A temporada pandêmica de prêmios hollywoodianos chegou ao fim neste domingo, com a 93ª edição do Oscar, que foi bastante previsível até seus minutos finais. Quebrando a tradição, o prêmio de melhor filme foi anunciado antes dos de ator e atriz, e fez desta a grande noite de “Nomadland”, que levou a estatueta máxima e as de direção, para Chloé Zhao, e de atriz, para Frances McDormand.
Logo após a protagonista do longa receber o prêmio, no entanto, uma grande surpresa. Chadwick Boseman, que parecia destinado a receber um Oscar póstumo por “A Voz Suprema do Blues”, perdeu para Anthony Hopkins, de “Meu Pai”, que se tornou o ator mais velho a vencer, aos 83 anos.
A cerimônia e a mudança na ordem de categorias pareciam pensadas para um encerramento catártico, em homenagem ao astro de “Pantera Negra”, mas os votantes quiseram um desfecho diferente.
Também foi um Oscar de marcos históricos. Ao levar a estatueta de direçkão, a chinesa Chloé Zhao se tornou apenas a segunda mulher na história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas a sair vitoriosa na categoria, ao lado de Kathryn Bigelow, por “Guerra ao Terror”, em 2009.
Ela também foi a primeira mulher não branca indicada e, portanto, vencedora. Ao lado do sul-coreano Bong Joon-ho, que ganhou no ano passado por “Parasita”, e da leva de cineastas mexicanos vitoriosos nos últimos anos, Zhao mostra que a Academia está, mais do que nunca, de olho nos talentos internacionais.
Esses fatos, sozinhos, foram responsáveis por fazer desta uma cerimônia histórica, dando força aos ventos de mudança que sopram sobre a organização desde a adoção de políticas pró-diversidade e a eclosão de movimentos como o MeToo e o #OscarsSoWhite.
Não foi tão histórica, no entanto, a trajetória das plataformas de streaming, neste ano em que a Academia mudou suas regras para tornar longas lançados diretamente no sob demanda elegíveis –uma exceção pandêmica.
A Netflix tinha duas fortes chances de finalmente faturar o troféu de filme, com “Mank” e “Os 7 de Chicago”, mas ambos vinham perdendo força nos últimos meses. O último, aliás, acabou totalmente esquecido, apesar de ser o tipo de história que tradicionalmente agrada à Academia. Com isso, a Netflix triunfou apenas em categorias técnicas. Ainda assim, foi o estúdio mais celebrado da noite.
A festa de entrega dos homenzinhos dourados começou no tapete vermelho, que ocorreu em paralelo a um pré-show com performances das músicas indicadas a canção original. Regina King, então, entrou na Union Station para começar os anúncios.
Ela fez questão de deixar claro que a noite de gala, cheia de exceções por causa da pandemia, era à prova de Covid –os que estavam presentes no amplo saguão da estação de trem, sem máscara, foram vacinados, testados, testados novamente e orientados a manter distância dos colegas.
Foi uma cerimônia com pouco glamour e espetáculo, mas muito mais intimista e calorosa do que poderíamos ter imaginado em meio a uma pandemia. Também foi um evento de celebração da diversidade, que deixou claro que Hollywood quer mudanças. Várias menções foram feitas ao assassinato de George Floyd, vale ressaltar.
Quando McDormand e Hopkins receberam os prêmios de atriz e ator, no entanto, uma marca histórica importantíssima deixou de ser alcançada. Este poderia ter sido o primeiro Oscar com apenas atores não brancos triunfando nas quatro categorias de atuação.
McDormand recebeu seu terceiro Oscar e ficou à frente de Carey Mulligan, de “Bela Vingança”, que ganhou o Spirit, de Viola Davis, de “A Voz Suprema do Blues”, que conquistou o SAG, de Andra Day, de “The United States vs. Billie Holiday”, que levou o Globo de Ouro, e de Vanessa Kirby, de “Pieces of a Woman”, que embolsou a Coppa Volpi no Festival de Veneza. Era uma corrida dificílima.
Entre os coadjuvantes, no entanto, a diversidade falou alto. Youn Yuh-jung, de “Minari”, dominou a temporada e a encerrou com o Oscar de atriz coadjuvante. A escolha fez dela a segunda atriz deascendência asiática e a primeira sul-coreana a levar a estatueta –antes, apenas a nipo-americana Miyoshi Umeki, em 1958, havia conseguido.
Glenn Close, enquanto isso, bateu um recorde ruim. Indicada pela oitava vez por “Era uma Vez um Sonho”, ela empatou com Peter O’Toole como o ator ou atriz com mais nomeações frustradas na história.
Na categoria de ator coadjuvante, Daniel Kaluuya também confirmou o favoritismo, levando o prêmio pelo trabalho em “Judas e o Messias Negro”. Mesmo que o quarteto fantástico da diversidade não tenha se formado, as duas vitórias já sugerem mudanças na Academia e na indústria.
Entre os roteiros premiados, “Bela Vingança”, escrito e também dirigido por Emerald Fennell, ficou com a estatueta entre os originais. A vitória foi a primeira para uma mulher na categoria em 13 anos. O roteiro adaptado vencedor foi o de “Meu Pai”, numa disputa na qual “Nomadland” vinha forte.
A produção é uma releitura da peça escrita e agora adaptada pelo dramaturgo francês Florian Zeller.Categoria na qual o Brasil mais uma vez ficou de fora, a de melhor filme internacional premiou o dinamarquês “Druk – Mais uma Rodada”. Thomas Vinterberg, também indicado em direção, recebeu o troféu e o dedicou à filha, morta num acidente. Foi a quarta vitória da Dinamarca.
Provavelmente a mais previsível das categorias deste ano, a de melhor animação laureou “Soul”, primeirofilme da Pixar com um protagonista negro. Um esforço em prol da diversidade que foi bem recompensado –mas, no palco, foram produtores brancos que aceitaram o tão cobiçado troféu.
A animação também ficou com o troféu de trilha sonora, enquanto o de canção original foi para a nova estrela do R&B H.E.R., que compôs e cantou “Fight for You”, de “Judas e o Messias Negro”. A decisão da Academia foi um choque para Diane Warren –que não disfarçou o incômodo–, que estava em sua 12ª indicação ao Oscar, mas nunca encostou num dos homenzinhos dourados.
Na seção técnica da premiação, a equipe de “A Voz Suprema do Blues” foi a primeira composta por artistas negros indicada e, agora, vencedora do Oscar de cabelo e maquiagem, fato destacado e aplaudido no discurso de agradecimento. O longa também levou o Oscar de figurino.
“Tenet” saiu vitorioso em melhores efeitos especiais. “Mank”, em direção de arte e fotografia, desapontando a equipe de “Nomadland”, filme que com suas belas paisagens era o grande favorito. “O Som do Silêncio” ficou com melhor montagem e som.
Houve poucas surpresas na seção de curtas-metragens, muito politizada. “Dois Estranhos”, sobre violência policial, foi escolhido em melhor curta, enquanto “Se Algo Acontecer… Te Amo”, que fala sobre tiroteios em escolas, e “Colette” ganharam nas categorias equivalentes de animação e documentário, nesta ordem. O documentário em longa-metragem premiado foi “Professor Polvo”.
TODOS OS VENCEDORES DO OSCAR DE 2021
Melhor filme
“Nomadland”*
Melhor direçãoChloé Zhao, “Nomadland”*
Melhor atorAnthony Hopkins, “Meu Pai”*
Melhor atrizFrances McDormand, “Nomadland”*
Melhor ator coadjuvanteDaniel Kaluuya, “Judas e o Messias Negro”*
Melhor atriz coadjuvanteYoun Yuh-jung, “Minari”*
Melhor roteiro adaptado“Meu Pai”*
Melhor roteiro original“Bela Vingança”*
Melhor figurino“A Voz Suprema do Blues”*
Melhor trilha sonora“Soul”*
Melhor curta-metragem“Dois Estranhos”*
Melhor curta-metragem em animação“Se Algo Acontecer… Te Amo”*
Melhor som“O Som do Silêncio”*
Melhor animação“Soul”*
Melhor fotografia“Mank”*
Melhor documentário“Professor Polvo”*
Melhor documentário em curta-metragem“Colette”*
Melhor montagem“O Som do Silêncio”*
Melhor filme internacional“Druk – Mais uma Rodada” (Dinamarca)*
Melhor cabelo e maquiagem“A Voz Suprema do Blues”*
Melhor canção original“Fight for You”, de “Judas e o Messias Negro”*
Melhor direção de arte“Mank”*
Melhores efeitos especiais“Tenet”*
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