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Custos de produção: preço do tomate não entusiasma produtor

Produtores da região dizem que muita gente vem abandonando a cultura, por conta dos custos elevados de produção

Da Redação

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Custos de produção: preço do tomate não entusiasma produtor
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Escrito por Da Redação
Publicado em 24.04.2022, 15:20:42 Editado em 24.04.2022, 15:20:36
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As idas ao supermercado, na seção de hortifrutigranjeiros, estão doendo cada vez mais no bolso do consumidor. Couve-flor, batata, pimentão, cenoura e até a abobrinha andam custando “os olhos da cara”, como se diz no popular. E nesse grupo de produtos cujos preços assustam os consumidores, o tomate vem mantendo um certo papel de vilania dos preços altos.

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O tomate vem roubando a cena entre os produtos da cesta básica regional com maiores altas. No levantamento mensal realizado pelo Núcleo de Conjuntura Econômica e Estudos Regionais (Nucer), do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Apucarana, no norte do Paraná, o tomate subiu 23% em Apucarana e 27% em Arapongas, no mês de fevereiro. No levantamento de março, o tomate subiu nada menos do 42% em Apucarana e 16% em Arapongas.

O consumidor menos avisado pode até imaginar que os produtores de tomate estão se dando bem nesse mercado. Mas a coisa não é bem assim. Os custos de produção estão abusivos, com a alta acentuada de insumos e o clima não anda ajudando muito.

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Combinados, esses fatores, mais o fato de os agricultores normalmente não estarem organizados para melhorar bases de comercialização, são responsáveis por muita gente ter abandonado a cultura nos últimos anos.

E isso, claro, ajuda a compor o cenário de alta dos preços do produto, com base naquela lei universal de mercado, segundo a qual, com baixa oferta e muita procura, os preços tendem a subir. E o tomate é das olerícolas mais consumidas em nossa cultura.

Osmarlei Pereira da Silva, 50 anos, tem uma área de 15 hectares de lavoura de tomate na propriedade da família, no distrito de Nova Amoreira, de Marilândia do Sul. Ele planta no regime de parceria, com um grupo de 20 famílias. Ele banca os custos da produção com os insumos todos, a terra e os parceiros entram com a mão de obra da lavoura toda, até a colheita. A razão de distribuição do resultado fica em 75% e 25% para as partes, respectivamente. Rende trabalho para umas 50 pessoas.

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“Caiu muito o número de produtores de tomate aqui na vizinhança, nos últimos anos”, diz. Ele não sabe dizer quantos deixaram a cultura, mas garante que há uns 10 anos eram mais de 50 produtores de tomate em sua vizinhança. “E hoje não são mais do que uns oito ou 10”, diz.

Osmarlei diz que é culpa do custo de produção. Ele calcula que na atual safra, seu custo de produção já esteja acima de R$ 70 reais por caixa de 25 quilos de tomate. “Os insumos não páram de subir. Principalmente os fertilizantes e os inseticidas”, diz.

O produtor conta que atualmente o preço pago a ele pela caixa de tomate “até que está bom”, na média de R$ 150, bem acima dos que se pagava pela mesma caixa nas duas últimas safras, segundo dados da Seab Deral.

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Conforme o levantamento de preços recebidos pelos produtores na venda da sua produção, feito pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura (Seab), o preço médio da caixa de 23 kg de tomate no estado foi de R$ 124,84, contra apenas os R$ 49,27 médios pagos em março do ano passado ao mesmo produtor. Em janeiro desse ano o preço era de R$ 66,46, subindo para R$ 83,49 em fevereiro e chegando aos atuais R$ 124, em março.

Mas Osmarlei, que cultiva tomates desde criança, lembra que a caixa de tomate já rendeu muito mais aos produtores, num passado distante. “Me lembro quando a caixa de tomate rendia para nós o preço de uma arroba de boi”, conta, estimando uns 35 anos atrás. “Imagina. Hoje a arroba está bem mais cara que uma caixa de tomate”. E está mesmo. Na casa de R$ 300, o dobro do valor da caixa de tomates.

