A arte milenar das pêssankas ganhou um significado ainda mais especial para os descendentes ucranianos neste ano com a invasão russa no país natal dos seus ancestrais. Na Páscoa da comunidade ortodoxa ucraniana, que será comemorada neste domingo (24), os ovos coloridos vão reforçar a mensagem de renascimento e, principalmente, de paz.
Em Apucarana, a comunidade ortodoxa vai se reunir na Paróquia Proteção da Santíssima Mãe de Deus, no Jardim São Pedro. Será um momento de oração destinado aos ucranianos do outro lado do mundo, que estão sofrendo com a guerra.
A professora Dorotéa Tchopko aprendeu com a mãe a arte milenar das pêssankas. Neta de imigrantes, ela manteve neste ano a tradição de colorir os ovos, mas admite que o ritual foi revestido de tristeza e melancolia por conta do conflito no leste europeu.
“Nós queremos paz. O que está ocorrendo na Ucrânia é, na verdade, um processo de ganância. É como um bandido que entra na sua casa para roubar o que é seu. A partir de momento em que um povo é livre, ele quer permanecer livre. Os ucranianos sempre lutaram pela sua liberdade. Por isso, a gente faz este ano as pêssankas com dor no coração. Estamos pintando essas linhas para que o povo da Ucrânia tenha força”, diz.
A Páscoa será comemorada neste domingo porque os ucranianos ortodoxos seguem o calendário juliano e os católicos o calendário gregoriano. Por isso, a diferença nas datas. Em 2022, o intervalo foi de apenas uma semana.
Dorotéa Tchopko explica que o ovo simboliza a Ressurreição de Cristo, mas é utilizado como símbolo dos ucranianos desde antes do Cristianismo. “Dentro da tradição ucraniana, as pêssankas são como um talismã. Cada desenho tem um simbolismo. As linhas retas, por exemplo, representam a eternidade ou a longa vida; as flores, o amor e a felicidade; o triângulo, a espiritualidade”, exemplifica.
Ao entregar um ovo colorido para alguém, a pessoa transmite um desejo de algo positivo e carrega consigo a dedicação de quem o confeccionou. Isso porque as pêssankas exigem um trabalho demorado e cuidadoso. Dessa forma, a tradição adquire contornos artísticos.
“Eu vejo como uma poesia que a gente escreve para alguém”, diz Dorotéa. Ela lembra que antigamente o trabalho era feito de forma artesanal, com elementos da natureza. A cor vermelha, por exemplo, vinha da beterraba, a amarela da cebola. Hoje, as tintas utilizadas são, muitas vezes, importadas e o trabalho muito mais esmerado. Com isso, as pêssankas ganham também em beleza. ASSISTA: