Tia doa fígado e salva vida de sobrinha recém-nascida

Autor: Da Redação,
domingo, 20/12/2020
Tia e a Benita

Antes mesmo de completar um ano, a apucaranense Betina Brandão de Souza, que tem apenas nove meses, já tem uma história de superação e luta pela vida. A recém-nascida foi diagnosticada com atresia das vias biliares e precisou de um transplante de fígado. A tia foi a doadora e salvou a sobrinha. 

A mãe Deyse Cristina Brandão de Souza tem 31 anos, o pai José Carlos Miguel de Souza a mesma idade, Betina é a primeira filha do casal, nasceu no dia 29 de fevereiro, de um ano bissexto. A gestação e o parto foram tranquilos,  porém, com nove dias de vida, a criança não parava de chorar.

Deyse lembra que levou a filha em médicos em Apucarana, Londrina, Maringá, que a menina ficou internada, fez diversos exames, alguns foram adiados por causa da pandemia, a família precisou encarar a rede particular, a menina não ganhava peso e até urinou sangue. 

“Foi uma luta, quando ela completou seis meses conseguimos fazer a biópsia e Betina foi diagnosticada com atresia de vias biliares, porém a cirurgia pra reverter essa doença precisa ser feita até 12 semanas de vida, a Betina já tinha seis meses, fomos para São Paulo pois a única solução era o transplante hepático e nos foi informado que Curitiba fazia somente acima de 12 kg, ela estava com 6kg na época, fomos pra São Paulo e eu saí de lá com um sentimento de que eu iria perder minha filha, nesta época ela começou a não querer mamar mais, ela já estava com sete meses, pra ir pra lá pedimos o TFD ( tratamento fora de domicílio) para o Paraná, e quando chegou nosso pedido eles negaram e entraram em contato com o Hospital Pequeno Príncipe perguntando por que eles não haviam atendido a Betina, entraram em contato com o Dr Busnardo pra saber do caso dela. Foi uma luta, até conseguir o transplante em Curitiba, mas conseguimos a cirurgia e minha irmã se ofereceu para ser a doadora”, conta.

Segundo a mãe, ela seria a doadora, mas os médicos alertaram que a irmã era mais compatível. Antes do transplante a pequena Betina ainda passou por outros problemas e precisou até ser entubada.  “Eu acredito que Deus preparou a Denise para ser a doadora antes dela ser concebida, no dia 01/11 voltamos pra Curitiba, eu, meu esposo, a Betina e a Denise, a Betina foi internada no dia 02/11 para realizar os exames pré-transplante, e pra passar uma sonda gástrica pois ela não estava mamando o leite, porém não conseguiram passar a sonda e precisou passar na endoscopia, onde descobrimos duas varizes de esôfago e uma de estômago, o que mostrava que ela precisava urgente do transplante, ela passou por vários problemas ainda antes do transplante, que precisou ser adiado, a hemoglobina dela caiu de 11 para 4, precisou de transfusão de plasma, plaqueta, hemácias e ela precisou ser entubada pra não ir sangue pro pulmão, meu esposo estava com ela no hospital e me ligaram pra ficar com ele também, a Dra veio falar comigo e com o meu esposo e nos disse que a Betina estava muito grave, fazer o transplante nela era muito arriscado, mas não fazer era muito mais, os médicos fizeram uma reunião para decidir qual seria o melhor pra ela. Eles decidiram pelo transplante mas nos avisaram dos riscos, que seria um transplante de alto risco, que eles estavam confiantes que iria dar certo mas que não seria nada fácil”, lembra a mãe.

Foram mais de 12 horas de cirurgia, momentos de angústia e de muita fé. “Somos uma família católica e as três da manhã fizemos o terço da misericórdia, antes do transplante, meu esposo pegou na mão da Betina e falou pra ela " filha leva toda a força do papai e da mamãe pro centro cirúrgico pra você voltar pra gente bem" ela entubada apertou nossa mão com muita força, descemos pro centro cirúrgico e na porta eu peguei na mão da Dra Giovana e disse, Dra pode ir tranquila pois hoje quem vai operar no seu lugar vai ser Deus e Nossa Senhora vai estar naquele centro cirúrgico. A cirurgia começou às nove da manhã, nós a todo momento em oração, eu e meu esposo não tínhamos força para levantar do lugar, a Betina levou nossas forças junto com ela pro centro cirúrgico. Foram doze horas e meia durou a cirurgia, a médica veio e me falou que a cirurgia foi um sucesso. A Betina foi a criança que ficou menos tempo no hospital após o transplante, ficou nove dias na UTI e cinco dias no quarto, geralmente ficam duas  semanas na UTI e 15 dias no quarto, o fígado da Denise encaixou como uma peça de quebra cabeça no fígado da Betina, assim que ele entrou no organismo dela já começou a trabalhar, o olho dela já ficou branco e a pela dela já foi voltando a cor natural, a Denise saiu do centro cirúrgico e não precisou de UTI foi direto pro quarto, e nós vivenciamos um milagre no dia 16/11/2020”, afirma a mãe.