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Outro produtor de tomates, com bastante experiência e visão histórica da cultura na região, Júlio Cruz, 51 anos, que cultiva 3 hectares na propriedade da família, que fica no distrito de Três Barras, em Faxinal. Por safra, informa, costuma colher entre 10 mil e 12 mil caixas de tomate por hectare. A cultura, tem duas safras por ano. Uma plantada em janeiro e outra, plantada em julho.

Ele calcula o preço de custo atual, por caixa, bem abaixo dos valores considerados por Osmarlei, de Marilândia. Julio diz que cada caixa de tomate de 25 quilos tem um custo de produção na casa de R$ 40, em sua lavoura. E diz que os insumos, como fertilizantes, são os vilões desse custo.

Ele calcula que a implantação de uma estufa para plantio de tomates tenha mais do que dobrado de preço no último ano. Segundo ele, no ano passado daria para fazer uma estufa padrão, de 100mx22m, com investimento de aproximadamente R$ 20mil. “Agora a gente precisaria investir uns R$ 50 mil para fazer uma estufa dessas”, calcula.

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Julio também tem vendido a caixa de tomate na casa de R$ 150, R$ 160, na lavoura. E comprador, não falta. “Tem vários compradores nos procurando o tempo todo. E picaretas é o que mais tem”, diz, referindo-se a práticas comuns, de atravessadores oportunistas, pouco vantajosas para os produtores.

Ele também sente que muitos colegas de lida abandonaram a cultura do tomate na região nos últimos anos. “Mas muita gente que abandonou era aventureira, que não conhecia a cultura e não se aperfeiçoou”, comenta. E diz que muitos também deixaram o tomate atraídos por oscilações mais favoráveis do mercado, como o preço da soja, que tem estimulado produtores.

“Os custos de produção são altos. A mão de obra, principalmente. Quando a gente encontra, é muito cara”, afirma Julio Cruz.

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Solução para produtores passa pela organização de classe

A solução para os agricultores, no sentido de melhorar resultados com a produção de tomates e da produção agrícola como um todo, passa necessariamente pela organização da classe, seja através de associações ou de cooperativas. É o que diz o engenheiro agrônomo Rogério Maia, do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR), em Lidianópolis.

Maia trabalha com um grupo de mais de 70 produtores na região, principalmente em Lidianópolis. E pelo menos 15 deles são produtores de tomate. Para ele, a solução está na especialização dos agricultores e na organização deles para evitar os atravessadores na comercialização. “Nosso produtor precisa entender, de uma vez por todas, que sozinho ele não volume e frequência de produção suficientes para atender ao mercado”. Questões que se resolve quando os produtores trabalham de forma conjunta, ou seja, com associações ou cooperativas. “E temos boas experiências de organização para comercialização na região, como no assentamento, em Jardim Alegre”, cita.

Rogério cita como exemplo um produtor certificado de tomate orgânico de Lidianópolis, que tem conseguido reduzir seus custos de produção por usar usando técnicas específicas. E, ao mesmo tempo, conseguiu elevar a produtividade. “Produzindo tomate orgânico ele reduziu os custos de produção, consegue um preço até 30% acima dos preços de mercado do tomate comum e a produtividade dele hoje é maior que a do tomate convencional”, diz. Segundo o agrônomo, o produtor tem conseguido 7,5 quilos de tomate por planta na lavoura orgânica, bem acima dos 5,5 quilos por planta da média de produtividade do tomate convencional. “E ele não consegue isso porque o tomate é orgânico. Ele consegue isso porque o manejo correto da lavoura virou a expertise dele. Ele é profissional nisso”, exemplifica.

Segundo ele, os produtores precisam investir em conhecimento para fazer manejos adequados das lavouras, desde o preparo do solo ao cultivo e colheita. “Custo de produção alto não pode ser motivo para os produtores abandonarem a cultura. Se o custo for alto, mas a produtividade for elevada, o produto consegue se manter muito bem. A chave é a produtividade”, ensina.

“Os preços ficam altos porque se produz pouco. E como a demanda é alta, os preços sobem para o consumidor. Então, não são os insumos caros, mas a produção baixa que faz preços subirem. Então, precisamos investir em produtividade, aprendendo sobre a biologia de solo, fazendo manejo integrado de pragas”, diz.

Texto, Claudemir Hauptmann

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