerais são eventos nos quais a alma finalmente deixa a Terra e começa sua longa e difícil jornada para a Pooya.

Estágio final
A Pooya consiste no estágio final da vida após a morte. É ali que a alma reencarna. Os búfalos carregariam as almas para esse local e esse é o motivo pelo qual as famílias sacrificam o maior número possível desses animais, para facilitar a jornada para os falecidos. Quanto mais rico o morto tiver sido em vida, maior e mais elaboradas serão as cerimônias fúnebres.

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Cavernas
Os Torajans são raramente enterrados. Em vez disso, eles são colocados em túmulos da família ou dentro de cavernas - como a região é montanhosa, há muitas delas.Esses locais abrigam vários corpos e caixões. É comum se deparar com esqueletos e ossos ao relento. Amigos e familiares trazem presentes para os mortos - frequentemente dinheiro e cigarros.

Esculturas em madeira
Em uma tradição anterior ao surgimento da fotografia, as imagens de homens e mulheres nobres são cuidadosamente esculpidas na madeira. Conhecidas como tau tau, essas esculturas usam roupas, joias e até cabelo dos mortos. Em média, custam cerca de US$ 1 mil (R$ 3,1 mil) para serem produzidas.

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Caixões retirados dos túmulos e abertos 
Para os  Torajanso sepultamento  não significa um adeus. A relação física entre os mortos e os vivos continua por muito tempo, por meio de um ritual conhecido como ma'nene, ou "purificação dos corpos". A cada dois anos, os caixões são retirados dos túmulos e abertos para um grande encontro com os mortos.

Ma'nene
Nas cerimônias de ma'nene, amigos e parentes oferecem comida e cigarros aos mortos, que são enfeitados e limpos. No final, posam com eles para retratos de família. O professor de sociologia Andy Tandi Lolo descreve esse ritual como uma forma de manter "a interação social entre os vivos e os mortos".

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Desaparecendo
Mas esses rituais estão desaparecendo gradualmente, já que mais de 80% dos Torajans deixaram ser aluk to dolo (a religião dos Torajans) para se tornarem cristãos. Pouco a pouco, as tradições estão mudando na Indonésia.

Com informações do Daily Mail