A figura do monge João Maria está no imaginário do Paraná. Ele chegou ao Estado há quase dois séculos e sua presença ainda é marcante em várias cidades, incluindo do Vale do Ivaí. Percorrendo a pé municípios do Norte ao Sul do Paraná, esse homem místico fazia profecias, benzia as pessoas e mexia com os sentimentos da população rural da época. Além disso, o seu nome teve papel fundamental na Guerra do Contestado.
Conforme estudo do Grupo de Trabalho de Turismo Religioso Adetur, há registros da passagem do monge João Maria em 46 municípios do Paraná, sendo três da região: Faxinal, Ivaiporã e Marilândia do Sul.
Mas por que esse monge gera tanto impacto ainda nas pessoas depois de tanto tempo? Segundo estudo publicado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a resposta está na figura messiânica, misteriosa e enigmática desse homem dotado de inteligência acima da média e de grande carisma.
João Maria D’Agostin chegou em 1851 à região do contestado (antiga Vila de Curitibanos). De origem italiana, ele era curandeiro, eremita, alquimista, profeta, místico e profundo conhecedor das ciências ocultas. João Maria percorreu o caminho dos tropeiros até chegar ao sul do país, ficando conhecido como figura messiânica tanto no Paraná quanto no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Com o povo imigrante abandonado pelas autoridades, a presença do monge era vista como referência religiosa por essas populações com pouca informação e isoladas do mundo nas propriedades rurais. Ao longo dos anos, muitos historiadores apontam a presença de outros monges como o nome de João Maria que teriam surgido entre 1886 e 1911.
O segundo "João Maria" seria um argentino, chamado João Maria de Jesus. Ele também foi um peregrino e se apresentava como discípulo do primeiro monge. Um terceiro "João Maria" foi José Maria de Santo Agostinho, que surgiu anos depois no Rio Grande do Sul como "reencarnação" do italiano.
As três figuras e tantas outras que surgiram depois acabaram se misturando no imaginário popular e são conhecidas como São João Maria, o "santo dos excluídos". Segundo historiadores, é praticamente impossível saber qual deles peregrinou por determinados municípios.
O Movimento do Contestado, entre 1912 e 1914, utilizou o nome do monge João Maria como símbolo. O conflito ocorrido na fronteira dos estados do Paraná e Santa Catarina envolveu a disputa de terras naquela região rica em erva-mate e por onde seria construída a estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul.
Após a conclusão da obra, os trabalhadores ficaram desempregados. Diante dessa instabilidade econômica e política, vários beatos e monges surgiram na região, atraindo essa massa de operários por causa dos seus discursos messiânicos. O governo federal enviou tropas para dispersar as comunidades, dando origem à Guerra do Contestado. Após várias derrotas, as tropas federais conseguiram vencer os sertanejos em 1916.
A figura de João Maria se fortaleceu nesse período histórico e, ao longo dos anos, começou a ganhar um ar de imortalidade, com reencarnações em outros monges. Esse mistério atrai peregrinos até os dias de hoje.
Na região, a presença de João Maria é marcante em Marilândia do Sul. Uma capela localizada às margens de uma mata no Barra Preto é muito frequentada. É uma pequena construção, com duas cruzes na frente, que tem inúmeras imagens sacras e fotografias no seu interior. É um local místico que recebe muitos peregrinos. A casa teria sido construída para representar a passagem do famoso monge por Marilândia do Sul.
O município adotou a figura e realiza eventos fazendo referência ao monge, como é o caso da Cavalgada São João de Maria de Marilândia do Sul, que teve sua edição em 2023, e a Romaria de João Maria.
Além do Brasil, há registros da presença do monge nos Estados Unidos, Argentina, Bolívia, Cuba e Canadá, entre outros países. Um retrato do eremita feito na cidade de Havana, em Cuba, em 1861, é histórica. Batizada de “A Maravilha do Nosso Século”, a foto é considerada uma prova da passagem do monge João Maria D’Agostin pela América Central e do Norte.
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