"Ser mulher trans em uma sociedade tão homofóbica e transfóbica não é nada fácil", lamenta a jandaiense, no norte do Paraná, Leandra Martins Ranzani, de 24 anos. A técnica em enfermagem conta que nasceu um menino, mas nunca se identificou com o sexo masculino. O preconceito vinha de dentro de sua própria casa.
"Desde que me conheço por gente sinto que sou uma mulher. Quando eu era mais nova, notava que minha família não queria aceitar minha condição. Só a minha mãe que sempre me apoiou. Porém, meu pai e irmão me agrediam e perguntavam porque eu não podia ser gay e que não viam a necessidade de me transformar em uma mulher", recorda.
A jandaiense explica que o processo de colocar a mulher pra "fora" foi muito difícil e que ouviu muitas falas absurdas. "Você nunca será uma mulher. Você não tem um útero. Religiosos ainda diziam que eu seria queimada viva. Só que eu nunca entendi porque ser tão massacrada, sendo que nunca fiz mal pra ninguém. Sofri muito", ressalta.
Durante a infância, os pais de Leandra a colocaram em uma escola da rede particular com o objetivo de evitar o preconceito. No entanto, ela conta que foi uma das piores experiências. "Um dia formaram uma rodinha para me agredir. Sorte que consegui gritar e fugir. Quando pedi socorro para os professores, ninguém me ajudou. Me chamavam de demônio, capeta. Terrível", relembra.
Conforme o tempo foi passando, Leandra começou a se encontrar e querer mostrar para todos que poderia ser uma mulher trans de respeito e conquistar seu espaço. "Fiz alguns cursos de maquiagem e cabelo, mas onde me encontrei de verdade foi na área da saúde. Hoje sou técnica em enfermagem, bacharel em enfermagem e faço curso de instrumentação cirúrgica. Trabalho em Apucarana. Sinto orgulho de quem eu sou. Meu pai e meu irmão reconheceram meu valor e enxergaram meu esforço", explica.
Mudança
Para conquistar ainda mais feminilidade, Leandra passou por alguns procedimentos estéticos e cirúrgico ao longo dos anos. "Fiz feminilização facial, hormonioterapia, rinoplastia (cirurgia no nariz) e também coloquei próteses de silicone. Não é um processo fácil, nem barato, mas estou feliz com a minha aparência", comemora.
Sobre a cirurgia de redesignação sexual, procedimento cirúrgico pelo qual as características sexuais/genitais de nascença de um indivíduo são mudadas, a jandaiense conta que tem vontade, mas que ainda tem receio. "Morro de vontade de fazer esta cirurgia, mas o medo é maior", acrescenta.
Cenário ameaçador
O cenário do país é o mesmo: preconceito, violência e crueldade contra travestis e transexuais. De acordo com levantamento feito pela ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata, em números absolutos, pessoas trans em todos o mundo. Além disso, dados da União Nacional LGBT apontam que a expectativa de vida de um transgênero no Brasil é de apenas 35 anos. Geralmente, eles são mortos antes disso. (Fonte: Revista Glamour)
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