Diesel dispara e põe em alerta o segmento de transporte

Autor: Da Redação,
sexta-feira, 11/03/2022
As placas de preços dos postos são os novos focos de atenção dos motoristas

Depois de um período de quase dois meses sem reajustes, a Petrobrás autorizou aumentos expressivos para os combustíveis, na casa de dois dígitos, provocando uma reação em cadeia junto a empresas da área de transporte, donos de postos de combustíveis e motoristas que trabalham no transporte de cargas. O aumento liberado para a gasolina foi de 19% e ainda maior para o diesel: 25%.

Com os reajustes, em Apucarana, alguns postos comercializavam a gasolina até a R$ 7,65 e o diesel a R$ 6,95 o litro nesta sexta-feira (11). No meio da tarde, aplicativos de melhor preço indicavam a gasolina mais barata vendida na cidade a R$ 6,75.

A Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA), já fala abertamente na possibilidade de uma greve nacional de caminhoneiros. A instituição destaca que já havia uma defasagem nos preços pagos pelo frete, na casa de 25%. Com o novo reajuste nos preços dos combustíveis, o reajuste dos fretes pretendidos pelos caminhoneiros fica praticamente inviabilizado, segundo a entidade.

O Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários de Apucarana (SINCVRAAP), por sua vez, diz que os aumentos autorizados pela Petrobrás são absurdos. Para o presidente da entidade, Ronaldo Santana da Silva, embora ainda não se tenha datas marcadas, “uma greve dos caminhoneiros parece inevitável”.

“Esses preços estão absurdos. Estamos todos chocados e parece que o governo perdeu completamente as rédeas. E esse aumento reflete em tudo. Sem dúvida, isso vai gerar uma greve”.

CAMINHONEIROS AUTÔNOMOS JÁ REJEITAM FRETES SEM REAJUSTE

Independente de greve oficial da categoria, muitos caminhoneiros autônomos já estão simplesmente se negando a fazer fretes terceirizados para as empresas transportadoras, caso não haja reajuste dos valores pagos por quilômetro rodado. É o que relata, por exemplo, o empresário Luis Bertoli, de Apucarana, proprietário da Trans Apucarana, empresa que atua no Paraná, Santa Catarina e São Paulo, com mais de 450 funcionários e outros 150 agregados, que são terceiros que fazem as pequenas entregas nas grandes cidades, principalmente São Paulo.

Bertoli informa que mesmo tendo uma frota própria de aproximadamente 80 caminhões, a empresa usa muitos motoristas terceirizados. “E eles não querem mais fazer os fretes sem reajuste. Eles querem o repasse do aumento do diesel, de 25%, no valor do frete que pagamos a eles. Mas nós temos como fazer essa repasse integral no frete porque não conseguimos colocar isso no valor que cobramos pelo frete de nossos clientes”, explica. Bertoli diz que ainda precisa fazer mais estudos, mas no máximo conseguiria aumentar em 10% o valor do frete pago aos terceiros. “Isso vai ter que ser muito bem conversado”, diz.

O aumento dos combustíveis deve impactar muito no negócio, que já vem de dois anos difíceis, por conta da pandemia, segundo o empresário. Bertoli não descarta ter que reduzir os quadros de funcionários em pouco tempo se a conjuntura não melhorar. “Em 2020, no início da pandemia, tudo parou. Tive que dispensar 80 funcionários. Depois, no meio do ano, quando saiu aquele abono de R$ 600, a economia deu uma reagida e até recontratei alguns. Em 2021 o mercado oscilou muito entre bons e maus momentos, e agora estamos com dois meses historicamente ruins, encerrados, janeiro e fevereiro. Só no fim de março vamos ter uma ideia melhor de como as coisas estão”. “Por enquanto, vamos segurando como dá”.

POSTOS TEMEM PELA FALTA DE COMBUSTÍVEIS                             

Já o empresário Welington Kreb, sócio proprietário do Posto Avenida e da Frut Norte, explica que nas duas empresas, se viu obrigado a fazer os repasses do reajuste para os produtos comercializados. “Além do estouro da alta, estamos enfrentando dificuldades para comprar combustíveis. Pedimos uma certa quantidade de um combustível e a distribuidora nos manda metade, quando muito”, revela.

Segundo ele, nesta quinta-feira, dia do aumento anunciado pela Petrobrás, ele tinha agendado o recebimento de 20 mil litros de gasolina. Recebeu apenas 5 mil. “Tem sido assim”, reforça. De acordo com Welington, esta realidade tem sido notada na base da Petrobras em Londrina, que abastece Apucarana, mas também nas demais bases, como Maringá, Cascavel e também nas bases distribuidoras de outras bandeiras. “Tem sido um cenário geral”, comenta.

O problema com a possibilidade de falta de combustíveis, pondera o empresário, gera um outro problema. “Com medo de que falte combustíveis, todo mundo corre para se garantir e abastecer seus veículos. Com isso, acaba mesma faltando porque os postos não conseguem repor os estoques. E pior, com todos os postos fazendo pedidos sem parar, o mercado acaba percebendo e os preços sobem”, explica.

“E para nós, do posto ou mesmo da Frut Norte, tudo isso é péssimo, porque somos obrigados a repassar os aumentos. E tudo isso vai inflacionar todos os preços, afinal, todos os produtos dependem da logística de transporte para chegar ao consumidor. E isso fica mais caro”, finaliza.