O Dia da Consciência Negra é celebrado pela primeira vez como feriado nacional no Brasil nesta quarta-feira, dia 20 de novembro. Essa data lembra a morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, um dos principais locais de resistência contra a escravidão no Brasil colonial. Veja entrevista abaixo
Em Apucarana (PR), o Movimento Apucaranense da Consciência Negra (Macone) é uma entidade que atua há mais de 20 anos na defesa das pessoas negras e também no resgate da cultura afro-brasileira.
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“O Macone surgiu em 2001 dentro de um contexto bem diferente do atual. Eu queria criar um grupo que desse conta apenas de discutir o porquê de eu ser achincalhado, xingado e discriminado por conta da minha pele ou por causa da minha origem. Tivemos no começo uma grande força da Pastoral Fé e Política, e fomos seguindo em frente”, conta o servidor público Paulo Pesce, diretor e um dos fundadores do Macone.
A cirurgiã-dentista Jandira Mincachi é diretora do Macone e lembra o porquê de ter entrado para o movimento. Ela também faz um paralelo entre a cultura afro e a Igreja Católica.
“A gente também sofreu racismo na escola quando criança e então o nosso olhar começou através de uma celebração que aconteceu aqui em Apucarana. Isso foi em 1999. O Frei Devanil (Devanil Ferreira) foi ordenado padre. Hoje, ele está na África fazendo um trabalho e, a partir disso, nós começamos a trabalhar com celebrações incorporadas à missa afro aqui em Apucarana”, explica.
Jandira também conta que, em Apucarana, a história de luta pela causa dos negros já possui vários capítulos. “Em 2006, foi criada a Pastoral Afro Brasileira. Então nós, juntamente com o padre Rezende (José Roberto Rezende), começamos a trabalhar as nossas causas negras dentro da igreja, com reflexões, ações e com a própria celebração. Ao mesmo tempo, já estávamos também inseridos no Macone, porque as pessoas negras que a gente conhece todas têm uma história de racismo, de discriminação ou de preconceito”, detalha.
A instauração de um feriado nacional, de acordo com Paulo Pesce, é um avanço importante, mas não se restringe a uma nova data por si só. “As pessoas às vezes questionam: ‘mais um feriado? ’. Eu digo: 'Sim, mais um feriado!' Temos tantos feriados no Brasil celebrando diversas datas, mas por que não podemos ter essa data da consciência negra, a qual podemos considerar até mesmo o dia da consciência brasileira, pois nós somos a maioria”, afirma.
Jandira Mincachi lembra que, muito além de um feriado, em Apucarana existem muitas questões a serem debatidas e implementadas no combate ao racismo.
“O que a gente precisa para nossa cidade ainda é melhorar as nossas políticas públicas em relação ao nosso povo negro: de dar mais oportunidades de trabalho", diz, citando uma lei federal que propõe uma porcentagem mínima de negros nos quadros das empresas.
Ela também questiona a empregabilidade de negros em Apucarana atualmente. “Por exemplo, se você vai em um banco, uma agência bancária, quantos negros estão ali? Se você vai em uma loja aqui na Avenida Curitiba, quantas negras estão ali nas lojas trabalhando?”, questiona.
O Macone também atua na defesa dos negros através de denúncias e orientação de vítimas de racismo.
“Nós também acompanhamos denúncias ou até mesmo fazemos as denúncias na luta por respeito e igualdade na nossa cidade. Sempre estamos ali no Ministério Público, por exemplo”, explica Paulo Pesce.
Assista à entrevista:
Por Louan Brasileiro