Dois agentes do Corpo de Bombeiros de Apucarana (PR), que atuaram em resgates no Rio Grande do Sul, descreveram o cenário caótico encontrado nos municípios gaúchos afetados pelas enchentes. O 1º sargento Márcio Felipe do Carmo e o cabo Anderson Silva, do 11º Grupamento de Bombeiros, integraram a força-tarefa organizada pelo Paraná para socorrer vítimas da maior tragédia climática da história do RS e ficaram aproximadamente três semanas no estado.
A primeira localidade atendida pelos bombeiros foi São Sebastião do Caí, onde chegaram às 11 da manhã do dia 2 de maio e se depararam com a cidade submersa. "Chegamos com uma situação totalmente caótica. A cidade estava totalmente tomada pelas águas. Só deu tempo de deixar a mochila e trabalhamos praticamente 30 horas ininterruptas, porque a demanda era muito grande", relatou o sargento Carmo, enfatizando a intensidade e urgência dos resgates realizados.
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Os bombeiros atuaram em cinco cidades na região metropolitana de Porto Alegre durante a semana em que estiveram no Rio Grande do Sul. "Eu tenho 20 anos de bombeiro e nunca vi uma situação dessa. Já trabalhei em vários quartéis e nunca havia passado por uma situação com tanta gente precisando de ajuda ao mesmo tempo", refletiu o Sargento Carmo.
A força-tarefa do Paraná, composta por 120 bombeiros, foi mobilizada rapidamente. O Cabo Anderson destacou a agilidade na resposta ao chamado de ajuda. "Em apenas seis horas, houve a convocação, a lista dos voluntários foi elaborada e todo o material necessário foi preparado. Todos estavam prontos e se deslocaram simultaneamente", detalhou.
"Chegamos a São Sebastião do Caí, deixamos nosso material na base onde iríamos ficar hospedados e já começamos a atender a população. Boa parte da cidade estava debaixo d'água. A equipe da região de Curitiba já estava na água realizando os atendimentos e nos designou uma área para atuar. Nesse primeiro dia, nossa equipe realizou 129 resgates. Ao andar pela região, vimos águas cobrindo os telhados das residências e muitas pessoas que perderam tudo. Foi algo muito desolador," acrescentou cabo Anderson Silva.
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Em comparação às missões anteriores que participou, como a missão de paz no Haiti, o cabo Anderson considerou a operação no Rio Grande do Sul mais desafiadora devido ao risco iminente de vida das vítimas. "Agora, trabalhar no Rio Grande do Sul, onde havia o risco iminente de pessoas perderem a vida, foi a primeira vez. E nós pudemos ajudar muitas pessoas", afirmou.
Diversos momentos marcantes foram mencionados pelos bombeiros. O Sargento do Carmo relembrou o resgate de um casal de idosos em São Sebastião do Caí. "Encontramos eles no teto da casa, um senhor por volta de 70 anos e a esposa. Se a gente não conseguisse encontrá-los, as águas os levariam. O resgate foi bem difícil, a senhora era obesa", recordou.
Para o Cabo Anderson, o resgate em Eldorado do Sul foi particularmente tocante. "À noite, fomos ao posto médico buscar um senhor que estava em estado crítico para encaminhá-lo para um hospital em Porto Alegre. Ele estava envolto em um tecido de TNT, não tinha uma manta ou um cobertor naquele momento. Isso me marcou bastante", contou.
Os bombeiros ficaram aproximadamente nove dias atuando na força-tarefa e retornaram para Apucarana. Os agentes devem voltar ao Rio Grande do Sul para continuar prestando apoio às pessoas necessitadas.
As enchentes no Rio Grande do Sul resultaram em 162 mortes e deixaram 75 pessoas desaparecidas, além de 806 feridos. Mais de 654 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas. A tragédia afetou 464 dos 497 municípios do estado, impactando mais de 2,3 milhões de pessoas.
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Por Lis Kato.