A Betina já retornou para Apucarana, chegou na quinta-feira (17),  o processo de recuperação é longo, a cada 15 dias, a criança terá que voltar para Curitiba. “Esses retornos vão  diminuindo conforme o tempo. Agora, está tudo muito bem, a Betina está cada dia mais esperta, mais espoleta, nós levamos uma criança pra Curitiba e voltamos com outra, a Betina é nosso milagre, ela faz coisas que a gente fica besta, não parece que ela fez uma cirurgia enorme a um mês atrás. Estamos vivendo um dia de cada vez, cada dia ela vence uma batalha, venceu a UTI geral, venceu o centro cirúrgico, venceu a UTI cirúrgica, venceu o quarto, venceu o prazo em Curitiba”, ressalta Deyse.

Amor em família

Deyse contou que a irmã, Denise Tathiane Brandão tem 26 anos e que sempre pedia para ela uma sobrinha, mas não imaginava que um dia salvaria a vida de sua filha. “Eu e a Denise sempre nos demos bem, mas nas brigas de irmã eu sempre dizia que eu não dependia dela pra nada, eu só não imaginava que eu iria depender dela pra salvar a vida da minha filha, a Denise sempre foi muito dengosa, e medrosa também, ela enfrentou todos os medos dela pra salvar a minha filha, ela se deslocou de Apucarana para Curitiba super bem, se submeteu a uma cirurgia enorme sem contar que ela voltou para Apucarana com covid, ela arriscou a vida dela pela vida da minha filha, nossos pais sempre nos ensinaram que a família tem que vir em primeiro lugar, que nós como irmãs, somos em três, tínhamos que sempre estar uma do lado da outra, e mesmo com as briguinhas de irmãs nós três sempre nos demos muito bem, e ver essa atitude da Denise mexeu muito comigo eu nunca vou conseguir retribuir esse gesto dela. Tirou um pedacinho dela pra salvar a Betina, isso não tem dinheiro no mundo que pague, hoje a Betina tem três mães, eu a madrinha que é minha outra irmã e a Denise que deu a ela uma segunda chance de viver”, detalha.

Denise contou que foi tudo muito rápido, que se recupera do transplante, que sentiu medo, mas que faria tudo novamente para salvar a vida da sobrinha. “Estou bem, com pontos internos no fígado, 90 dias para voltar ao normal. Quando descobrimos que ela precisava de um transplante, não sabia meu tipo sanguíneo, fiz e deu O positivo  igual ao dela. Eu  nunca tinha passado por cirurgia, tive medo de complicações durante a cirurgia, de não votar por causa da anestesia, de morrer, fiquei muito preocupada. Era a única maneira de salvar a vida dela, eu me senti honrada. Eu enfrentei meus medos e ver a Betina bem, nossa, é muito gratificante, ver a recuperação dela, é ver que meu gesto valeu a pena, ver como ela foi para Curitiba e ver como ela voltou, até meu fígado tinha duas artérias igual ao dela, é muita Gratidão a Deus, tivemos muitas pessoas orando por nós e pela Betina eu faria qualquer coisa”, emocionada disse a tia.

Denise ainda reforça a importância da doação de órgãos. “Agora eu vejo como é importante, fiquei em Curitiba, e vi quantas e quantas crianças que precisavam de doações. Às vezes a gente vê, doe órgãos, mas não pensamos no quanto é importante, às vezes somos muito egoístas em não querer doar, hoje percebo o quanto é importante, quantas vidas podemos salvar, salvei da minha sobrinha, mas podemos salvar muitas outras. Eu comecei a ver a vida com outros olhos”, finaliza. 

Doença

A atresia de vias biliares (AVB) é uma doença do fígado e ductos biliares que ocorre em recém-nascidos. As células do fígado produzem um líquido chamado bile, que ajuda na digestão de gorduras e carrega algumas substâncias para serem eliminadas pelo intestino através de ductos biliares. Na AVB ocorre uma inflamação destes ductos, levando a uma obstrução progressiva dos mesmos. A bile fica retida no fígado, provocando rapidamente dano hepático, que pode evoluir para cirrose e óbito, caso não seja tratada precocemente. É a causa mais comum de transplante hepático em crianças.