O mês de novembro é azul. Mas o alerta para os homens é vermelho. No ano passado, por exemplo, o câncer de próstata matou 44 homens por dia no país, segundo dados do Ministério da Saúde. Já considerando os dados da 16ª Regional de Saúde, com sede em Apucarana, considerando os anos de 2021 e de 2022, um homem do Vale do Ivaí morre de câncer da próstata a cada nove dias.
E os homens continuam acomodados na tradição cultural de não dar muita bola aos frequentes alertas da área de saúde. O secretário de Saúde de Apucarana, Emidio Bachiega, por exemplo, não se faz de rogado e diz que sim, os homens continuam negligenciando a necessidade de fazer regularmente exames preventivos contra o câncer de próstata.
E como falar aos homens parece não surtir muitos efeitos, alguns médicos já recorrem ao lado mais culturalmente evoluído nos cuidados com a saúde, as mulheres. O médico urologista do Hospital da Providência, de Apucarana, Eduardo Feniman também se mostra preocupado com essa resistência que os homens alimentam contra os cuidados com a própria saúde. Ao falar sobre a campanha de prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata, ele tenta ampliar as chances de mobilização falando com as famílias, principalmente esposas e filhas. “O câncer de próstata é o que possui maior índice de cura quando tem seu diagnóstico precoce. Neste mês azul leve seu pai, seu esposo, trate seus familiares com carinho, leve-os para uma consulta médica prevenindo essa doença que acomete homens do Brasil inteiro”, diz.
“Gostaria de mandar um recado a todos os homens e familiares, nesse mês de maior cuidado com a saúde masculina e principalmente com o câncer de próstata, que é o principal entre os homens e tem tratamento com grandes índices de recuperação quando descoberto precocemente”, afirma o médico.
Feniman destaca que para a descoberta dessa neoplasia são feitos dois exames, que apontam a doença e permitem o tratamento. E o paciente, destaca, sempre deve ter voz e ser ouvido a respeito do que fazer.
“Precisamos fazer o toque retal, com um médico qualificado e o PSA, que são importantes para a prevenção. A decisão de tratamento e acompanhamento é em conjunto entre médico e paciente”
- Eduardo Feniman, urologista do Hospital da Providência
Nas a barreira do preconceito é importante nesse público. Um jornalista que já passou dos 60 anos, e que atua na região, pediu para não ser identificado. E confessa que, por conta de preconceito e por “não pensar muito nisso”, nunca fez o exame de toque retal. “A cada um ou dois anos, quando faço meus exames gerais, se o médico diz que está tudo bem, para mim, tudo bem. Na verdade, nunca o médico me pediu para fazer o exame de toque retal”, conta. E confirma que os tais exames de checkup são feitos com clínicos gerais. Ele não realiza consultas com urologistas.
Um profissional da área de saúde, acima dos 60, também admite que, por comodismo, acaba fazendo apenas o teste laboratorial. “Tenho feito apenas o PSA e sempre manteve muito baixo. Quando fiz o clínico, pela primeira vez, o médico me disse que estava bem e era para controlar pelo PSA. Se mantivesse a taxa baixa, não era para me preocupar. Me acomodei”.
Outro homem que atua profissionalmente na região, na área de segurança pública, admite “dificuldades culturais” para fazer o exame de toque retal. “Tenho a consciência que melhor seria fazer o exame e deixar o preconceito de lado. Mas ainda não fiz isso”, admite o agente de segurança, que já passou dos 50 anos.
O advogado Petrônio Cardoso, de Apucarana, que completou 54 anos nesta quarta-feira (23), diz que faz acompanhamento anual desde os 45 anos. “Preconceito não combina com saúde”, discursa. Para ele, a ideia de que “homem não chora” acaba criando “uma falsa sensação de invencibilidade, de imunidade”, diz e arremata: “O que é um grande erro”. Cardoso faz anualmente exames com cardiologista, com clínico geral e com o urologista. “Cuido da minha saúde porque tenho filhos para criar, quero ter netos e quero viver mais e melhor cada dia”, justifica.
Outro que faz regularmente os exames preventivos, inclusive o de toque retal, é o prefeito de Ivaiporã, Carlos Gil. Ele conta que reserva o mês de março de cada ano para realizar todos os exames de saúde. Livre de preconceitos e consciente da importância dos cuidados, Gil deixa bem claro que também faz esse checkup anual com o urologista, quando faz os dois exames preventivos do câncer de próstata. “Faço junto com meu checkup anual”, informa.
MORTALIDADE NO PAÍS
O câncer de próstata é o mais incidente no homem (excluindo-se o câncer de pele não melanoma) e o segundo que mais mata, atrás do câncer de pulmão. Dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde revelam que, de 2019 a 2021, foram mais de 47 mil óbitos em razão desse tipo de tumor.
No ano passado, 16.055 homens morreram em consequência da doença, o que corresponde a cerca de 44 mortes por dia. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 65.840 novos casos de câncer de próstata em 2022.
UMA MORTE A CADA NOVE DIAS NA REGIÃO
De acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade, da Divisão de Informações Epidemiológicas da Secretaria de Estado da Saúde, a Regional de Saúde de Apucarana, que atende 14 municípios, registrou 74 mortes por câncer de próstata ao longo de 2021 e nesse ano, até o dia 18 de novembro. Foram 39 mortes em 2021 e 35 nesse ano, até a última sexta-feira (18). É como se um homem morresse da doença a cada nove dias, no Vale do Ivaí.
Das 39 mortes registradas na regional em 2021, 15 delas foram em Apucarana e oito em Arapongas. Além delas, registraram duas mortes no ano as cidades de Bom Sucesso, Califórnia, Jandaia do Sul, Marilândia do Sul e Mauá da Serra. Com um caso no ano, aparecem as cidades de Borrazópolis, Cambira, Kaloré, Novo Itacolomi, Rio Bom e São Pedro do Ivaí.
Nesse ano, a Regional já registrou 35 mortes, sendo 12 delas em Apucarana, oito em Arapongas e três em Rio Bom. As cidades de Borrazópolis, Marilândia, Marumbi e Novo Itacolomi registraram, cada uma, duas mortes provocadas pela doença nesse ano. Com uma morte cada no ano, aparecem ainda Bom Sucesso, Califórnia, Cambira e Jandaia do Sul.
Ainda de acordo com o levantamento do Sistema de Informações sobre Mortalidade, praticamente a totalidade dos casos se dão entre homens acima dos 60 anos, com os picos aparecendo nas faixas etárias entre 70 e 79 anos e para homens com mais de 80 anos. De todas as 74 mortes registradas nesses dois anos, apenas dois casos, um em cada ano, foram registrados na faixa etária entre 50 e 59 anos.
Por, Claudemir Hauptmann
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